Pesquisa e Inovação

Funk é instrumento de cultura, trabalho e lazer

Viés organizacional dos bailes de periferia será analisado em evento nesta quinta, na Face

O Baile da Serra é o primeiro legalizado de Minas Gerais
O Baile da Serra é o primeiro legalizado de Minas Gerais Página Baile Funk da Serra

Ao cair da noite de domingo, aos pés da Serra do Curral, acontece uma das festas mais tradicionais de Belo Horizonte, o Baile Funk da Serra. O estilo musical, que teve origem nos anos 1970, ganhou popularidade na virada do século, em especial em áreas periféricas, mas ainda hoje sofre com discursos preconceituosos que marginalizam e desabonam o ritmo e seus ouvintes.

Nesta quinta, 25, às 18h, o estilo é tema de mais um encontro do ciclo DesConstruções. Pancadão proibidão - funk como cultura, trabalho e lazer da periferia é o tema do debate, que será realizado no Auditório 2, da Faculdade de Ciências Econômicas (Face). As inscrições, gratuitas, podem ser realizadas por meio de preenchimento de formulário eletrônico. Haverá emissão de certificados.

O tema desta edição é inspirado na pesquisa de Danielly Mendes dos Santos, mestranda em Administração pela UFMG, que busca compreender as questões de gênero e subjetividade em baile funk. O objeto de trabalho escolhido foi o Baile da Serra, primeiro legalizado de Minas. Além da estudante de mestrado, estarão presentes Cristiane Pereira André de Jesus, a Kika, organizadora do baile e integrante do Observatório do Funk, e Maíra Neiva Gomes, professora do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) e advogada popular que também atua na realização da festa.

Mobilização
Danielly Mendes explica que o baile funciona como meio de trabalho, lazer e cultura. “A realização do evento mobiliza o comércio local, com venda de comidas e bebidas. Esse dinheiro fica na comunidade, uma vez que quem trabalha na comercialização é a própria população da Serra. Além disso, a renda gerada no baile proporciona o pagamento dos dançarinos, DJs e MCs, que em sua grande maioria também são moradores da comunidade", informa. 

O baile é uma das poucas opções de lazer, principalmente para a população mais jovem. "Quando o periférico desce do morro para a cidade, os valores de consumo das festas são mais elevados. Sair da Serra para se divertir torna-se inviável. E a dimensão cultural se manifesta como a expressão das múltiplas vozes da comunidade, que expressam em suas letras o cotidiano, as mazelas, as alegrias, os sonhos e as brincadeiras, enfim, os discursos de uma população sistematicamente marginalizada", analisa a mestranda.

A pesquisadora chama a atenção para os pré-requisitos que tornam as canções do funk aceitas em outros ambientes fora das favelas. “Para que a música seja inserida no asfalto, é preciso que ela passe por um processo de higienização, no qual termos são suprimidos e substituídos. Em certos casos, a canção perde o seu sentido, sendo totalmente descaracterizada", afirma Danielly. Ela assinala que esse processo, além de tornar claro os preconceitos contra as composições, atua como silenciamento dessas vozes do morro. “Assim como o samba, o rap e o hip-hop, o funk brasileiro é um porta-voz da periferia. E até serem absorvidos pela população, esses estilos também foram marginalizados e criminalizados", analisa.

O evento é promovido pelo Núcleo de Estudos Organizacionais e Sociedade (Neos) da Face. Mais informações estão disponíveis na página do Núcleo.

João Paulo Alves