Pesquisa e Inovação

Coletânea apresenta metodologia inovadora de tradução de teatro

Método desenvolvido na UFMG possibilitam que sejam feitos exercícios de dramaturgia e montagem ainda durante o processo de conversão do texto

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Já está disponível nas livrarias a coletânea de ensaios Teatro e tradução de teatro (estudos) vol. 1, organizada pelas professoras da Faculdade de Letras (Fale) Tereza Virgínia Barbosa, Anna Palma e Ana Maria Chiarini e levada ao prelo pela Relicário Edições. Reunidos, os textos proporcionam acesso a uma inovadora metodologia de tradução de teatro, em que exercícios de dramaturgia são realizados ainda durante o processo de tradução.

Por essa metodologia, o texto traduzido só se consolida no papel depois de os atores testarem e colaborarem na lapidação de cada uma das soluções propostas pelo tradutor. Com a estratégia, busca-se evitar que o produto final comprometa a encenabilidade prevista no texto original.

O volume será relançado nesta terça-feira, 21, às 19h30, no Teatro da Cidade, que fica na Rua da Bahia, 1.341, no Centro. Na ocasião, ocorrerá no local o evento Eurípides em pedaços (ao molho Lísias), que serão apresentadas esquetes teatrais. A entrada é franca, limitada à quantidade de lugares no teatro.

A ideia por trás desse processo tradutório é a de que o lugar por excelência do teatro é o palco, e não a página do livro. “Construímos essa metodologia horizontalmente, unindo a Fale e a Escola de Belas Artes (EBA), a partir de 2009. Foi um processo do qual participaram professores e alunos de graduação e pós-graduação”, explica Tereza Virgínia.

Devido ao seu arrojo transdisciplinar, só agora o método está começando a ser mais aceito no Brasil, explica a professora, apesar de já ser praticado há algum tempo no exterior. “Agora, não há mais como fugir. No meu ponto de vista, não faz mais sentido traduzir teatro sem fazer dramaturgia nesse processo”, afirma.

Na imagem, a atriz Andréia Garavello interpreta Medeia em versão do clássico estabelecida através do método colaborativo de tradução Foto: Melissa Oliveira
Atriz Andréia Garavello interpreta Medeia em versão do clássico estabelecida por meio do método colaborativo de traduçãoFoto: Melissa Oliveira

Tereza Virgínia conta que a junção de competências é a base dessa metodologia de tradução. “Quem atua na área de letras não tem a mesma habilidade dos pesquisadores e atores das artes cênicas para pensar o texto em sua prática dramatúrgica. De igual modo, quem atua com artes cênicas não tem a capacitação de quem atua na área de letras para trabalhar o estabelecimento do texto no papel. Trabalhar juntos possibilitou o nivelamento das diferenças”, defende.

“Em razão desse investimento em se considerar a encenabilidade, a gente já não traduz mais como alguém da Fale. A gente traduz, fala, testa, refaz, realiza os movimentos, testa novamente, para só depois chegar ao texto definitivo. Nesse sentido, realizamos uma tradução que já nasce como dramaturgia, de forma a pôr fim na antiga polêmica de o texto escrito não ‘significar’ o teatro”, explica.

Tradução em movimento
Os ensaios reunidos no volume compilam os resultados de estudos apresentados inicialmente no primeiro semestre de 2016, durante um colóquio realizado pelo Grupo de Tradução de Teatro (GTT), na Fale. Naquela ocasião, a pretensão era justamente alargar os horizontes das pesquisas realizadas pelo grupo sobre essa nova modalidade de tradução e projetar internacionalmente suas atividades.

O volume traz ensaios de pesquisadores da Argentina, do Chile, de Cuba, da Grécia, da Espanha, dos Estados Unidos e da Itália, além de brasileiros. Seus 17 textos reúnem casos de tradução, trabalhos comparativos na área e abordagens de temas mais específicos, como a relação do teatro com a poesia, com a dança e com a filosofia.

Na orelha do volume, a professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Andréia Guerini lembra que esses artigos foram escritos “não somente por reconhecidos pesquisadores nacionais e internacionais, mas também [por] alunos, atores, produtores, diretores de cena e músicos”. Ao tratarem dessa ideia de “tradução em movimento”, diz Guerini, esses “atores” alargam o “horizonte teórico e prático” da tradução.

A editora da Relicário, Maíra Nassif, explica que o volume 2, que será lançado em breve, trará uma amostra de peças traduzidas por meio dessa metodologia. “A obra contará com textos de Dario Fo, Stefano Benni, Enzo Moscato e Isidora Stevenson”, antecipa.

Livro: Teatro e tradução de teatro (estudos). Vol. 1
Orgs.: Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa, Anna Palma e Ana Maria Chiarini
Relicário Edições
304 páginas / R$ 38

Relançamento: terça-feira, 21, às 19h30, no Teatro da Cidade: Rua da Bahia, 1.341, no Centro

Ewerton Martins Ribeiro / Boletim 2000