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Luto de mães que perderam seus filhos é retratado em livro

Mulheres enlutadas reunidas em grupo de rede social encontraram na escrita de Marina Miranda Fiúza a honestidade necessária para contar suas histórias

‘A Lua e o Girassol: Um dia mães em luto, outro dia mães em luz’ tem prefácio escrito por Valter Hugo Mãe
‘A Lua e o Girassol: Um dia mães em luto, outro dia mães em luz’ tem prefácio escrito por Valter Hugo Mãe Divulgação

Viúva é o nome que se dá à mulher que perde o cônjuge. Órfã é como chamamos a mulher que perde os pais. Para aquela que perde um filho, entretanto, não se usa nenhuma palavra específica. Essa experiência, de acordo com a escritora Marina Miranda Fiúza, não é passível de nomeação. Seu último livro, A Lua e o Girassol: Um dia mães em luto, outro dia mães em luz, busca retratar a experiência de se viver o inominável. A partir do depoimento de sete mães, cujos filhos, de diferentes idades, faleceram em circunstâncias diversas, a autora busca compreender e auxiliar o processo visceral de luto dessas mulheres.

A escritora Marina Miranda Fiúza concedeu entrevista ao programa Universo Literário nesta quinta, 27, sobre a obra e seu fazer. Na conversa, a autora contou como nasceu a ideia da publicação. Ela conheceu um grupo de mães enlutadas no Facebook por intermédio de uma participante e amiga. As mulheres já nutriam o desejo de transformar suas experiências em livro, mas faltava quem o escrevesse, pois sempre que liam conteúdos sobre o assunto encontravam um tom que não as agradava. Foi então que conheceram a escrita de Marina, que havia perdido um irmão em 2012 e feito alguns textos sobre o luto. Ali estava a honestidade que elas buscavam para confiar seus relatos e, assim, publicá-los.

“O desafio da escrita foi não me apropriar de uma experiência que não é minha, mas de me colocar nesse intermédio entre as experiências delas e o livro escrito. Uma coisa que irrita, que eu observo nos depoimentos das pessoas enlutadas, é quando alguém se apropria da sua dor e fala: ‘Eu sei exatamente o que você está passando porque eu passei por isso’. Às vezes, até fazem umas comparações muito injustas: ‘Meu cachorro morreu nesse mês e eu sei exatamente o que você está sentindo’. Então, eu acho que nenhum luto é comparável. Cada luto é diferente porque cada relação é diferente”, refletiu.

Formada em Letras pela UFMG, a convidada destacou o papel que a graduação teve em seu passos na literatura. Ela também comentou os diferentes perfis entre as sete mães enlutadas que entrevistou. O período dos lutos retratados varia muito – entre oito anos, o mais recente, e 30, o mais antigo. Ela também ressaltou a alegria te ter o prefácio da obra escrito pelo português Valter Hugo Mãe, após meses esperando um e-mail de resposta ao convite, e do retorno positivo que teve tanto do público geral – com muitas mensagens contando da identificação que tiveram e de seus próprios processos de luto – e das mães entrevistadas. Segundo a escritora, o livro levou familiares delas a se expressarem, demonstrando uma solidariedade que não conseguiram na época das mortes.

Produção: Laura Portugal e Marden Ferreira, sob orientação de Luiza Glória e Hugo Rafael
Publicação: Alessandra Dantas