Ensino

Em conferência, Nilma Lino Gomes fala sobre o desafio de superar o racismo

Ex-ministra das Mulheres e da Igualdade Racial é a terceira convidada do ciclo Tempos Presentes

Nilma Lino Gomes
Nilma Lino Gomes: 'reconhecimento das ausências'Portal da Faculdade de Educação

Será realizado nesta quarta-feira, 12, mais um encontro da série Tempos presentes, que tem o objetivo de lançar luz sobre questões que atravessam o processo de construção de uma sociedade mais democrática. A professora Nilma Lino Gomes falará sobre O compromisso da universidade na superação do racismo, às 11h, no auditório 1 da Faculdade de Ciências Econômicas.

“O tema da superação do racismo é importante para qualquer sociedade que luta para se tornar mais democrática", afirma Nilma. Para ela, essa discussão tem como ponto de partida o reconhecimento de que há, no Brasil, um processo histórico e persistente de negação de direitos. “Inúmeros estudos, produzidos tanto por universidades quanto por órgãos governamentais, confirmam cientificamente o lamentável quadro de exclusão da população negra", afirma a professora.

A Constituição Federal de 1988, no seu artigo 5°, inciso XLII, determina que “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível”. Na opinião da docente, que foi ministra das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos no governo Dilma Rousseff, esse aceno feito pelo Estado brasileiro durante o processo de redemocratização sinaliza sua intenção de combater o racismo. “Esse texto é resultado de várias lutas sociais do movimento antirracista. O compromisso firmado foi o de atestar que uma sociedade democrática não pode tolerar e conviver com nenhuma prática preconceituosa, discriminatória e racista", informa a professora.

Ações afirmativas e cotas
Na visão de Nilma Gomes, o reconhecimento do Estado foi fundamental para que outros setores, inclusive as universidades, passassem também a reconhecer suas ausências em relação ao problema, culminando com as políticas de ações afirmativas e com a promulgação, em 2012, da lei 12.711, a Lei de Cotas. “As universidades estão passando por um processo de democratização e ampliando o acesso a estudantes negros, pobres, quilombolas e indígenas provenientes de escolas públicas", explica a professora.

A ex-ministra chama atenção para o compromisso que a universidade deve firmar em relação a uma revolução cultural, social, política e acadêmica para a superação do racismo. “Esses sujeitos têm o direito assegurado de estar na universidade, mas é preciso garantir o direito de ser reconhecidos e respeitados nas suas pluralidades étnico-raciais", defende Nilma, que também se mostra preocupada com o recrudescimento do conservadorismo, que, em sua visão, busca desarticular as recentes conquistas. “A pergunta que fica é: O que nos falta para essa superação?”, finaliza a educadora.

Nilma Lino Gomes é graduada em Pedagogia e mestre em Educação pela UFMG. É doutora em Ciência Social pela USP, com residência pós-doutoral em Sociologia pela Universidade de Coimbra e em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Por 11 anos, foi coordenadora geral do Programa Ações Afirmativas na UFMG. Em 2015 e 2016, foi ministra das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos. É membro da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (Anped), da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN).

Tempos presentes
O ciclo foi inaugurado em março deste ano pelo professor João Antonio de Paula, da Face, que falou sobre a A universidade e os desafios da construção democrática. Ele voltou a abordar o assunto, na semana passada, na abertura da série no campus Montes Claros. A segunda conferência foi ministrada pelo filósofo João Carlos Salles, reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que discorreu sobre Universidade, conhecimento e democracia.

João Paulo Alves