Pesquisa e Inovação

Congresso sobre presença feminina na ciência reabre inscrições neste domingo

Mais 200 vagas serão ofertadas; evento discutirá, em agosto, desigualdades de gênero na academia numa perspectiva multidisciplinar

Congresso terá apresentação de trabalhos científicos produzidos por mulheres
Congresso abrigará trabalhos produzidos por mulheres e discussões sobre desigualdade de gêneroFoca Lisboa / UFMG

Evento sobre a inserção das mulheres na ciência e seus desafios terá inscrições reabertas a partir deste domingo, 15 de julho. A primeira edição do Congresso de Mulheres na Ciência da UFMG será realizada de 27 a 31 de agosto e tem o objetivo de discutir a desigualdade de gênero na academia, incentivar mulheres a seguir a carreira acadêmica e divulgar os trabalhos de diversas pesquisadoras.

 “O evento é uma oportunidade para refletirmos sobre a organização das mulheres nas ciências", afirma a professora Andréa Mara Macedo, ex-diretora do ICB.  Segundo ela, o currículo não contém apenas a produção quantitativa de um pesquisador, havendo nele o que chama de "componente oculto”, ou seja, a forma como os pares percebem o currículo do outro. “Se há dois cientistas, um homem e uma mulher, a percepção do currículo do homem gera mais impacto”, explica a professora. 

A iniciativa é de estudantes de graduação do curso de Ciências Biológicas do ICB. Para auxiliar as discussões, haverá, ao fim de cada dia do congresso, uma mesa redonda reflexiva. Histórico de mulheres apagadas na ciência, Maternidade na carreira acadêmica, O machismo sistêmico nas ciências exatas, Mulheres negras na ciência e Visão geral: o machismo na ciência são os temas das cinco mesas-redondas que compõem a programação.

A pró-reitora de Extensão, Cláudia Mayorga, professora do Departamento de Psicologia da Fafich, vai participar da mesa-redonda Histórico de mulheres apagadas na ciência, na qual abordará a invisibilidade de algumas mulheres em diversas áreas acadêmicas e fará um histórico a respeito de como elas têm participado e contribuído para o avanço científico no país. "A desigualdade de gênero está presente em todos os espaços da sociedade, inclusive nas ciências. Isso preciso ser discutido. É urgente pensar um fazer científico mais inclusivo", defende.

Mundo masculino
A pró-reitora adjunta de Pós-graduação, Silvia Helena Paixão Alencar, professora do Departamento de Física, vai integrar a mesa O machismo sistêmico nas ciências exatas. Segundo ela, as ciências exatas são um mundo masculinizado. “No Departamento de Física, onde trabalham aproximadamente 70 pesquisadores, há apenas sete professoras. As mulheres têm capacidade para se destacarem na área, mas há muitas barreiras que precisam ser superadas”, afirma a professora.

Silvia Alencar identifica incoerências nos critérios de avaliação das agências de fomento. “Geralmente, são analisados os cinco últimos anos de produtividade, e esses critérios não levam em consideração o afastamento por licença maternidade”, explica Silvia, que além da participação na mesa redonda, também vai ministrar palestra sobre a pesquisa que desenvolve na área de Astrofísica.

Também estão confirmadas as participações da diretora da Academia Brasileira de Ciências, Márcia Barbosa, da presidente da Sociedade Brasileira de Genética, Márcia Maria Margis, e da vice-presidente da Sociedade Brasileira de Química, Rossimiriam Pereira, entre outras convidadas.

Para participar do congresso é necessário preencher o formulário de inscrição. Já foram realizadas 500 inscrições e serão disponibilizadas mais 200 vagas. O evento ocorrerá no Auditório Nobre do CAD1, campus Pampulha. A programação está disponível no site do congresso. Mais informações podem ser buscadas na página do Facebook ou pelo e-mail cmcufmg@gmail.com.

A iniciativa
Comparecer a eventos científicos temáticos e constatar a ausência de mulheres como palestrantes deixaram algumas alunas de graduação do curso de Ciências Biológicas da UFMG intrigadas. “Por que nos eventos de ciência a maioria dos palestrantes convidados são homens? Percebemos que é preciso mudar esse cenário. Durante nossa formação, participamos de vários congressos nos quais importantes pesquisadoras do tema abordado, com currículos extensos e renomadas, não foram chamadas para compor a programação”, explica Fernanda Trancoso, uma das idealizadoras do 1º Congresso de Mulheres na Ciência da UFMG. “Queremos incentivar e encorajar outras estudantes mulheres a seguir a carreira acadêmica”, destaca.

Inicialmente, as organizadoras do congresso pensavam realizar um evento direcionado para a área das Ciências Biológicas. No entanto, várias professoras que aderiram à ideia sugeriram que o convite fosse estendido a pesquisadoras de outras áreas. Elas perceberam, então, a necessidade de criar um espaço na UFMG para discutir a desigualdade de gênero numa perspectiva multidisciplinar. “Já existem alguns grupos de pesquisadoras da UFMG que se mobilizam para promover esse tipo de reflexão em suas áreas acadêmicas. O congresso pretende favorecer o diálogo e a troca de experiências entre esses grupos", informa Fernanda Trancoso.

A pró-reitora Cláudia Mayorga destaca o protagonismo das alunas que, atentas à  desigualdade de gênero na academia, abriram caminhos para uma discussão multidisciplinar. "É interessante envolver mulheres de outras áreas da ciência porque cada campo tem as suas especificidades em relação a esse tema”.

Até o momento, a organização do Congresso conseguiu mobilizar pesquisadoras das ciências biológicas, ciências exatas e ciências humanas e ainda busca a participação de representantes das demais áreas científicas. A recepção foi tão grande que, em apenas uma semana, as 500 primeiras vagas disponibilizadas foram preenchidas, o que ocasionou a abertura de uma segunda oferta.

Inserção feminina
A presença feminina na academia foi abordada em reportagem publicada no Portal UFMG, em março deste ano, por ocasião do Dia Internacional da Mulher. 

Cláudia Amorim