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Nilma Gomes: diversidade redefine relação com o conhecimento

Aula magna abriu oficialmente ano letivo para calouros de cursos noturnos

Nilma Lino ministrou aula magna para calouros de cursos noturnos
Nilma Lino Gomes: "superar a miséria e a violência do mundo é da nossa conta"Foca Lisboa / UFMG

O campo do conhecimento tem a potência de dialogar de forma emancipatória com a diversidade, para torná-la trunfo na luta contra as desigualdades, afirmou a professora Nilma Lino Gomes, da Faculdade de Educação, em aula magna para os calouros de cursos noturnos de graduação da UFMG, na noite desta quinta-feira, 1º, no campus Pampulha.

A ex-titular do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos chamou a atenção para o compromisso daqueles que têm acesso ao ensino público superior. “Não é possível viver confortável e usufruir desse direito sabendo que muitas pessoas ainda passam fome, vivem na miséria e sequer chegam ao ensino fundamental”, enfatizou. “É nosso compromisso, ao nos formarmos em uma universidade pública, atuar para que situações como essas deixem de existir”, disse.

Doutora em antropologia social, com pós-doutorado em sociologia, Nilma Lino comentou que os novos alunos chegam a uma UFMG muito mais diversa, indagadora, desafiadora e complexa do que a que ela conheceu como estudante de graduação nos anos 1980. Mudanças, segundo ela, que são fruto de lutas dos movimentos sociais por uma sociedade mais inclusiva.

Neste ano, além da reserva de vagas para estudantes oriundos de escolas públicas e autodeclarados negros (pretos ou pardos) ou indígenas, quase 400 vagas estão reservadas a pessoas com deficiência, em cumprimento à Lei 13.409/2016, aplicada pela primeira vez na UFMG. Trata-se do maior contingente de estudantes com deficiência que ingressa simultaneamente nos cursos da Universidade.

“Vocês estão em tempos de ações afirmativas”, ressaltou a professora. E explicou à jovem plateia que ações afirmativas são políticas de correções de desigualdades, capazes de transformar, em pouco tempo, realidades cristalizadas. “Essas ações são a maneira mais enfática de demonstrar que diferença não é inferioridade”, completou.

Nilma Lino Gomes ponderou, no entanto, que a diversidade nem sempre é bem aceita, “porque escancara a face oculta das relações de poder na sociedade e na própria universidade”. Para a professora, a diversidade tem a capacidade de expor posturas internas e arraigadas de preconceito e arrogância, “quando o outro que estava longe de nós passa a conviver conosco na mesma horizontalidade, no mesmo lugar de direitos”.

A professora afirmou que a atual efervescência social e mundial tem impacto na produção do conhecimento, em todas as áreas, pois obriga as pessoas a verem o outro, o diferente, não somente na sua diferença, mas principalmente reivindicando o direito à sua diferença e, ao mesmo tempo, a igualdade de direitos.

Ela lembrou que os calouros se tornarão profissionais que lidarão com questões sociais, culturais, humanas, pedagógicas, artísticas, políticas e tecnológicas que estão tensionadas tanto pelo mundo do capital quanto pela luta por direitos.

Em sua opinião, esses profissionais precisam compreender melhor a relação entre diversidade e conhecimento, de modo a alcançarem a possibilidade de construir uma ética cidadã e global, pautada na solidariedade e na indignação diante de toda e qualquer forma de injustiça e opressão. “Uma ética que nos ensine que a superação da violência e da miséria do mundo é da nossa conta, independentemente do nosso curso e da nossa área do conhecimento”, reiterou.

Para Nilma Lino, entender a relação entre universidade, diversidade e conhecimento significa compreender que a presença dos sujeitos diversos em condições de igualdade é um exercício de cidadania.

Como mensagem final para os calouros, a professora pediu que entendam que a relação entre diversidade e conhecimento não é um problema, não é algo que deva ser calado. “Quando reconhecemos essa relação, nos colocamos no campo das lutas por direitos. E nesse momento precisamos descolonizar as mentes, os corações, as práticas e o conhecimento, para nos tornarmos cada vez mais sujeitos emancipatórios e sujeitos de direitos.”

Certeza e esperança
Ao abrir a solenidade, a vice-reitora e reitora eleita para a gestão 2018-2022, Sandra Goulart Almeida, disse ter a certeza de que na UFMG os novos alunos receberão educação de qualidade, com a esperança de que ela seja transformadora, ajudando-os a se tornarem cidadãos cada vez mais comprometidos com o país.

Sandra Almeida fez menção ao vídeo transmitido na abertura do evento em que a Universidade afirma a posição oficial contra o trote (assista abaixo) e disse acreditar no poder transformador das universidades públicas. "Aqui é o lugar de formação cidadã", disse.

Antes da aula magna, houve apresentação do Quarteto de Saxofones da Escola de Música, coordenado pelo professor Robson Saquett.

Quarteto de Saxofones da Escola de Música, coordenado pelo professor Robson Saquett (primeiro à esquerda)
Quarteto de Saxofones da Escola de Música, coordenado pelo professor Robson Saquett (primeiro à esquerda) Foca Lisboa / UFMG