Arte e Cultura

Em livro, jornalistas investigam as implicações da ausência paterna

Reportagem é resultado de trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social da UFMG

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Exemplares do livro: experiência pessoal e dados sobre a questão da paternidade no Brasil
Reprodução

No próximo sábado, 21 de novembro, as jornalistas Alice Machado e Isabelle Chagas lançarão o livro-reportagem Não tenho pai, mas sou herdeiro: histórias e registros de paternidades ausentes. O livro é fruto do trabalho de conclusão de curso das autoras, orientadas pelo professor Elton Antunes, do Departamento de Comunicação Social da Fafich.

O tema surgiu da experiência pessoal de Isabelle Chagas, que cresceu longe de seu pai.  “Apesar de o livro ter sido escrito a quatro mãos, apenas eu tenho essa vivência. Apesar de ser muito comum, a ausência paterna é um assunto interdito, não se fala muito sobre isso nem mesmo dentro das famílias. O filho sempre é herdeiro, pois existe uma herança física e psicológica que ele carrega mesmo sem ter conhecido ou sem conviver com o seu pai”, conta.

O livro-reportagem mostra que mais de cinco milhões de crianças no Brasil não têm o nome do pai na certidão de nascimento, enquanto outras milhões, mesmo carregando o sobrenome paterno, não tiveram pais presentes ao longo da vida. Para investigar as diversas implicações da ausência paterna, as autoras abordam a questão sob diferentes perspectivas, como a jurídica, a psicológica e a comunicacional, sempre permeadas por afetos. 

“A perspectiva judicial, por exemplo, é muito forte. Estivemos o tempo todo em contato com o direito de família, pois é ele que lida com os conflitos gerados pela ausência paterna”, conta Isabelle. A jornalista acrescenta que “não é mais possível tratar a ausência parental sem um olhar interseccional. Esse novo olhar nos permite compreender uma nova visão de família, que vai além daquela tradicional”.

A voz de quem sofre
O livro dá voz às pessoas que mais sofrem com a ausência paterna: filhos e filhas, mães e os próprios pais. Para isso, as jornalistas acompanharam a rotina de órgãos públicos como a Defensoria e o Fórum, entrevistaram juízes, defensores, advogados e observaram como é o dia a dia de quem atende e de quem procura por serviços relacionados ao reconhecimento de paternidade.

A reportagem reúne entrevistas, cartas, depoimentos e textos informativos sobre o tratamento que é dado ao assunto na Justiça. Além disso, traz dados inéditos sobre a realidade brasileira, que atestam que o país é um dos líderes nos rankings de abandono paterno. Em 2011, 66% de todos os mandados de prisão de Minas Gerais corresponderam ao não pagamento de pensão alimentícia; apenas 36,5% desse total foi cumprido. Nos anos posteriores, esse percentual foi ainda mais baixo: 2013 contabilizou 24,5% dos mandados cumpridos, enquanto em 2016 só 27% foram concretizados.

As autoras Alice Machado e Isabelle Chagas
As autoras Isabelle Chagas e Alice MachadoEquipe do projeto

Medidas de distanciamento
Para evitar aglomerações, um esquema especial foi preparado para o lançamento. A cada hora serão admitidas apenas 15 pessoas, que precisam fazer o agendamento prévio por formulário on-line. A distribuição gratuita dos livros será feita ao ar livre. Haverá álcool em gel, e o uso de máscara é obrigatório. 

Além do formato impresso, também será disponibilizada o EPUB em CD da obra, acessível a pessoas com deficiência visual. A versão digital do livro está disponível aqui.  

Serviço
Lançamento do livro-reportagem Não tenho pai, mas sou herdeiro: histórias e registros de paternidades ausentes
Data: 21 de novembro (sábado)
Local: Livraria Quixote e Café (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi)
Horário: das 10h às 15h 

Luana Macieira