Coberturas especiais

Número de doadores de órgãos cai 6,5% no Brasil no primeiro semestre de 2020

Em entrevista à Rádio UFMG Educativa, diretor-geral do MG Transplantes, Omar Lopes Cançado, falou dos impactos da pandemia na queda das doações

Pandemia contribuiu para queda nas doações em todo o país
Pandemia contribuiu para queda nas doações em todo o país Foto: Ascom da Secretaria de Saúde RJ / Fotos publicas / CC BY-NC 2.0

No Brasil, a taxa de doadores de órgãos caiu 6,5% no primeiro semestre de 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos divulgado neste mês. Nos primeiros três meses de 2020, antes do fortalecimento das medidas de distanciamento social em decorrência da pandemia de covid-19, a taxa nacional foi de 18,4 doadores efetivos por milhão de população, mas esse índice caiu e fechou o semestre em 15,8 doadores por milhão. 

Em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta quinta-feira, 27, o médico Omar Lopes Cançado, diretor-geral do MG Transplantes, instituição responsável por coordenar a política de transplante de órgãos e tecidos em Minas Gerais, explicou que a pandemia do novo coronavírus ajuda a explicar essa queda geral no número de doadores de órgãos e tecidos no país.

“Todo paciente com quadro respiratório sugestivo de uma infecção viral, que pode até não ser covid-19, mas uma gripe comum, é automaticamente excluído, pelo risco de ser a covid-19. Aqueles pacientes que comprovadamente têm a infecção também são excluídos, pelo risco de transmissão da doença para o receptor. Além disso, com o isolamento social, houve também uma queda expressiva de cerca de 45% no número de traumatismos e acidentes, fator que impactou diretamente o número de doações”, contextualizou.

Ainda assim, apesar de a taxa nacional de doadores efetivos ter caído no país, em duas regiões a taxa registrou crescimento. Na região Sul, o aumento foi de 5%. Já no Sudeste, foi de 3%. Nas outras três regiões o índice caiu: a queda foi de 47% no Norte, 37% no Nordeste e 13% no Centro-Oeste. O diretor do MG Transplantes esclareceu ainda que a queda no número de doadores implica o consequente aumento do número de pacientes à espera de uma doação.

“Um doador pode doar vários órgãos e tecidos. Se a gente contar apenas os órgãos, uma única pessoa pode salvar até dez pessoas que estão na fila de espera. Se pensarmos também nos tecidos, que incluem pelo, ossos, tendões e córneas, esse número sobe para dezenas de pessoas. Por isso é muito importante que a taxa de doadores não caia”, explicou.

Cerca de 40 mil pessoas estão na lista de espera para receber um órgão no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. No Brasil, são realizados vários tipos de transplantes, como de coração, fígado, pâncreas, rim, pulmão, córnea e medula óssea. A fila é composta de um registro nacional único, mas, segundo Omar Cançado, a regionalização faz com que cada estado tenha a sua própria fila. "Os doadores de um estado vão preferencialmente doar para um receptor desse mesmo estado. Apesar de haver um registro único, isso é feito por causa do tamanho do Brasil, o que dificulta o deslocamento de órgãos entre os estados", esclareceu.

Ainda assim, a doação é um ato anônimo e não é possível direcionar o órgão doado a um paciente específico. De acordo com Omar Cançado, após a doação, as características do doador são inseridas no sistema nacional e o paciente que tiver a maior compatibilidade daquele doador é quem receberá o órgão. Uma lista, gerada por computador, organiza, por ordem de compatibilidade, as pessoas aptas a receberem a doação.

“Por isso, hoje não existe mais aquele tempo de espera. A gente não consegue mais falar quanto tempo uma pessoa vai ficar na fila à espera de um órgão, porque isso vai depender das condições do doador e do receptor. Pode ser que uma pessoa que esteja na fila há seis meses, não receba o órgão de um doador específico, e uma pessoa que está na fila há três, quatro dias receba aquele órgão, por causa da compatibilidade, que indica mais chances de o órgão funcionar naquele paciente”, esclareceu.

Ouça a conversa com Luíza Glória

Quem tem interesse em ser doador de órgãos, precisa conversar com família, parentes e amigos e deixar claro o desejo de doar órgãos, porque, de acordo com a legislação brasileira, a família é a única responsável por autorizar a doação. O MG Transplantes tem uma linha de telefone gratuita para orientar a população sobre a doação de órgãos. O número é 0800 283 7183.

Produção de Tiago de Holanda