Extensão

Crianças 'invadem' primeiro Domingo no Campus de 2018

Atividades de lazer e convivência simbolizam intenção de ampliar sintonia com a sociedade

Atividades atraíram centenas de pessoas ao campus Pampulha
Atividades atraíram centenas de pessoas ao campus Pampulha Foca Lisboa / UFMG

O convite, feito pela UFMG para pessoas de todas as idades, foi atendido principalmente pelas crianças, que eram maioria em quase todas as atividades realizadas no campus Pampulha, neste dia 8, na 11ª edição do Domingo no campus.

Antes mesmo que o sol garantisse presença na manhã a princípio nublada, meninas e meninos de todas as idades deram vida ao Território de experimentação com água, organizado no Bosque da Música pelo Programa de Atenção Interdisciplinar ao Autismo (Praia). Elas também foram as primeiras a experimentar os sons dos tambores na oficina de intervenção musical com ritmistas de bloco carnavalesco, realizada na Praça de Serviços.

No gramado da Reitoria, de onde se viam bicicletas, bolas, skates, capacetes e outros equipamentos em movimento, a reitora Sandra Goulart Almeida comentou que o Domingo no Campus é uma forma de socializar o que é produzido na Instituição e de incorporar outros conhecimentos à Universidade.

“Quanto mais pudermos trazer a comunidade para dentro do campus, mais ela se sentirá parte desse projeto tão bonito, que é a UFMG”, enfatizou. “Desejamos que as pessoas comecem vindo aos domingos e que se tornem parte desse universo.”

Segundo a reitora, espaços transformados em áreas de lazer e de convivência simbolizam o que a Universidade deseja para a sua rotina. “Cito sempre Boaventura de Sousa Santos, que diz que a extensão não deve ser um apêndice, mas parte do fazer acadêmico. O Domingo no Campus é uma dessas ações que faz a Universidade manter-se sempre em sintonia com a sociedade na qual estamos inseridos”, disse.

A pró-reitora de Extensão, Cláudia Mayorga, compartilha desse pensamento. “Nosso campus é lindo, um local do qual as pessoas podem usufruir nos outros dias da semana.” Mais do que um espaço acadêmico, a UFMG é um ambiente que pode ser apropriado pela sociedade, ressalta. “A intenção é criar uma cultura de uso desse espaço para encontro e não estritamente para atividades de formato acadêmico.”

Autismo

Pedro Gabriel, com a mãe e o tio
Pedro Gabriel, com a mãe e o tio Júlia Duarte / UFMG

A princípio relutante, Pedro Gabriel, 12 anos, logo se integrou às atividades com água e sabão, em tobogã feito com lona. Até seus familiares entraram na brincadeira. A mãe, Bárbara Rodrigues dos Santos, e o tio, Flávio José dos Santos, fazem parte do grupo Unidos pelo autismo e souberam do evento pelas redes sociais. “Eu só havia entrado aqui uma vez, para ir à Faculdade de Odontologia. Nunca tinha visto o campus como um lugar de lazer para crianças. Agora sei que posso trazer meu filho mais vezes”, disse Bárbara.

O pequeno Davi, 4 anos, surpreendeu a mãe, Sabrina César, ao brincar tranquilamente com a espuma do tobogã improvisado. “Em casa, ele geralmente não gosta de lidar com espuma. Aqui ele está explorando, tendo contato com outras crianças”, comentou. Já o pai da criança, Mairo Gabriel, observou que o campus Pampulha tem muitos espaços para atividades livres que podem ser utilizados mesmo fora de eventos como o de hoje. 

A poucos metros das atividades com água, a aluna de Administração da UFMG Lídia Maciel fazia piquenique com a filha, Laura, de 5 anos, e o marido, Lázaro, graduado em Engenharia. “Eles dois usufruem regularmente do campus. Enquanto estou em aula, muitas vezes jogam baralho na Praça de Serviços ou andam de bicicleta”, comentou.

Isadora já participou de outras atividades no campus
Isadora já participou de outras atividades no campus Foca Lisboa / UFMG

A diversão era garantida, bastava ver a alegria no olhar da Isadora, de 9 anos, ao fazer sua própria bola de sabão gigante. “No próximo Domingo no Campus eu vou voltar!”, garantiu à mãe, Valdirene Martins, servidora do Hospital das Clínicas.

Crianças fizeram esculturas com elementos da natureza
Crianças fizeram esculturas com elementos da natureza Júlia Duarte / UFMG

Nas proximidades, trabalhando com folhas secas e materiais coloridos, as irmãs Luiza e Laura, de 6 e 5 anos, brincavam com o amigo Rafael, 6 anos, na oficina Fazendo arte com o redigir. A mãe, Glicilene Andrea Lopes da Silva, que não conhecia o campus, soube do evento pela internet, em site especializado para crianças. “Pretendo voltar com as crianças outras vezes”, disse.

Na oficina de tricô, Maria Clara, 10 anos, observava, interessada, as instruções da monitora Mary Takeda Barbosa. Sua mãe, Isabel Dias, elogiou a iniciativa da Universidade e o atendimento dos monitores: “É um evento diferente, cultural, que incentiva a sair do tradicional, do cotidiano. As atividades de lazer das crianças são, quase sempre, shopping e seriados”.

