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Mês da Consciência Negra: a trajetória da professora Viviane Alves, do ICB

Referência no campo da Microbiologia, ela tem-se destacado também na divulgação científica, por levar ao público da periferia, de forma acessível, informações sobre a covid-19

Professora Viviane de Souza Alves do Departamento de Microbiologia da UFMG e chefe do Laboratório de Biologia Celular de Microrganismos da UFMG
Viviane de Souza Alves é chefe do Laboratório de Biologia Celular de Microrganismos do ICB-UFMGArquivo pessoal | 2020

De acordo com pesquisa encomendada pelo portal de notícias UOL, com base em dados do Censo da Educação Superior, havia, em 2018, 65.249 professores negros no ensino superior brasileiro, o que representa apenas 16,4% do total de
docentes universitários. A professora do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e chefe do Laboratório de Biologia Celular de Microrganismos da UFMG, Viviane de Souza Alves, faz parte desse grupo. Ela é uma das maiores referências no campo da microbiologia no Brasil e também uma das mais ativas divulgadoras científicas da covid-19 no país. Neste mês da Consciência Negra, a Rádio UFMG Educativa traçou um perfil da professora Viviane, da infância à consolidada carreira científica na vida adulta.

Professora Viviane de Souza Alves com alguns dos seus primeiros alunos na UFMG
Viviane com alguns dos seus primeiros alunos na UFMG: difícil conciliação de maternidade e pesquisaArquivo pessoal | 2011

Foram vários os desafios que Viviane Alves enfrentou para integrar o corpo de professores de uma universidade pública. Ainda na infância, ela se apaixonou pela natureza e sentiu o desejo de se aventurar no mundo da ciência. “As pessoas às vezes não acreditam, mas, desde pequena, quando eu brincava com os meus amigos, já gostava de planta, bichinho, criava caramujo, borboleta. E queria ser cientista”, conta a professora. 

A pesquisadora sempre gostou de estudar e também foi muito incentivada pela família a se dedicar na escola. Desde cedo, aprendeu que o caminho dos estudos era muito importante, especialmente por ser uma menina negra. “Estudei em escola pública até o ensino fundamental. No ensino médio, minha mãe investia a pensão do meu pai, que faleceu, em uma escola particular, para que eu tivesse chance de passar na UFMG”, lembra a professora.

Professora Viviane de Souza Alves com a mãe
Viviane com a mãe: paixão de infância pela naturezaArquivo pessoal | 1981/1983

Depois da tão sonhada vaga na universidade, o sonho de ser cientista ficava mais próximo, mas surgiram outros obstáculos. Viviane era a única mulher negra da turma e se deparou com as dificuldades impostas pelo racismo no ambiente acadêmico. Ao longo do mestrado e do doutorado, a professora também enfrentou diversos desafios para conciliar maternidade e pesquisa, além de ter enfrentado problemas familiares.

Em 2010, Viviane Alves foi aprovada como docente no Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. Atualmente, ela é coordenadora de divulgação científica do departamento, trabalho que se intensificou durante a pandemia da covid-19, devido à paralisação de suas pesquisas em laboratório. Viviane, desde então, tem promovido a conscientização acerca do coronavírus por meio das redes sociais, para as quais produz conteúdos didáticos e acessíveis à população.

Professora Viviane de Souza Alves e os demais selecionados no edital do Instituto Serrapilheira em 2020
Viviane Alves e os demais selecionados no edital do Instituto Serrapilheira em 2020 Arquivo pessoal | 2020

Recentemente, mais um projeto entrou para a sua extensa lista de atividades. O podcast MicroBios, criado por ela e Lucas Gonçalves, do mestrado profissional em Microbiologia, juntamente com a equipe de graduandos e pós-graduandos do departamento, foi um dos oito selecionados no edital do Instituto Serrapilheira em 2020. O podcast será destinado às comunidades periféricas e aglomerados, com o objetivo de demonstrar, de forma didática, como os microrganismos são essenciais para a vida. A professora fala sobre a importância de uma divulgação científica acessível para o público leigo.

“A população tem necessidade muito grande de uma linguagem simples e objetiva para entender como se proteger. Apesar de muita gente fazer divulgação científica, a maior parte desse trabalho não é para o povo, é para outros cientistas e usa linguagens complexas e jargões de laboratório. Então, eu comecei a ler artigos científicos e a postar tudo aquilo que interessava à população, desde como diluir água sanitária até como usar a máscara. E tem que ser a linguagem do povo, para a população do subúrbio, da zona norte, de aglomerados e de vilas entender. Tem sido extremamente prazeroso ajudar da forma que eu posso e me colocar no lugar da população que está vivendo esse momento difícil. Isso foi o mais importante. E aí eu me tornei uma divulgadora científica de verdade”, relata a professora Viviane.

Ouça o programa especial sobre a trajetória da professora Viviane de Souza Alves

O perfil da professora Viviane de Souza Alves é apresentado por Camila Meira, com produção de Camila Meira e Arthur Bugre, edição de Alessandra Ribeiro, coordenação de jornalismo de Paula Alkmim e trabalhos técnicos de Breno Rodrigues.