Pesquisa e Inovação

Campus Pampulha deve ser território multifuncional, defende dissertação

Em estudo, arquiteto da UFMG analisa mudanças na concepção da cidade universitária ao longo da história

Vista aérea do campus Pampulha,
Vista do campus Pampulha, cujas etapas de construção foram resgatadas no estudoFoca Lisboa / UFMG

Uma cidade universitária deve ser um território de usos e atividades diversas ou uma redoma para abrigar o saber e a ciência? Essa pergunta serviu como guia para a discussão contida no trabalho de mestrado do arquiteto Eduardo Fajardo Soares, servidor da UFMG desde 1980. Testemunha de debates, obras e reviravoltas relacionadas à conformação do campus Pampulha nessas últimas quase quatro décadas, Fajardo recua ainda mais no tempo para resgatar a história do campus e defende enfaticamente que a cidade universitária da UFMG, como qualquer espaço urbano, deve ser multifuncional.

Em sua dissertação, tema de reportagem publicada na edição 1994 do Boletim UFMG, Fajardo faz o elogio dos princípios de plano paisagístico elaborado no final dos anos 1960, que priorizava o conforto dos pedestres, embora sem descuidar da circulação de automóveis, e exalta também a concepção construtiva (sistema estrutural modulado) representada, por exemplo, pelos prédios da Fafich e das escolas de Belas Artes e Ciência da Informação, que favorece a interconexão dos diversos cursos e prédios.

“Esse modelo possibilita interação, tem espaços de reuniões como livrarias, cantinas e os próprios corredores-ruas, como numa pequena cidade. Além disso, a ideia era ‘emendar’ os prédios com passarelas, facilitando a convivência entre as áreas acadêmicas e os cursos", diz o coordenador adjunto do Laboratório de Arquitetura Pública (LAP), da Escola de Arquitetura.

Segundo o arquiteto e pesquisador, o projeto Campus 2000 rompeu com essa ideia de sequência e unidade, optando por edifícios – como os da Faculdade de Farmácia, da Escola de Engenharia e da Faculdade de Ciências Econômicas – afastados das ruas e contornados por grandes paredes. “Adotou-se uma linguagem arquitetônica que reduziu o sentido original, com unidades isoladas umas das outras e estruturas convencionais. Os prédios lembram territórios fechados e não favorecem o convívio”, afirma Eduardo Fajardo.

Neoclássico e modernista

Em seu trabalho, ele resgata a história da idealização e das diversas etapas de construção do campus Pampulha, desde a inauguração da UMG, em 1927 (na época, a ideia era instalar a Universidade na área central de Belo Horizonte, nos limites da Avenida do Contorno). O pesquisador relata que, uma vez decidida a instalação da sede principal na Pampulha, cogitou-se adotar projeto “neoclássico, conservador, de feições fascistas”, do carioca Eduardo Pederneiras, e, mais tarde, implantou-se a concepção de grupo liderado por Eduardo Guimarães Jr., de orientação modernista. 

“Com o pavilhão de aulas do Instituto de Ciências Exatas e o prédio do Departamento de Química, Guimarães Jr. inaugurou a experiência de uma construção mais racional, modulada, semi-pré-moldada”, diz o autor. Com a morte de Guimarães Jr. e a reforma universitária, no final da década de 1960, foi aprovado plano coordenado pelo paisagista Waldemar Cordeiro, que contou com parceria de equipe da UFMG. “Era um plano mais aberto à cidade e mais preocupado com questões funcionais e ambientais, com construções flexíveis tanto em relação ao uso quanto ao potencial de crescimento”, diz Fajardo, ressaltando que o Projeto Campus 2000 – destinado a responder à necessidade de novos prédios, inclusive para transferência de unidades do centro da cidade – seguiu direção muito diferente, apoiado em argumentos econômicos, entre outros.

Segundo o arquiteto, a nova visão gerou prédios “opacos, ensimesmados”, de arquitetura “ascética e enfadonha”. “Há muitos espaços residuais, ou seja, sem qualquer função, pátios negativos (sem uso ou de uso conflitante, em razão da proximidade das janelas de salas de aula, por exemplo), jardins debaixo de áreas cobertas”, salienta o pesquisador, lembrando que os Centros de Atividades Didáticas 1 e 2 seguem orientação semelhante.

Na mesma linha de raciocínio, Eduardo Fajardo defende a preservação de campos de futebol que seriam transformados em estacionamentos, o estímulo à circulação de bicicletas, a realização de feiras e programação noturna mais intensa, incluindo sessões de cinema. “A promoção de múltiplas atividades estende a permanência das pessoas e cria mais segurança no campus”, argumenta.

Dissertação: Cidade universitária da UFMG: um território urbano em um campus?
Autor: Eduardo Fajardo Soares
Orientador: Leonardo Barci Castriota
Defesa: dezembro de 2016, no Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável

Itamar Rigueira Jr. / Boletim 1994