Pesquisa e Inovação

Jornalistas rastreiam campos de futebol de Belo Horizonte que já não existem mais

Pesquisa foi realizada como trabalho de conclusão de curso; resultados podem ser consultados na internet

Campo do
Campo do "Athletico", onde hoje fica o Minascentro, no centro de Belo Horizonte Higino Bonfioli / Acervo Museu Histórico Abílio Barreto

Campo do Sport Club, Campo do Yale, Estádio do Alameda: ao visitar a moderna e planejada Belo Horizonte, um estrangeiro dificilmente desconfiaria que havia estádios de futebol onde hoje se encontram um shopping, um clube, um supermercado, um centro de convenções. A verdade é que, a despeito de suas pretensões urbanísticas positivistas, Belo Horizonte sediou inúmeros campos improvisados dentro de seu “contorno” durante as suas primeiras décadas.

Como trabalho de conclusão de curso, formandos em Comunicação Social realizaram um mapeamento desses “campos invisíveis”, construídos e demolidos em algum momento dos 120 anos de história da capital mineira. Um exemplo é o Mercado Central: onde hoje se encontra um dos principais pontos turísticos da cidade, fora construído, no início do século, o primeiro estádio da cidade.

Esse “Estádio do América” foi inaugurado extraoficialmente em 1922 – com um empate entre América e Palestra Itália (atual Cruzeiro) – e oficialmente em 1923, em um jogo interestadual, em que o América mineiro perdeu de 5 a 1 para o xará carioca. Menos de uma década depois, entre 1927 e 1929, ele seria demolido para a construção do novo mercado da cidade.

Ao todo, o site do projeto reúne informações sobre 16 estádios construídos e demolidos nas primeiras décadas do século passado. Com exceção do “Campo do Sport Club”, “espaço utilizado como campo improvisado pelo Sport Club nos seus primeiros momentos, em 1904”, todos os demais foram empreendidos dentro da Avenida do Contorno, que delimita a urbe estabelecida no plano inicial da cidade, projetada por Aarão Reis.

O projeto Campos Invisíveis foi idealizado e realizado pelos estudantes – hoje jornalistas – Carlos Oliveira, Gabriel Amorim, Ives Teixeira Souza e Lucas Sousa, sob a orientação do professor Carlos d’Andréa e do jornalista Enderson Cunha. A TV UFMG entrevistou os autores da pesquisa:

Entre as curiosidades que o trabalho elucida, chamam atenção histórias que já entraram para a mitologia do futebol mineiro, como o jogo disputado entre o Clube “Athletico” Mineiro e o Palestra Itália no dia 27 de novembro de 1927, cujo placar elástico a favor do primeiro – 9 a 2 – alimenta até hoje a rivalidade entre os clubes. O jogo foi o último disputado no estádio que cedeu lugar ao Mercado Central.

No site do projeto, explicam os autores, faz-se “um percurso que vai dos primeiros matches disputados na capital até o surgimento dos grandes estádios”. Escrevem os pesquisadores: “neste meio tempo, o que se perdeu foi a memória. Estes campos são, hoje, invisíveis, pois foram derrubados para a construção de empreendimentos diversos, com pouca ou quase nenhuma ligação com o futebol”. Carlos Oliveira, um dos idealizadores do projeto, conversou com o Programa Expresso 104,5, da Rádio UFMG Educativa, sobre a pesquisa.

Ouça a entrevista da Rádio UFMG Educativa com Carlos Oliveira.

A localização dos estádios, as datas de construção e demolição e outras histórias podem ser consultadas no site do projeto.