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Fragmentação da oposição a Bashar al-Assad agrava guerra na Síria

No programa Conexões, professor de Relações Internacionais da PUC Minas falou das origens do confronto e de seus possíveis desdobramentos

Ruínas de Alepo, cidade mais populosa da Síria, após batalha na região
Ruínas de Alepo, cidade mais populosa da Síria, após batalha na região Foto: Mil.ru / CC BY 4.0 / Wikimedia: https://bit.ly/2HrEWQX

Há algum tempo a Síria não sai dos noticiários ao redor do mundo: desde 2011, o país vive uma intensa guerra civil, que já fez mais de 400 mil vítimas, entre mortos e desaparecidos. Calcula-se também que mais de cinco milhões de sírios deixaram o país ao longo desses anos, o que configura o maior êxodo da história mundial recente.

Nos últimos dias, um grande fato marcou ainda mais essa história: com o apoio da França e do Reino Unido, o governo Trump, nos Estados Unidos, bombardeou a Síria, em retaliação a um suposto uso de armas químicas pelo governo sírio, liderado pelo presidente Bashar al-Assad.

Com o objetivo de investigar as origens, as causas e os possíveis desdobramentos dessa guerra que já dura sete anos, o programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, conversou com o professor Danny Zahreddine, do Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas, líder do Grupo de Pesquisa Oriente Médio e Magreb do CNPQ. A entrevista foi ao ar nesta quarta-feira, 18.

“A Síria vive, há mais de 40 anos, sob uma forma de ditadura presidencial. O país foi comandando por Hafez al-Assad, pai do atual presidente, até o ano 2000, quando ele morreu. Em julho desse mesmo ano, seu filho assumiu o poder, no qual segue até hoje”, contextualizou.

Segundo o professor, o regime comandando pelos Assad tem uma perspectiva menos religiosa em relação a outros países árabes. “É um governo laico, que trouxe, de fato, transformações sociais importantes para a Síria, mas o preço pago foi o de um regime opressor, uma ditadura muito violenta”, explicou.

A partir de 2010, países do mundo árabe foram marcados pela Primavera Árabe, evento que se iniciou na Tunísia, com a repercussão da morte de um jovem que havia sido agredido pela polícia do país. Segundo o professor, essa morte gerou “contestação social da população árabe”, submetida a condições econômicas e políticas “bastante complexas e ruins”.

“A Síria foi o último país a sofrer os impactos da Primavera Árabe. Em 2011, começaram alguns protestos no país, não contra o regime exatamente, mas contra o estado de emergência que existia na Síria, há mais de 30 anos”, afirmou.

As manifestações que começaram de forma pacífica, exigindo algumas reformas na Constituição e a presença de mais partidos políticos na Síria, foram violentamente reprimidas pelo governo de Bashar al-Assad. “O aumento da violência na repressão do governo criou uma oposição cada vez mais armada contra o presidente Bashar al-Assad, culminando na guerra civil”, explicou.

A oposição Síria, que é formada principalmente por grupos de muçulmanos sunitas, é um dos principais problemas desse confronto, segundo Danny Zahreddine. “Essa oposição não é um grupo uniforme. Existe um grupo sunita moderado, apoiado principalmente pela Turquia, Catar e outros países do Golfo, mas há também grupos muito radicais, ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico. Essa fragmentação da oposição síria criou uma dificuldade para que ela conseguisse apoio internacional para lutar contra o presidente”, afirmou.

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