Pesquisa e Inovação

Estudante da Enfermagem vence segunda edição do Prêmio Carolina Bori

Concurso é organizado pela SBPC; Raquel Bandeira apresentou estudo sobre estratégia terapêutica testada em camundongos para combater a leishmaniose tegumentar

Raquel Soares:
Raquel Bandeira: tratamento menos tóxico e mais eficazArquivo pessoal

A estudante Raquel Soares Bandeira, do nono período do curso de graduação em Enfermagem da UFMG, é uma das vencedoras da segunda edição do Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher, promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Seu trabalho, Eficácia terapêutica de uma naftoquinona incorporada em micelas contra a leishmaniose tegumentar em camundongos, concorreu na categoria Meninas na ciência, que recebeu inscrições de pesquisas de iniciação científica que demonstraram criatividade, boa aplicação do método científico e potencial de contribuição com a ciência. Raquel foi orientada pelo professor Eduardo Antônio Ferraz Coelho, do Colégio Técnico (Coltec).

Com o mesmo trabalho, Raquel já havia vencido o Grande Prêmio de Iniciação Tecnológica e Inovação da Semana da Iniciação Científica da UFMG. As leishmanioses são doenças causadas por protozoários do gênero Leishmania, que infectam predominantemente macrófagos, células importantes do sistema imunológico. “Estima-se que de 1 a 1,5 milhão dos casos de leishmaniose são da versão tegumentar", afirma Raquel. "Os fármacos de uso corrente para o tratamento da doença apresentam problemas relacionados à toxicidade, à eficácia e à própria forma de administração, gerando baixa adesão dos pacientes. Além disso, cepas de parasitos resistentes têm sido identificadas. Assim, o desenvolvimento de novos medicamentos eficazes e seguros se faz necessário."

De acordo com a estudante, as naftoquinonas – base do seu experimento – são moléculas hidrofóbicas com propriedades anticancerígena, antiviral e antimicrobiana. “Estudos recentes mostraram que elas também apresentam atividade leishmanicida in vitro, o que justificou o interesse de testar um tipo em camundongos Balb/C [linhagem de animais albinos amplamente usada em estudos de laboratório] no tratamento de leishmaniose tegumentar”, diz Raquel. Já a estrutura de uma micela possibilita encapsular essa molécula, aumentar a biodisponibilidade do fármaco e diminuir interações indesejáveis com outras células e proteínas. A estabilidade na corrente sanguínea é outra vantagem propiciada pelo emprego da micela.

Raquel Bandeira afirma que os experimentos alcançaram o objetivo de se chegar a um tratamento menos tóxico e mais eficaz em camundongos quando comparado com outras formulações comumente utilizadas. Redução da carga parasitária e das lesões e aumento da resposta imunológica dos animais infectados foram outros resultados alcançados.

A estudante destaca o suporte que recebeu dos pesquisadores do Setor de Patologia Clínica do Coltec e do Laboratório de Infectologia e Medicina Tropical da Faculdade de Medicina. “Aprendi muito sobre teoria e prática de pesquisa com essas pessoas”, afirma ela, que também ressalta a formação acadêmica que recebe no curso de Enfermagem. “O olhar do cuidado humanizado baseado em evidências da Enfermagem faz toda a diferença nas minhas experiências dentro e fora do laboratório."

O Prêmio
A cerimônia de premiação será realizada virtualmente no dia 11 de fevereiro, às 10h30, com transmissão pelo canal da SBPC no YouTube. A data foi escolhida por se tratar do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, instituído pela Unesco.

A segunda edição do Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher recebeu indicações de 286 candidatas de 116 instituições, oriundas de 18 estados e 70 municípios de todas as regiões do país. Do total de inscritas, 90 são do ensino médio, e 195, de graduação.

A vice-presidente da SBPC, Fernanda Sobral, destaca a diversidade dos trabalhos desenvolvidos e da origem das candidatas, oriundas de instituições públicas e privadas. “Isso mostra que as meninas na ciência estão presentes em todos os campos do conhecimento, em vários tipos de instituições e em diferentes regiões”, disse Sobral.

Após um processo de nominação, no qual as 286 candidatas foram indicadas, uma comissão julgadora, constituída por sete membros da comunidade científica de diferentes áreas de conhecimento, analisou a documentação referente às estudantes e chegou às sete finalistas da graduação e ao mesmo número do ensino médio. Em uma segunda rodada de avaliações, a comissão premiou o melhor trabalho em cada nível e escolheu quatro menções honrosas.

Pioneirismo
Carolina Bori foi a primeira mulher a presidir a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (1986 e 1989), mas sua atuação na SBPC começou bem antes, em 1969, como integrante do Conselho. Ela lutou por políticas e investimentos em desenvolvimento científico durante a ditadura militar e, posteriormente, no período de redemocratização. 

Durante seu mandato, também promoveu a divulgação e popularização da ciência por meio de programas de rádio e conferências, para, segundo ela, “diminuir a distância entre o conhecimento gerado na academia e o que chega à população".

Falecida em 2004, Carolina Bori era formada em Pedagogia na USP, especialista em Psicologia Educacional pela mesma universidade e mestra pela New School For Social Research (NSSR), de Nova York. Cursou doutorado em Psicologia na USP.

Rosânia Felipe / Com informações da Assessoria de Comunicação da SBPC