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Comunidade da UFMG celebra Orgulho LGBTQIA+ em tempos de pandemia

Pesquisadores do NuH e a coordenação da Parada de Belo Horizonte avaliam o contexto da data no mundo pós-coronavírus

O ano de 2020 vem sendo marcado por intensas mudanças nas relações. Para o efetivo combate à pandemia do novo coronavírus, há a necessidade de isolamento e distanciamento sociais. Apesar de todos serem afetados, grupos marginalizados socialmente que têm nas ruas seu espaço de luta por direitos veem-se especialmente afligidos. Como manter a luta LGBTQIA+ para além dos ambientes físicos?

A situação de vulnerabilidade e o desafio do isolamento afetam a comunidade formada por lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros, queers, intersexuais, assexuais e demais grupos, entre as diversas identidades de gênero e de orientação sexual: No último domingo, 28, comemorou-se o Dia do Orgulho LGBTQIA+. Em 2020, o movimento celebrou 30 anos desde que a homossexualidade deixou de ser classificada como doença pela Organização Mundial da Saúde, após intenso ativismo.

Também neste ano, outra vitória: decisão histórica do Supremo Tribunal Federal (STF), em 9 de maio, reduziu as ações institucionalizadas de opressão aos LGBTQIA+. O esgotamento em bancos de sangue motivou, pela primeira vez, que homens que fazem sexo com homens passassem a ter o sangue aceito para doações. Apesar disso, o grupo segue discriminado nos demais espaços – em especial, durante a quarentena. A avaliação é do relatório do coletivo Vote LGBT. Elaborado com participação de pesquisadores da UFMG, o diagnóstico conclui que os efeitos negativos do isolamento afetam mais os LGBTs+ do que os heterossexuais e cisgêneros.

Insegurança em casa
De acordo com o coordenador do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT da UFMG (NuH), Marco Aurélio Prado, o universo LGBT+ é caracterizado por uma diversidade de vivências e contextos raciais, técnicos e sociais. Por conta disso, o isolamento imposto à comunidade pela pandemia põe algumas pessoas em uma situação ambivalente. Ao mesmo tempo que se mantêm protegidas contra o coronavírus, vivem em risco por dividirem em tempo integral o mesmo espaço físico com sujeitos LGBQTIA+fóbicos – pessoas que optam pela prática do descrédito, da opressão e violência contra as vidas dos não heterossexuais e dos não cisgêneros.

Na capital mineira, o Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos/MG), organizador da Parada do Orgulho LGBT de BH, tem sofrido com dificuldades para manter as ações de proteção aos LGBTQIA+, sem as possibilidades de mobilização e agrupamentos sociais físicos. Em abril, o movimento associou-se a outras 180 entidades mineiras para solicitar ao governo do estado providências para garantia de renda básica, direitos e saúde pública a grupos vulneráveis. Além disso, a entidade promoveu em junho, mês do Orgulho LGBTQIA+, transmissões de vídeo em tempo real, por meio dos seus perfis nas redes sociais.

Ativistas virtuais
A ação virtual do Cellos/MG se soma aos eventos virtuais dos movimentos da causa nos tempos de pandemia. Segundo a professora Joana Ziller, do Departamento de Comunicação Social da UFMG e pesquisadora do NuH, não parece ser mais possível diferenciar o físico e o virtual, o on-line e o off-line. Além disso, manifestações virtuais impactam o mundo off-line e o modificam, diferentemente do que muitos pensam, ao chamá-las de “ativismo de sofá”.

Apesar de reconhecer a força e a importância de tais movimentos virtuais, o Cellos/MG decidiu adiar a 22ª edição da Parada LGBT de BH. A ideia é marcar nova data, quando ela puder ser realizada fisicamente, e manter o ativismo virtual, por meio da Jornada pela Cidadania LGBT. Em São Paulo, a Parada do Orgulho LGBT, um dos maiores protestos sociais do mundo, ocorreu de forma virtual neste ano.

Independentemente do espaço de manifestação, seja ele físico (quando for permitido pelas autoridades sanitárias) ou virtual, Marco Aurélio Prado afirma que o importante é manter a luta social por mudanças e por igualdade e celebrar o orgulho de ser LGBTQIA+. 

No Brasil, mesmo após a criminalização da homofobia pelo STF, em 2019, pelo menos uma pessoa LGBTQIA+ é assassinada a cada 16 horas, de acordo com relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. “A heterossexualidade não precisa de um dia de orgulho, porque ela é todos os dias referendada e reiterada em suas práticas sociais. Portanto, quem precisa de um dia de orgulho é exatamente a população LGBT, que vem sendo historicamente discriminada na sociedade brasileira”, finaliza Prado.

Artigo
Os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIA+ em tempos de pandemia também foram abordados no artigo Fora do armário e dentro de casa?, de autoria dos pesquisadores Marcelo Maciel Ramos, Pedro Augusto Gravatá Nicolie Caio Benevides Pedra, do Diverso UFMG – Núcleo Jurídico de Diversidade Sexual e de Gênero, que integra a Rede Direitos Humanos da UFMG.

Orgulho de ser LGBTQIA+ na UFMG


Para celebrar o orgulho LGBTQIA+, grupos da Universidade compartilharam conteúdos especiais no último domingo. Veja alguns:

Professoras e professores LGBT+ da Faculdade de Direito
Docentes enviaram carta aos estudantes. Leia aqui.

Carta aberta e orgulhosa de professoras e professores LGBT+ para estudantes LGBT+ da Faculdade de Direito da UFMG
Carta aberta e orgulhosa de professoras e professores LGBT+ para estudantes LGBT+ da Faculdade de Direito da UFMG Reprodução / Faculdade de Direito


Diretoria de Ação Cultural (DAC) 
Vídeo de uma das iniciativas culturais realizadas durante a pandemia foi publicado no Facebook.

#VoteLGBT
Coletivo de representatividade de LGBTs+, com participação do doutorando em demografia pela UFMG Samuel Silva, divulgou os resultados do Diagnóstico LGBT+ na pandemia nas redes sociais e no site do movimento.

Faculdade de Medicina
A Unidade anunciou, em seu perfil no Twitter, que produzirá conteúdos sobre igualdade ao longo desta semana. Leia aqui.

Semana de conteúdos de Orgulho LGBT é anunciada pela Faculdade de Medicina UFMG
Semana de conteúdos de Orgulho LGBT é anunciada pela Faculdade de Medicina UFMG Reprodução / Faculdade de Medicina

Associação Atlética Esportiva dos Estudantes da Escola de Engenharia da UFMG (Grifo)
O Grifo UFMG compartilhou reflexão, em seu perfil no Twitter, sobre a importância da Data do Orgulho LGBTQIA+. Leia aqui.

Associação Atlética da Universidade explica a origem do Dia do Orgulho LGBT+
Associação Atlética da Universidade explica a origem do Dia do Orgulho LGBT+ Reprodução / Grifo UFMG

Sindifes
O Sindicato dos Trabalhadores nas Instituições Federais de Ensino publicou vídeo sobre a data em sua página no Facebook. Assista aqui.

Apubh
O Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouro Branco publicou estudo da UFMG e da Unicamp sobre as vulnerabilidades da comunidade LGBTQIA+.

Ruleandson do Carmo