Notícias Externas

Pandemia é ainda mais dura com os imigrantes

Programa 'Outra estação', da Rádio UFMG Educativa, mostra que estrangeiros enfrentam dificuldades de acesso ao sistema de saúde e a auxílios econômicos

De 2011 a 2018, o Brasil registrou mais de 770 mil imigrantes, segundo o último relatório do Observatório das Migrações Internacionais, órgão ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Esse dado leva em conta apenas estrangeiros que estão em situação legal no país, o que significa que há muito mais gente de fora vivendo por aqui.

Os imigrantes que vivem no Brasil, muitas vezes, têm pouco domínio da língua portuguesa, não dispõem de informações suficientes sobre como funciona o sistema de saúde brasileiro e são majoritariamente trabalhadores informais. Ainda assim, não têm recebido quase nenhuma atenção por parte do governo para enfrentarem o período de pandemia do coronavírus. Diante disso, resta a essa população contar com a solidariedade que vem de diferentes lugares: de universidades, como a UFMG, da sociedade civil e da própria população imigrante. 

A edição desta semana do programa Outra estação, da Rádio UFMG Educativa, ouviu imigrantes que moram em Belo Horizonte, especialistas e representantes de organizações civis. Eles falaram sobre os impactos da Covid-19 para os imigrantes e refugiados. O programa também traz exemplos de iniciativas que têm ajudado essa parcela da população a sobreviver neste momento difícil.


"Somos nós por nós"

“A gente fica fechado, sozinho. Dá muita saudade da família. Estou trabalhando em horários reduzidos, está tudo muito difícil.”

Uma das entrevistadas é Benediction Kipuni, que veio da República Democrática do Congo há quatro anos. Ela trabalha como professora de francês e inglês, como maquiadora e como costureira e viu suas atividades se reduzirem significativamente com a pandemia do coronavírus.

Benediction Kipuni nasceu na República Democrática do Congo e veio para o Brasil há 4 anos
A congolesa Benediction Kipuni está no Brasil há quatro anos Arquivo pessoal
“Somos nós por nós. Estou inventando o que fazer para criar renda.”

O programa também ouviu Marinela Herrera, artesã peruana que vive no Brasil há 20 anos. Ela chegou com o propósito de conhecer o país e acabou ficando. Assim como Benediction Kipuni, Marinela relata que está passando por momentos difíceis por conta dos impactos financeiros decorrentes da pandemia e fala da falta de atenção do poder público em relação à população imigrante.

A artesã peruana Marinela Herrera teve seu trabalho impactado pelo cancelamento de feiras e outros eventos
A artesã peruana Marinela Herrera teve seu trabalho impactado pelo cancelamento de feiras e outros eventos Arquivo pessoal

Além do relato de imigrantes, o primeiro bloco do programa traz a análise do professor Duval Fernandes, do Programa de Pós-graduação em Geografia da PUC Minas, e de Marcelo Lemos, coordenador do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados de Belo Horizonte.

Solidariedade
A segunda parte do Outra estação é dedicada a iniciativas solidárias para a população imigrante. Criada pelo jornalista haitiano Silencier Charles, que vive no Brasil há seis anos, a Associação dos Haitianos de Contagem, por exemplo, tem atuado em frentes como distribuição de álcool em gel e divulgação de informações sobre prevenção à Covid-19. 

Outra iniciativa criada pela própria comunidade estrangeira no Brasil é o Cio da Terra –Coletivo de Mulheres Imigrantes de Belo Horizonte. O grupo existe desde 2017 para garantir a efetivação de direitos de mulheres imigrantes e é composto principalmente daquelas que trabalham como autônomas. Suas integrantes têm sofrido os impactos do cancelamento de feiras e outros eventos que funcionavam como vitrines para a venda de produtos. Para lidar com a crise do coronavírus, elas criaram uma lojinha virtual e estão fazendo uma vaquinha para arrecadar recursos.

O Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR) também tem atuado em várias frentes neste período de pandemia – da distribuição de cestas básicas e kits de higiene à ajuda no cadastro de imigrantes em programas governamentais, como o de auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal e o de cestas básicas da Prefeitura de BH para famílias com crianças em escolas.

Na UFMG, o Grupo de Estudos Cognição, Imigração e Refúgio (Geceir), coordenado pela professora Luciane Corrêa Ferreira, da Faculdade de Letras, oferece, por meio do cursinho Pró-Imigrantes, aulas gratuitas, pelo WhatsApp, de preparação para o Enem para imigrantes e refugiados. O Geceir também tem trabalhado na distribuição de cestas básicas, no apadrinhamento para doação de máscaras e na divulgação de informações para a população imigrante em diferentes idiomas. 

Mulheres do coletivo Cio da Terra
Mulheres do coletivo Cio da Terra Arquivo pessoal

A Rádio UFMG Educativa também ouviu o coordenador do Projeto Canicas, Fabio Ando Filho. O projeto atua em São Paulo, mas tem divulgado conteúdos em suas redes sociais que são úteis para imigrantes e refugiados de todo o país.

Ouça a entrevista com Fábio Andó Filho

Serviço

– Migrantes e/ou refugiados(as) podem participar do Cadastro de Avaliação para Assistência Emergencial do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados – BH, devido à pandemia de Covid-19. O levantamento está sendo realizado pelo setor de Integração Social do SJMR-BH. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 99210-3434. 

– No site da Prefeitura de Belo Horizonte, é possível tirar dúvidas sobre a distribuição de cestas básicas para pessoas em situação de vulnerabilidade.

– Informações sobre o auxílio emergencial de R$ 600 que está sendo pago pelo Governo Federal estão disponíveis no site da Caixa

– As inscrições para o cursinho popular Pró-Imigrantes ainda estão abertas e devem ser feitas pelo e-mail proimigrantes@gmail.com.

– Pílulas sobre o uso de máscaras são produzidas, em parceria, pela Faculdade de Letras da UFMG e o Amerek (em português, francês, espanhol e creole).

Para saber mais
Nova Lei de Migração
Relatórios do Observatório das Migrações Internacionais
Site do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur)
Site da Sedese

Produção
O episódio 40 do programa Outra estação é apresentado por Breno Benevides, e a produção é de Breno Benevides, Camila Meira e Paula Alkmim. A edição e a coordenação de jornalismo são de Paula Alkmim. Os trabalhos técnicos foram conduzidos por Breno Rodrigues.

O programa Outra estação aborda, semanalmente, um tema de interesse social. Na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM), vai ao ar às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h30. O conteúdo também está disponível nos aplicativos de podcast, como o Spotify.