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Compra de vacinas pela rede privada pode prejudicar atuação do SUS na imunização da população

ABCVAC negocia compra de cinco milhões de doses do imunizante Covaxin, contra a covid-19

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. Foto: Lisa Ferdinando / Fotos publicas / CC BY-NC 2.0

No último dia 3, a Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC) anunciou negociação de compra de cinco milhões de doses do imunizante Covaxin, vacina contra a covid-19, desenvolvida pelo laboratório indiano Bharat Biotech. A ABCVAC planeja distribuir as doses para clínicas privadas no Brasil, com o intuito de comercializar para a população. A vacina que não está sendo testada no Brasil, está na terceira fase de testes na Índia, que é quando se verifica a eficácia. Até o momento, o imunizante mostrou produção de anticorpos contra covid-19, apresentando efeitos colaterais leves. Por aqui, depende ainda da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na sequência, se tudo ocorrer como planejado, a Índia divulgará os resultados das pesquisas ainda em neste mês, a ABCVAC entra com pedido de autorização em fevereiro e a imunização começa em março.

O cenário parece promissor, mas cinco milhões de doses representa uma baixa porcentagem da população brasileira e entra em conflito com o caráter coletivo da vacinação, como destaca a professora da Faculdade de Medicina da UFMG e membro da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) Eli Iola Gurgel Andrade. "É preciso que esse programa seja feito com a seriedade e a metodologia de um programa de saúde pública. Não é apenas a pessoa vacinar, mas o acompanhamento da vacinação e do resultado". Ou seja, a vacina só tem eficácia coletivamente na medida em que mantém o nível de imunidade social. "Para isso, é preciso um programa permanente. Não se pode, por exemplo, fracionar um programa de vacinação. Por isso, ele tem um custo social, econômico e financeiro relevante. Vacina é um programa tradicional e histórico de saúde pública e saúde coletiva", explica a professora.

Outro ponto fundamental é a falta de coordenação nacional e um plano claro de imunização por parte do Ministério da Saúde junto ao Governo Federal. "Nós estamos dizendo desde o início da pandemia no Brasil que a ausência de um coordenação do Ministério da Saúde e da presidência da república vão em confronto com as medidas necessárias de coesão e solidariedade que a pandemia exige de todos os governos", explica Eli Iola. 

Além disso, a compra de vacinas pela rede privada pode prejudicar a aquisição e distribuição da vacina pela rede pública. "Pode interferir tanto no suprimento como nos preços  que elas elas chegarão aos governos", revela Eli Iola Gurgel Andrade. Ela relembra ainda da Covax, coalizão mais de 170 países reunidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para garantir e preservar a cobertura nacional para os países e suas prioridades dentro de cada um deles.

A professora da Faculdade de Medicina da UFMG e membro da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) Eli Iola Gurgel Andrade participou do programa Conexões e falou também como a compra de vacinas pela rede privada pode aumentar a desigualdade no país e sobre o avanço da mutação do vírus. 

Ouça a conversa com Luíza Glória

Produção: Jaiane Souza e Luiza Glória

Publicação: Jaiane Souza