Na mesma oficina, Gabriela, 9 anos, contou que escolheu essa atividade porque aprende um pouco de tricô quando visita a avó. Único homem no grupo, Matheus Galvão, aluno do terceiro período de Direito na UFMG, também procurou o tricô como forma de homenagear a memória de sua avó materna. “Sinto saudades dela e quero ver se esse talento dela está um pouco em mim”, ponderou.

Andando pelo campus era possível ver vários animais de estimação também se divertindo e interagindo com os participantes. Foi assim com Thor e Max, “os meninos” de Yuri Alves, técnico do Laboratório de Instrumentação do Instituto de Ciências Exatas (ICEx). Yuri gosta de ver as pessoas aproveitando o campus e espera que haja mais edições do evento durante o ano.

Discussão de obra literária na Praça de Serviços
Discussão de obra literária na Praça de Serviços Júlia Duarte / UFMG

Em meio a tanta agitação, havia um cantinho sossegado na Praça de Serviços dedicado à literatura afro-brasileira. Na oficina Lendo o mundo, o livro Olhos d’água, da escritora Conceição Evaristo, era o destaque. Essa atividade coletiva, coordenada pela estudante de Letras Michelle Gontijo, foi escolhida por pessoas de outros países. O mexicano Emmanuel Vazquez, aluno de mestrado em Engenharia Mecânica da UFMG, escolheu a oficina para conhecer melhor a cultura do Brasil, assim como Yasmine Yahannes, intercambista de Economia que vive na Suíça. Ela também buscava aperfeiçoar seu português.

Tranquilidade também foi o que buscaram os participantes da oficina Criança também faz yoga!. Informados pela estudante de psicologia Maria Clara Vasconi que “yoga é uma forma de viver”, os pequenos começaram o dia com exercícios físicos e respiratórios. Os gêmeos João e Júlia, de 7 anos, não conheciam o campus e acompanharam a mãe, Maria Teresa Pazini, ex-aluna de Geologia da UFMG. “Aqui é legal, parece um parque”, comentou João.

Alis, de 5 anos, filha da servidora Ludmilla Pego, nunca havia participado do Domingo no Campus, mas já pratica yoga em casa. “Ela gosta, até baixou um aplicativo no tablet”, revelou a mãe. O mais novo do grupo, Antônio, de 9 meses, acompanha com interesse o pai, que é adepto dessa prática, diz a mãe, Ana Maria Santos.

Formação de cidadãos

Ana Clara quer ser intérprete de Libras
Ana Clara quer ser intérprete de Libras Júlia Duarte / UFMG

Na oficina Animais em Libras, a estudante de Pedagogia Carla Alves reunia interessados na Língua Brasileira de Sinais (Libras). “Quero fazer biologia e também ser intérprete de Libras”, informou Ana Clara, 12 anos. 

O monitor Rogério, do grupo Movimenta Brasil, apresentou noções de skate às gêmeas Bia e Bella, de 3 anos. “Além de ajudar no equilíbrio e na concentração, temos visto que o trabalho com o esporte forma cidadãos”, justificou ele, que é instrutor em parques públicos da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Percussão
No fim da manhã, depois de passar por outras oficinas, muitas crianças foram se aproximando dos instrumentos de percussão. Miguel, de um ano e dez meses, experimentou os sons sob os olhares do pai, Marden Campos, que é professor do Departamento de Sociologia, e da mãe, Luciana Avelar. “O campus é muito seguro para as crianças pequenas, e o evento de hoje foi muito organizado, com atividades diversificadas”, elogiaram.

Arthur, 4 anos, participou  da intervenção musical com o pai, Lindomar de Lima
Arthur, 4 anos, participou da intervenção musical com o pai, Lindomar de Lima Júlia Duarte / UFMG

O coordenador da atividade, professor José Marcos Nogueira, do Departamento de Ciência da Computação, explicou que o bloco carnavalesco Sexta, ninguém sabe existe há mais de quatro anos e é formado por várias pessoas da comunidade acadêmica, entre docentes e alunos. “Procuramos tocar música de qualidade, basicamente ritmos de samba, reggae, baião, funk.” A atividade foi uma das selecionadas em chamada pública, aberta em janeiro pela Pró-reitoria de Extensão. As 24 propostas recebidas comporão a programação do ano, que inclui duas outras edições do Domingo no Campus (10 de junho e 2 setembro). Além disso, Montes Claros vai abrigar, em 6 de maio, a sua primeira edição do Domingo no Campus.

Ágata, de 6 anos, participou da oficina de intervenção musical
Ágata, de 6 anos, participou da oficina de intervenção musical Júlia Duarte / UFMG

Apesar das limitações de movimento, Ágata, 6 anos, também participou da oficina de intervenção musical. Com os pais, Ana Lúcia Ramos e Marcos Martins, a criança experimentou, na cadeira de rodas, produzir sons ritmados sob o comando de Lauro Jr., integrante do bloco Sexta, ninguém sabe.

A TV UFMG também acompanhou a primeira edição do Domingo no Campus em 2018. Assista ao vídeo:

Ana Rita Araújo e Cláudia Amorim