Saúde

Meditação e relaxamento ajudam a domar o estresse da pandemia

Projetos de yoga e mindfulness, que já eram oferecidos pela Faculdade de Medicina, foram adaptados ao atual cenário

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Jiwanpreet Singh, do projeto Kundalini Yoga: canal no YouTube para dar continuidade às atividadesReprodução Youtube

Manejo do estresse, relaxamento e equilíbrio emocional. O desafio de buscar o bem-estar emocional cresceu com a pandemia de covid-19, e muitas pessoas têm recorrido a práticas como yoga e mindfulness. Para que essas atividades – cujos benefícios são reconhecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – continuem sendo ofertadas a profissionais de saúde e à população em geral, alguns projetos da Faculdade de Medicina da UFMG mantiveram o atendimento, adaptando-se às circunstâncias impostas pelas medidas de isolamento social.

Uma das iniciativas é o projeto Kundalini Yoga: estilo de vida e saúde mental, que desde 2019 integra o Programa de Extensão Terapias Complementares, coordenado pelo professor Rubens Tavares, do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina. Antes da pandemia, as aulas eram ofertadas nos campi Saúde e Pampulha, sob a coordenação da professora Maria Cristina Rosa, da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO). Recentemente, a prática passou a ser ofertada no ambiente virtual.

“Com base nessa demanda, adaptamos as aulas do projeto de extensão para o formato on-line e criamos um canal no Youtube, por meio do qual oferecemos meditações semanais para o público em geral e profissionais de saúde”, explica um dos coordenadores do projeto, Jiwanpreet Singh, integrante da Associação de Amigos do Kundalini Yoga (ABAKY).

Entre os projetos parceiros, está o TelePan Saúde, que oferta a modalidade de yoga a profissionais de saúde que atuam no combate a covid-19. Outro projeto atendido é o Adote a sua Vizinhança em Tempos de Coronavírus. Um curso a distância sobre qualidade de vida e meditação é oferecido a educadores e auxiliares em saúde de municípios de Minas Gerais, em especial da região do Vale do Jequitinhonha.

De acordo com Jiwanpreet Singh, a prática ajuda o corpo e a mente a se integrarem. “O cérebro e toda a função neuro-hormonal se ajustam, o que resulta rapidamente em benefícios concretos, como vigor e clareza mental”, explica.

Kundalini é uma das muitas modalidades de yoga. E não há evidências científicas da superioridade de uma prática sobre a outra. No SUS, a yoga é um dos 29 procedimentos de práticas integrativas e complementares (PICS) ofertados.

Atuação complementar
O professor Rubens Tavares, que coordena o Programa de Extensão Terapias Complementares, ressalta que essa prática milenar atua em uma perspectiva mais ampla de saúde que vai ao encontro das diretrizes da própria OMS. “Não há intenção de substituir o tratamento médico alopático, mas atuar, sempre que possível, de forma complementar, com o intuito de ajudar na melhoria da saúde física, mental e espiritual das pessoas”, pondera.

Em “tempos normais”, o Laboratório do Movimento da Faculdade de Medicina oferece aulas de hatha yoga a alunos, funcionários, professores e outros interessados, por meio de projeto de extensão coordenado pela professora Ivana Aleixo, da EEFFTO.

Lívia Galaxe:
Lívia Galaxe: lives às quartas-feirasArquivo pessoal

Segundo a condutora das aulas, Lívia Galaxe, para ajudar as pessoas a manter uma prática saudável pela yoga, o projeto migrou para o ambiente on-line, com o dobro do tempo de aula habitual e valor reduzido da mensalidade. Além disso, lives são transmitidas às quartas-feiras pelo YouTube. “Mais do que nunca, a prática de yoga pode ajudar as pessoas a controlar os impactos das mudanças na rotina e as alterações nos sentimentos”, avalia Lívia. As técnicas mais utilizadas nessa modalidade de yoga são posturas físicas, exercícios respiratórios e de meditação. Os interessados em participar das atividades – algumas delas gratuitas – podem se inscrever na página da professora.

Atenção ao presente
Outra prática considerada integrativa é a meditação mindfulness, que é alvo de estudos de pesquisadores da Faculdade de Medicina e ofertada à comunidade universitária. De acordo com a professora Sara Paiva, do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, trata-se de técnica milenar baseada no budismo e que preconiza a atenção plena, isto é, atentar-se ao presente, ao aqui e agora. “Há uma preocupação em ocupar a mente com coisas que ainda não aconteceram e podem não acontecer, ou seja, o corpo está no presente, mas a cabeça no futuro. Quando pratico mindfullness, o corpo está no presente e a minha cabeça também está voltada para o agora”, explica.

A modalidade envolve dois tipos de prática: uma é a formal, que consiste na meditação. Seus praticantes prestam atenção na respiração e nas sensações corporais, deixando os pensamentos livres e aceitando os sentimentos que vêm junto para depois deixá-los seguir adiante. A outra é a prática informal, centrada no cotidiano, o que significa prestar atenção a cada momento, independentemente da atividade. “Se você está escutando música, deve prestar atenção nela e somente escutar a música. Em qualquer situação da vida cotidiana, você pode desenvolver a atenção plena”, exemplifica Sara Paiva.

prática informal, centrada no cotidiano, o que significa prestar atenção a cada momento
A prática de mindfulness baseia-se no princípio de que se deve prestar atenção a cada momentoCarol Morena / Faculdade de Medicina

A professora coordena programa que oferta a prática para funcionários do Hospital das Clínicas e de outras áreas da saúde da UFMG. Esses profissionais participam de encontros semanais mesmo durante a pandemia. Eles recebem uma técnica, geralmente formal, para ser praticada em seguida. “É muito importante que tudo o que a gente ensina para melhorar a qualidade de vida e diminuir o estresse e a ansiedade seja embasado em evidências científicas”, destaca Sara.

Segundo a professora, é exatamente isso que a UFMG tem feito, por meio de grupo de pesquisa da Faculdade de Medicina que estuda as técnicas do mindfulness. “Desenvolvo estudos com  mulheres que sofrem violência sexual e com mulheres em situação de vulnerabilidade, e vamos iniciar, em breve, trabalhos com pacientes que têm problemas respiratórios graves e crônicos”, exemplifica. A prática também é estudada na disciplina optativa Mindfulness e gestão do estresse.

Sara Paiva também é uma das facilitadoras do Núcleo de Mindfulness (Numi), primeiro centro sediado em Belo Horizonte para estudo, ensino, prática e divulgação da prática. O Núcleo, em parceria com o Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, está com inscrições abertas para o Encontro de autocuidado feminino, com os temas pausar, acolher e cuidar.

O evento, on-line e gratuito, é aberto a mulheres com mais de 18 anos. A atividade será realizada na terça-feira, 7 de julho, das 19h30 às 21h30, pela plataforma Zoom. As estudantes da UFMG que participarem do evento receberão certificado emitido pelo Centro de Extensão da Faculdade de Medicina.

Karla Scarmigliat / Centro de Comunicação da Faculdade de Medicina