Institucional

Interrupção de Memorial é violência simbólica, critica Fundação Perseu Abramo

A Fundação Perseu Abramo reitera as manifestações de repúdio à ação da Polícia Federal (PF), de 6 de dezembro de 2017, na operação “Esperança Equilibrista”. A invasão da Universidade Federal de Minas Gerais pelas forças repressivas do Estado remonta às perseguições e ao terror vivido no ambiente universitário durante o regime militar. A condução coercitiva – mecanismo de intimidação que vem sendo largamente utilizado contra as lideranças da esquerda no contexto do golpe de 2016 – foi mais uma vez utilizada de forma injustificada, desta vez contra reitores, dirigentes e administradores da universidade, dentre eles Heloísa Starling, que integra o Conselho de História do Centro Sérgio Buarque de Holanda, da Fundação.

Assim como foi arbitrária e abusiva a prisão do Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em setembro deste ano. O reitor se suicidou pouco depois. Antes disso, descreveu a humilhação e vexame sofridos por ele e seus colegas, em texto publicado em 28 de setembro, com o título Reitor exilado. O nome remetia à proibição, que lhe foi imposta neste processo, de frequentar a UFSC. Em protesto fúnebre após sua morte, estenderam-se cartazes num dos quais se lia “uma dor assim pungente, não há de ser inutilmente”, trecho da letra da música O Bêbado e a equilibrista, de 1978, na qual Aldir Blanc e João Bosco descreveram a dor do país pela ausência dos mais de 25 mil brasileiros exilados na época, além dos mortos e desaparecidos.

A operação investiga supostos desvios ocorridos na construção do Memorial da Anistia Política do Brasil, que vinha sendo construído pela Comissão da Anistia, vinculada ao Ministério da Justiça, e pela UFMG. O Memorial se somaria aos esforços de salvaguardar o direito à memória e à justiça aos perseguidos políticos no Brasil, empreendidos a partir das gestões petistas no Governo Federal. Dentre estes esforços, caberia destacar também que poucos dias antes dos casos de abuso de autoridade aqui denunciados havia sido lançado o relatório final da Comissão da Verdade em Minas Gerais (COVMG), fruto das investigações sobre as violações de direitos humanos durante a ditadura.

Neste contexto, interromper a construção do Memorial da Anistia e deslegitimar seus organizadores, nomeando tal feito de “Esperança Equilibrista” é de extrema violência simbólica. Violenta a memória da morte do reitor da UFSC, os intelectuais e as universidades do país, bem como o compromisso com a verdade e com os valores democráticos. Isso num contexto em que o atual governo ilegítimo desmonta a própria estrutura de educação federal legada pelas gestões petistas. Violenta ainda a memória da esquerda, como o fez em discurso fascista um dos deputados federais durante a votação no processo de impeachment da presidenta eleita Dilma Roussef, no qual dignificou o coronel Ustra, um dos responsáveis pela repressão política do regime militar, que vitimou tantos militantes de organizações de esquerda, como a própria presidenta Dilma.

A esperança, no entanto, jamais será dos golpistas, que pretendem apenas manter o status quo por meio do uso da violência. A esperança é nossa, é da democracia e do povo brasileiro. Dedicamos nossa solidariedade aos companheiros vítimas dos abusos de autoridade que estão ocorrendo no contexto do golpe que vivemos.