Saúde

Imunização contra gripe pode reduzir pressão sobre o SUS

Em entrevista a programa de rádio da Faculdade de Medicina, professor diz que vacinação contribui para diferenciar diagnósticos de influenza e covid-19

Vacinação realizada no posto do Departamento de Atenção à Saúde do Trabalhador da UFMG (Dast), localizado na Unidade Administrativa II
Vacinação contra a gripe no Departamento de Atenção à Saúde do Trabalhador (Dast), em 2020Ewerton Martins Ribeiro | UFMG

A 23ª Campanha Nacional de Vacinação contra o Vírus Influenza já começou, e a meta do Programa de Imunização da Secretaria de Saúde de Minas Gerais é imunizar 90% da população prioritária, cerca de 8,4 milhões de pessoas em todo o estado. 

Com a pandemia, algumas dúvidas têm surgido sobre a importância dessa imunização e sobre como ela se relaciona com as vacinas contra a covid-19. A estratégia para vacinação contra a influenza foi integrada ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) em 1999, com o objetivo de reduzir internações por complicações decorrentes da gripe e óbitos.

Em entrevista concedida ao programa de rádio Saúde com ciência, da Faculdade de Medicina, no âmbito da série Vacinação no Brasil: conheça sua história e importância, o professor Ênio Pietra Pedroso, do Departamento de Clínica Médica, esclarece que a vacina contra o vírus influenza constitui um modelo semelhante ao de imunizantes para outros agentes. Isso porque ele é formulado com vírus inativado, estratégia também usada no desenvolvimento da Coronavac. “Portanto, não há vírus vivo”, acrescenta Ênio.

No entanto, imunizar-se contra o vírus da gripe não significa estar imune também ao coronavírus. A proteção contra o vírus influenza reduz apenas o seu papel como desencadeador de doença respiratória aguda. Isso ajudaria a reduzir internações por causa da gripe, evitando, assim, sobrecarga ainda maior ao sistema de saúde.

Gripe x covid-19
A gripe é uma infecção viral do aparelho respiratório provocada pelo vírus influenza, que ataca os pulmões, o nariz e a garganta. A exemplo da infecção causada pelo novo coronavírus, os sintomas incluem febre, calafrios, tosse, dores de cabeça e fadiga. Por isso, as doenças podem ser facilmente confundidas.

O que se sabe até o momento é que a prevenção contra o influenza durante esse período de alto contágio pela covid-19 ajuda a diferenciar o diagnóstico das duas doenças. Descartando a gripe nas pessoas imunizadas contra a influenza, fica mais fácil diagnosticar as duas doenças, diminuindo, portanto, a pressão sobre as unidades de saúde.

Estudo associa vacina da gripe a menor ocorrência de covid-19
Uma dúvida que tem surgido, especialmente após publicação de estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, é sobre a possibilidade do imunizante contra a gripe ter também algum efeito preventivo contra a covid-19, uma vez que os sintomas das duas doenças são semelhantes.

O estudo observou menos casos de covid-19 em pacientes imunizados contra a gripe. Em relação a esse resultado, os autores da pesquisa levantaram a hipótese de que os pacientes vacinados contra a influenza tenham cultivado melhores hábitos de prevenção contra a covid-19 e, por isso, se infectado menos. Outra explicação é que a vacina contra a gripe evita a sobrecarga do sistema respiratório, o que fortalece a primeira linha de defesa do sistema imune.

No entanto, o professor Ênio Pedroso esclarece que ainda é cedo para considerar os resultados obtidos, uma vez que o estudo, de natureza retrospectivo-observacional, não possibilita confirmar essa associação. Ele também considera que todos os dados científicos relacionados à doença exigem mais tempo para serem consolidados.

Para que os resultados da pesquisa realizada em Michigan sejam referenciais e considerados para outras populações, é necessário ampliar os estudos para outros países. “Os estudos precisam ser confirmados, criticados e realizados em outras situações étnico-ambientais”, defende Ênio Pedroso.

Para se prevenir
A 23ª Campanha Nacional de Vacinação contra o Vírus Influenza estende-se até 9 de julho. Neste ano, o programa foi dividido em três fases, que contemplam grupos definidos pelo Ministério da Saúde para evitar aglomerações nas unidades de saúde. Saiba quando e onde se vacinar.

'Saúde com ciência'
A importância da vacinação e a cobertura vacinal oferecida pelo SUS são alguns temas abordados na edição desta semana do programa de rádio Saúde com ciência, na série Vacinação no Brasil: conheça sua história e importância.

Produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina, o programa é transmitido pela Rádio UFMG Educativa (104,5 FM), de segunda a quinta-feira, às 5h, 8h e 18h. A atração também está disponível no Spotify.

Maria Beatriz Aquino | Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina