Ensino

Dados estatísticos sobre a graduação compõem instrumento valioso para planejamento curricular

Nesta quarta, 16, fórum vai abordar valor das informações para autoavaliação e tomada de decisões nos cursos – por exemplo, sobre o planejamento do retorno gradual aos campi

A evolução dos conceitos nas diversas disciplinas é uma das informações dos relatórios
A evolução dos conceitos nas diversas disciplinas é uma das informações dos relatórios Setor de Estatística da Prograd

Gestores de cursos da UFMG como os de Fonoaudiologia e Gestão Pública têm lançado mão de relatórios produzidos pelo setor de Estatística da Pró-reitoria de Graduação (Prograd) para fazer avaliações internas e planejar suas ações pedagógicas. As experiências desses dois cursos serão relatadas durante o 19º fórum da série promovida pelo programa Integração Docente. O encontro será nesta quarta-feira, 16 de junho, das 14h às 15h30, com transmissão pelo canal da Coordenadoria de Ações Comunitárias (CAC) no YouTube, onde permanecerá disponível.

O encontro será aberto pela pró-reitora de Graduação, Benigna de Oliveira. Andréa Motta, integrante do Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso de Fonoaudiologia, e Eduardo Moreira, coordenador do colegiado do curso de Gestão Pública, vão partilhar experiências relacionadas ao aproveitamento dos dados estatísticos para a concepção e mudanças curriculares. Por fim, o pró-reitor adjunto, Bruno Teixeira, vai apresentar uma proposta de análise dos relatórios que reúnem dados referentes ao ano letivo de 2020, marcado pelo ensino remoto emergencial (ERE).

A condução de processos avaliativos destinados a retroalimentar os projetos acadêmicos é um dos princípios norteadores do Plano de Desenvolvimento Institucional da UFMG, lembra Bruno Teixeira. Para subsidiar esses processos, a Prograd produz, desde 2014, relatórios estatísticos com informações relevantes de diversas naturezas.

Dados preliminares sobre os dois últimos períodos letivos serão divulgados nas próximas semanas, informa o pró-reitor adjunto, que vai apresentar, durante o fórum, aspectos dos relatórios que, segundo ele, valem atenção especial. “É importante que os gestores estejam preparados para extrair dos documentos relativos a seus cursos as informações que vão dar suporte mais consistente ao planejamento da oferta e às adequações curriculares”, afirma Bruno, ressaltando que a Prograd tem informações sobre todas as disciplinas ofertadas nos últimos anos. Os dados cobrem matrículas, trancamentos, aprovação, reprovação (por nota insuficiente e por infrequência), evasão, entre outros aspectos.

Ainda de acordo com Bruno Teixeira, uma leitura bem feita dos dados sobre o ensino remoto emergencial será crucial para o planejamento da volta gradual às atividades presenciais. “Como não vai ser possível, naturalmente, retomar todas as atividades ao mesmo tempo na volta aos campi, as informações estatísticas serão decisivas para a definição de quais priorizar. Por exemplo, é plausível que um curso resolva dar preferência a disciplinas com índices de reprovação mais altos durante o período de ensino remoto emergencial”, explica.

Bruno
Bruno Teixeira: extração de dados deve ser otimizada para suporte a planejamento e adequações no cursoAcervo pessoal

Cultura forte de autoavaliação
A quantidade e a variedade de relatórios produzidos pelo setor de Estatística têm aumentado a cada ano. Os documentos referem-se a disciplinas, cursos e também a unidades acadêmicas, que podem se beneficiar de uma visão geral do comportamento dos cursos que abrigam e uma visão específica de disciplinas comuns aos currículos de vários cursos.

O setor de Estatística trabalha, por exemplo, para conhecer o perfil socioeconômico dos estudantes que chegam a UFMG e o desempenho acadêmico por modalidade de ingresso (cotas, ampla concorrência etc.). Mais recentemente, tabulou as respostas de estudantes, professores e técnicos sobre as percepções a respeito do ERE. “O acesso aos dados é desafiador, e as análises não são triviais. Utilizamos, em algumas análises, técnicas avançadas. A Universidade tem o privilégio de contar com essa produção estatística, e temos sido procurados por outras instituições interessadas em adotar sistemas semelhantes”, relata Bruno Teixeira. Iniciativas como essa, ele continua, apoiam a cultura de autoavaliação da UFMG, que “é forte e distribuída pelas unidades e cursos, cujos departamentos, colegiados e Núcleos Docentes Estruturantes implementam avaliações internas”.

Eduardo Moreira:
Eduardo Moreira: estudantes oferecem ajuda a colegas ausentesAcervo pessoal

Dificuldade diluída
Acostumada a lidar com análises estatísticas em razão da própria natureza de seus interesses acadêmicos, a comunidade do curso de Gestão Pública faz de forma fluente o acompanhamento discente baseado em dados, segundo o coordenador do colegiado, professor Eduardo Moreira, que fará uma das apresentações do próximo fórum do Integração Docente. No novo currículo, recém-aprovado pela Prograd, as disciplinas do 3º e do 4º período aparecem distribuídas de maneira diferente. O objetivo, conta o coordenador, é buscar equilíbrio relacionado ao grau de dificuldade para os alunos, com base na informação sobre as reprovações concentradas em um mesmo período.

A análise de dados recentes possibilitou identificar também, no curso de Gestão Pública, problemas como trancamentos, reprovações em uma mesma disciplina e tempo de conclusão do curso acima do que é esperado. “Criamos, então, uma comissão destinada a dialogar com os estudantes para auxiliá-los a enfrentar as dificuldades”, revela Moreira. Os relatórios que tratam especificamente do ensino remoto emergencial mostraram índices de ausência fora do normal e inspiraram um trabalho de busca ativa, em que estudantes bolsistas da Prograd procuram os faltosos para oferecer ajuda.

Andréa
Andréa Motta: mescla de disciplinas básicas com específicas e atividades práticas Acervo pessoal

Novas estratégias de ensino
As estatísticas produzidas pela Prograd norteiam também uma grande reforma curricular do curso de Fonoaudiologia, que está em andamento. Dados relacionados a evasão e aqueles que indicam as disciplinas nas quais os alunos têm maiores dificuldades estão entre os responsáveis pelas propostas que alteram o desenho do currículo. “Mais de 40% das disciplinas classificadas como difíceis – por causa do baixo rendimento e de taxas mais altas de repetência – estão no ciclo básico. O novo currículo mescla, nos três primeiros períodos, as disciplinas do básico com algumas específicas e também antecipa atividades práticas que se concentram hoje nos semestres finais”, conta a professora Andréa Motta, integrante do Núcleo Docente Estruturante (NDE).

Dados contidos nos relatórios estatísticos dos últimos anos mostraram ainda que os estudantes não começaram a ter mais dificuldades com a adesão da UFMG ao Sisu ou adoção das cotas para ingresso, como se chegou a cogitar. A conclusão foi a de que uma causa importante foram as mudanças geracionais. “A forma tradicional de ensinar deixou de funcionar bem para a nova geração de estudantes, por isso modificamos estratégias e implementamos novas metodologias com base em relações mais horizontais”, explica Andréa Motta, acrescentando que há ações complementares destinadas a tornar o ambiente mais favorável a estudantes em situação de maior vulnerabilidade.   

Itamar Rigueira Jr.