Pesquisa e Inovação

Estudo compara manifestações de 2013 no Brasil e na Turquia

Grupo da UFMG e de universidades australianas analisou disputas discursivas em páginas no Facebook

Manifestação em Sertãozinho (SP), onde cerca de quatro mil pessoas foram às ruas protestar, em junho de 2013, contra a corrupção e por melhores serviços públicos
Manifestação em Sertãozinho (SP), onde cerca de quatro mil pessoas foram às ruas protestar, em junho de 2013, contra a corrupção e por melhores serviços públicos Marco Aurélio Esparza | CC 3.0

Em junho de 2013, quase que simultaneamente ao que ocorria no Brasil, os turcos também saíam às ruas para protestar contra o governo. Enquanto no Brasil o que motivava as manifestações era o aumento das passagens do transporte urbano, na Turquia, os protestos eram contra a decisão do governo de demolir o Parque Taksim Gezi, em Istambul, para a construção de um shopping e um complexo residencial – nos dois países, tudo era reportado e também pautado, em tempo real, pelas redes sociais. Interessado na proximidade temporal e temática dos dois casos, um grupo de pesquisadores da UFMG e de universidades australianas analisou-os conjuntamente para tentar esclarecer o papel das mídias sociais no contexto das lutas simbólicas inerentes a essas manifestações populares.

Liderados por Ricardo Fabrino Mendonça, professor de Ciência Política da UFMG, os pesquisadores dedicaram-se à análise dos protestos à luz do conceito de “acontecimento”, associado a “a rupturas nos fluxos ordinários da vida” que “deslocam as construções dominantes da realidade e abrem novas maneiras de vê-la e interpretá-la”. Explicam os pesquisadores: “os acontecimentos moldam a maneira como o passado é entendido e o futuro é imaginado. Eles não são ocorrências estáticas com princípios e finais claros: evoluem e sempre têm o potencial de ser atualizados em diferentes momentos e locais do futuro”. 

Os resultados da pesquisa foram coligidos no artigo Protestos como “acontecimentos”: as lutas simbólicas nas manifestações de 2013 no Brasil e na Turquia, publicado há algumas semanas na Revista de Sociologia e Política, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

No artigo, os pesquisadores analisaram as mensagens postadas no Facebook ao longo dos primeiros 30 dias de protestos em cada país. No Brasil, foram coletadas as publicações da página Passe Livre São Paulo, vinculada ao Movimento Passe Livre (MPL), grupo que iniciou os protestos, e da página O Gigante Acordou, que emergiu durante as manifestações.

No caso turco, foram coletadas as postagens das páginas Taksim Dayanismasi, associação que teve papel significativo na organização e mobilização das manifestações, e Recep Tayyip Erdogan, pró-governo. Em todas essas postagens, os pesquisadores analisaram a forma como seus autores enquadravam as causas das manifestações e como esses enquadramentos foram mudando ao longo dos dias.

A análise sobre as jornadas nos dois países foi tema de matéria publicada na edição 2.080 do Boletim UFMG, que circula nesta semana.