Saúde

Diagnóstico precoce da hanseníase é fundamental para evitar sequelas permanentes

Campanha Janeiro Roxo promove conscientização sobre doença, que foi tema de entrevista no programa Conexões desta segunda-feira, 18

Diagnóstico precoce é fundamental para erradicar a doença
Diagnóstico precoce é fundamental para erradicar a doença Elza Fiúza / Agência Brasil

Todo início de ano, em janeiro, são promovidas iniciativas de conscientização sobre a hanseníase. A campanha Janeiro Roxo, oficializada pelo Ministério da Saúde em 2016, tem o objetivo de disseminar informações sobre a gravidade da doença, a importância do diagnóstico precoce e as possibilidades de tratamento. A hanseníase é uma doença infecciosa, transmitida pela respiração, que causa lesões principalmente na pele e nos nervos. A doença atinge, sobretudo, pessoas que vivem em condições precárias de moradia e saneamento básico. O diagnóstico e o tratamento precoce são essenciais para diminuir as possibilidades de surgirem incapacidades físicas nas pessoas infectadas.

No Brasil, a hanseníase ainda representa um grave problema de saúde pública. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o país é o segundo com o maior número de casos da doença, concentrando 90% dos registros notificados nas Américas. No país, em média, 30 mil pessoas contraem a doença por ano. Apesar de grave, a hanseníase tem cura e o tratamento está disponível nas unidades de saúde pública, no Sistema Único de Saúde (SUS). 

Em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta segunda-feira, 18, o médico dermatologista Marcelo Grossi Araújo, professor da Faculdade de Medicina da UFMG, reforçou a importância do diagnóstico precoce, a fim de evitar sequelas permanentes. "É fundamental que todas as pessoas conheçam os primeiros sinais da doença, que são basicamente manchas persistentes (brancas ou vermelhas) na pele, com alteração de sensibilidade. A pessoa não percebe o tato, a dor, o calor. Além das manchas, caroços na pele, dor e/ou paralisia nos nervos das mãos, dos pés e da face também devem ser observados. Esses são os sintomas principais e iniciais da doença”, explicou.

Outro ponto importante, segundo o professor, é superar o preconceito e o estigma da doença. “É importante dizer e lembrar que, durante muitos séculos, a hanseníase foi tratada com muito preconceito, com muito estigma e medidas sanitárias adotadas no mundo inteiro contribuíram para que esse estigma persistisse e até se agravasse. No início do século passado, todas as pessoas diagnosticadas com hanseníase eram isoladas da comunidade para receber tratamento e reabilitação. Isso foi um equívoco e um erro que contribuiu para aumentar o estigma”, afirmou.

Uma das doenças mais antigas do mundo, a hanseníase tem registros desde a Idade Média, mas, segundo o professor Marcelo Araújo, é possível, com os recursos disponíveis atualmente, pensar na erradicação. “Temos que trabalhar com essa perspectiva e temos recursos hoje para conseguir isso. É verdade que a hanseníase é uma doença negligenciada, tendo ainda pouco aporte de recursos para pesquisa, realização de exames, vacinas, entre outros. Mas, com os recursos que temos hoje, é possível [pensar na erradicação]”, defendeu.

O Brasil detém 90% dos casos de hanseníase das Américas, com notificações principalmente no Norte, Nordeste e Centro-oeste. É uma doença muito relacionada à desigualdade social, a baixas condições de saneamento básico e de higiene, de renda e de educação. Segundo o professor, o peso da endemia para o Brasil ainda é muito grande, apesar dos avanços que têm sido alcançados nos últimos anos. “Um dos avanços é o diagnóstico e tratamento na atenção primária de saúde. Isso permite uma abordagem fundamental para o avanço no sentido da erradicação da doença, por meio do diagnóstico precoce”, disse.

Ouça a conversa com Hugo Rafael

Outras informações sobre a hanseníase podem ser consultadas no Glossário Saúde de A a Z, do Ministério da Saúde. Veja também vídeo sobre a doença produzido pelo Ministério da Saúde:

Produção de Flora Quaresma e Laura Portugal, sob orientação de Hugo Rafael