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Morre o professor emérito José Alberto Magno de Carvalho, da Face

Considerado o criador da demografia no Brasil, ele foi um dos fundadores do Cedeplar; sepultamento será em São Vicente de Minas, cidade natal

José Alberto:
José Alberto: referência na demografia e na gestão universitária  Foca Lisboa | UFMG

Morreu na madrugada desta terça-feira, 27, aos 79 anos, o professor emérito José Alberto Magno de Carvalho, da Faculdade de Ciências Econômicas (Face). Nas últimas semanas, após uma queda em casa, esteve na UTI, teve uma parada cardíaca e, por fim, sofreu falência gradual de órgãos. O sepultamento será em sua cidade natal, São Vicente de Minas, no Sul do estado.

José Alberto é considerado o criador da demografia brasileira e integrou o grupo de fundadores do Centro de Estudos em Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), vinculado à Face, que dirigiu por quatro mandatos, nas décadas de 1970 e 1980. Também comandou a Faculdade (1986-1990 e 2006-2010) e integrou as instâncias colegiadas superiores da Universidade.

A reitora Sandra Regina Goulart Almeida afirmou que é uma perda muito grande para a UFMG. "O professor José Alberto era uma referência, não apenas em seu campo de atuação, mas também na gestão da Universidade, na qual atuou intensamente e deixou um grande legado. Manifestamos nossa solidariedade aos familiares, amigos e a toda comunidade da Face", disse.

Agraciado com o título de Professor Emérito em dezembro de 2010, José Alberto Magno de Carvalho frequentou diariamente a UFMG até o início das restrições de contato social provocadas pela pandemia de covid-19. “E, até o acidente, não deixou de trabalhar em casa”, diz Hugo da Gama Cerqueira, diretor da Face.

Para Cerqueira, além da inigualável contribuição para os estudos demográficos – “sua história se confunde com a da área no país”, ele sentencia –, José Alberto destacou-se pela “capacidade de criar e consolidar instituições”. Ele foi fundador e primeiro presidente da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep) e também presidiu a União Internacional de Estudos Científicos sobre População (IUSSP). Atuou como consultor do IBGE e das Nações Unidas, entre outras instituições.

Pioneirismo
Colega e amigo por 44 anos, o professor Clélio Campolina destaca a relação de seis décadas de José Alberto com a UFMG – ele ingressou como aluno em 1961 e tornou-se professor em 1966 – e o pioneirismo nas abordagens da demografia. “Há muitos anos, quando ninguém falava no assunto, José Alberto previu as grandes mudanças da estrutura etária brasileira e projetou efeitos do envelhecimento da população sobre saúde e previdência”, afirma Campolina, lembrando que ele formou gerações de pesquisadores, muitos deles oriundos de países da América Latina e da África.

Campolina, reitor da UFMG na gestão 2010-2014, acrescenta que José Alberto sempre pôs a Universidade em primeiro lugar e não valorizava projetos pessoais. “Era uma pessoa colaborativa e simples, e isso se mostrava também na sua ligação com a família e as raízes no interior”, diz o amigo, informando que ele era o mais velho de 11 irmãos e perdeu o pai ainda na época em que se graduou. “Ele gostava muito de pescar e mantinha uma represa em sua pequena fazenda em São Vicente de Minas", diz Campolina.

Guilherme Quaresma defendeu sua tese de doutorado em demografia em maio de 2019 e foi o último orientando de José Alberto. Ele lembra que as aulas do mestre eram muitas vezes "só no gogó". "A maior preocupação não era que entendêssemos cálculo ou matemática, mas o que ele chamava de raciocínio demográfico. Sabia passar confiança no caminho escolhido e estava sempre atento ao bem-estar do aluno. Percebia quando eu não estava bem e fazia questão de conversar, para acalmar meu espírito", diz Guilherme, recordando também que José Alberto levava verduras plantadas em casa para o pessoal do Cedeplar e que costumavam brincar sobre a rivalidade no futebol. "Eu sou cruzeirense, e ele era atleticano doente", conta.

Primeiro doutor
José Alberto Magno de Carvalho formou-se em economia na Face em 1964 e obteve os títulos de mestre e doutor em demografia pela London School of Economics – foi o primeiro brasileiro a tornar-se doutor em demografia. Participou ativamente da criação e consolidação dos programas de pós-graduação em Economia e Demografia da UFMG e, além do Cedeplar, esteve à frente também da Fundação Ipead.

A ênfase de sua atuação como pesquisador recaiu sobre componentes da dinâmica demográfica, e seus estudos focaram campos como demografia brasileira, tendências populacionais, migração e fecundidade.

José Alberto deixa viúva, três filhas, um filho e oito netos.

Em 2011, o Boletim UFMG publicou um perfil do professor. Há três anos, ele teve uma conversa gravada em vídeo na celebração dos 90 anos da Universidade. 

Itamar Rigueira Jr.