Pesquisa e Inovação

Prêmio estimula pesquisas que reduzam propagação de notícias falsas

Aplicativo de mensagens mais usado no mundo dará até US$ 50 mil para propostas de investigação sobre desinformação

Empresa de comunicação visa diminuir a propagação de notícias falsas em seu aplicativo
Empresa de comunicação visa diminuir a propagação de notícias falsas em seu aplicativo Pixabay/CC0 Creative Commons

Usado por 1,5 bilhão de pessoas no mundo e mais de 120 milhões de brasileiros, o WhatsApp é o principal meio utilizado no país para a propagação de boatos com caráter jornalístico, como concluiu levantamento feito pela empresa de segurança PSafe. Em busca de soluções para enfrentar esse problema, o aplicativo de comunicação privada lançou um prêmio para incentivar pesquisadores a produzir conhecimento sobre o assunto e reduzir a propagação de desinformações no aplicativo. A empresa dá preferência a pesquisas realizadas em países onde o aplicativo é o mais usado, como Brasil, Índia e México. As inscrições de propostas podem ser feitas até 14 de setembro.

Os participantes almejados pelo WhatsApp são pesquisadores das ciências sociais e tecnológicas que tenham doutorado, estejam filiados a uma universidade ou instituição de pesquisa e que desenvolvam um trabalho independente com ferramentas conceituais, compilação e análise de dados e investigação de questões relevantes.

A prioridade será dada para as áreas de pesquisa de processamento de informações de conteúdo problemático, informações relativas a eleições, efeitos de rede e viralidade, alfabetização digital e desinformação e detecção de comportamento problemático em sistemas criptografados.

Serão concedidos prêmios de até US$ 50 mil, que serão pagos para a instituição em que atuem os grupos de pesquisa selecionados, não havendo restrição para o uso do recurso. Todos os dados e resultados alcançados pela pesquisa serão de propriedade intelectual dos pesquisadores. O resultado da seleção será divulgado no dia 14 de setembro, e os grupos terão até abril de 2019 para desenvolver o trabalho. Além do prêmio para a pesquisa, os selecionados serão convidados a participar de duas oficinas sobre o aplicativo na Califórnia (EUA).

A inscrição de propostas para concorrer ao Prêmio de Pesquisa WhatsApp para Ciências Sociais e Desinformação deve ser feita em inglês. Mais informações sobre a premiação estão disponíveis no site do da empresa.

Mensagens criptografadas
Um dos grandes desafios ao se pesquisar a propagação de notícias falsas no aplicativo é o fato de que, para garantir a privacidade dos usuários, todas as mensagens enviadas pelo WhatsApp são, segundo a empresa, criptografadas de ponta a ponta, ou seja, só podem ser lidas por quem envia e por quem recebe. Por isso, a empresa não fornecerá aos pesquisadores selecionados nenhum dado sobre o aplicativo e seus usuários.

Esse modelo de segurança dificulta a mensuração e o controle das desinformações que circulam no programa, embora garanta a privacidade dos usuários. Um dos temas com os quais o prêmio incentiva os pesquisadores a trabalhar é a possibilidade de detectar atividades ilegais realizadas no aplicativo sem monitorar o conteúdo veiculado pelos usuários nem quebrar a criptografia, desvendando formas de impedir a propagação de informações falsas.

Fake news
Segundo o Relatório de Segurança Digital no Brasil, feito pela empresa de segurança PSafe, 95,7% das notícias falsas disseminadas no país de janeiro a março deste ano foram enviadas pelo WhatsApp. A projeção é de que 8,8 milhões de brasileiros tenham sido impactados por notícias falsas nesse período. 

Por ser uma forma de gerar lucro por meio de cliques, os temas mais usados para construir fake news são alarmantes e de interesse popular, tendo sido observado que 41% das notícias compartilhadas no período eram sobre saúde, 38% sobre política, e 18%, sobre celebridades. A realização desse levantamento foi possível porque a empresa tem um aplicativo que monitora os links recebidos pelos usuários e avalia sua segurança.

Como não é possível rastrear a origem dos boatos, é difícil descobrir quando, onde e por quem as mensagens foram geradas. Contudo, o principal meio em que esses artigos circulam já foi percebido: pesquisa realizada pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), sobre a disseminação de boatos acerca do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, em março deste ano, constatou que 51% dos boatos foram recebidos em grupos de família. Esse resultado pode ser reflexo de que o ambiente mais íntimo e de confiança estabelecido nos grupos de família facilita a propagação de informações que podem não ser verdadeiras.

Para driblar a disseminação de desinformações, algumas medidas estão sendo testadas na versão beta do WhatsApp e logo poderão estar disponíveis para todos os usuários. Entre elas estão o aumento do controle exercido pelos administradores de grupos, alertas ao usuário quando o link recebido em uma mensagem for suspeito e bloqueio de mensagens que já foram encaminhadas por um mesmo usuário por mais de 25 vezes. Outras medidas já estão disponíveis para alguns aparelhos na nova atualização do aplicativo, como a sinalização de mensagens encaminhadas e a possibilidade de denunciar usuários e mensagens como spam.

Dalila Coelho