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'Outra estação', da Rádio UFMG Educativa, indica dez razões para vacinar as crianças

Covid-19 é a doença que provoca mais mortes na população infantil brasileira entre aquelas com imunizantes disponíveis

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Crianças entre 5 e 11 anos já podem ser imunizadas seguindo a escala definida pelos municípiosGil Leonardi | Governo de Minas

Idosos são o grupo mais vulnerável à covid-19, e crianças que contraem o coronavírus não costumam ter muitas complicações. Essa é uma ideia bastante repetida nos dois últimos dois anos. E é fato: pessoas acima dos 60 anos têm muito mais chances de morrer por causa da infecção do que as crianças. Mas mesmo que elas morram proporcionalmente menos, cada vida conta. Ninguém quer perder o filho, o sobrinho, o irmão ou o neto para uma doença como essa. A boa notícia é que, graças às vacinas, é possível reduzir – e muito – esse risco, e finalmente chegou a hora de imunizá-las. 

O novo episódio do Outra estação, programa da Rádio UFMG Educativa, ouviu especialistas e apresenta 10 motivos que mostram por que é fundamental vacinar as crianças, para protegê-las e também para nos livrarmos dessa pandemia. Foram entrevistados Ricardo Gurgel, professor titular de Pediatria da Universidade Federal do Sergipe e membro do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Fernanda Penido Matozinhos, professora da Escola de Enfermagem da UFMG e líder do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Vacinação, Maria do Carmo Barros de Melo, docente titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Flávio da Fonseca, virologista do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, e Angélica Bastos, professora do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, autora de pesquisas sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) durante o doutorado na PUC Minas e o mestrado na UFMG. 


Mortes e sequelas por covid-19
Um total de 324 crianças de 5 a 11 anos já morreram de covid-19 no Brasil. Esses números foram disponibilizados neste mês pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, com dados de mais de sete mil cartórios de todo o país. A covid-19 já é a enfermidade que mais mata crianças e adolescentes no Brasil entre aquelas com vacina disponível no mercado, superando outras como sarampo, coqueluche e difteria. 

As taxas de mortalidade de crianças e adolescentes atribuídas à covid-19 no Brasil são inclusive superiores às de outros países. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria, até novembro de 2021, eram 41 mortes por milhão de habitantes; nos Estados Unidos, em período similar, a taxa era de 11 mortes por milhão; e no Reino Unido, de 4,5 mortes por milhão. 

A imunização desse público contribui para reduzir essas taxas, especialmente no cenário atual da pandemia em que a variante ômicron tem levado o mundo a bater novos recordes no número de casos por covid-19. Só no último dia 11 foram registradas cerca de 3,3 milhões de novas infecções ao redor do planeta. À medida que a transmissão vai escalando, sem vacina, o número de crianças que ficarão gravemente doentes e que podem morrer ou ter sequelas tende a aumentar.

Outro ponto importante a ser levado em conta é o fato de que a imunização não só evita mortes como também reduz o risco de quadros clínicos graves da doença que podem deixar rastros, como a covid longa ou a síndrome pós-covid. A covid longa ocorre quando os sintomas da doença, como fadiga, falta de ar, problemas psicológicos ou cognitivos, persistem mesmo após a superação da fase mais aguda da enfermidade. A vacina também diminui as chances de ocorrência da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica, inflamação que afeta diferentes órgãos do corpo de crianças com a doença. A Síndrome é rara, mas grave, e pode comprometer o desenvolvimento infantil.

Fernanda Penido Matozinhos investiga impactos do coronavírus na gravidez e amamentação
Fernanda Penido Matozinhos: "vacinas salvam vidas"Reprodução | TV UFMG

As vacinas são seguras
A autorização para a aplicação da vacina da Pfizer em crianças foi dada após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter feito uma análise técnica criteriosa dos estudos conduzidos pela farmacêutica. Eles atestaram que o imunizante é eficaz e seguro. A mesma indicação também foi feita pelas autoridades sanitárias dos Estados Unidos e da União Europeia. Isso ocorreu porque a vacina aplicada nas crianças passou por todas as fases de teste que são recomendadas pela comunidade científica.  

O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), país onde a vacina da Pfizer já está sendo aplicada na população infantil, analisou os dados de 8,7 milhões de crianças já imunizadas e concluiu que a ocorrência de efeitos adversos graves é muito rara. Os principais efeitos colaterais relatados são leves, como dor no local da aplicação da injeção, e passam rapidamente. 

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Flávio da Fonseca destaca que testes da vacina infantil foram conduzidos de forma ética e responsávelCT Vacinas (Arquivo)

Um direito previsto por lei
O Outra estação também destaca que a vacinação das crianças é um direito assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, que preconiza que “é obrigatória a vacinação das crianças nos casos apresentados pelas autoridades sanitárias”. Pais ou responsáveis que não levarem os filhos para atualizar a carteirinha de vacinação podem ser denunciados ao Conselho Tutelar e responsabilizados legalmente, sob o risco de pagamento de multa e até mesmo perda da guarda da criança.

A vacinação das crianças traz proteção individual e coletiva. Do ponto de vista individual, ela possibilita, por exemplo, que os pequenos possam retomar atividades presenciais, como as aulas, de uma forma mais segura, especialmente considerando que o aprendizado, o convívio social e o desenvolvimento delas já ficaram bastante prejudicados nos últimos dois anos. Do ponto de vista coletivo, a imunização da população infantil reduz a circulação do vírus e o risco do surgimento de novas variantes que podem prolongar ainda mais a crise sanitária. 

Benefícios superam riscos
A história e a ciência já comprovaram que as vacinas funcionam. Um estudo publicado na revista The Lancet, uma das publicações científicas mais importantes do mundo, estima que, somente nas últimas duas décadas, os imunizantes evitaram a morte de 37 milhões de crianças em países de baixa e média renda. O trabalho analisou a influência dos imunizantes contra dez doenças, como sarampo, rubéola, hepatite B e febre amarela. 

No contexto da covid-19, especialistas ouvidos pelo programa alertam que o fato de haver menos casos graves entre crianças não quer dizer que esse grupo deve ser negligenciado, ainda mais se já há recursos para protegê-las, como é o caso das vacinas. Os imunizantes não alteram o DNA das crianças, e diversos estudos já demonstraram que os benefícios de vaciná-las superam – e muito – os riscos. 

Para saber mais:

Relatório técnico da Fiocruz sobre covid-19 e saúde da criança e do adolescente

Nota conjunta das Sociedades Brasileiras de Pediatria e Cardiologia com recomendação para vacinação de crianças com cardiopatias

Anvisa aprova vacina da Pfizer contra Covid para crianças de 5 a 11 anos

Estudo da Fiocruz Covid-19: vacinar crianças é estratégico para aumentar cobertura vacinal no Brasil

Nota da Sociedade Brasileira de Pediatria Vacinas covid-19 em crianças no Brasil: Uma questão prioritária de saúde pública

Nota da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre os benefícios da vacinação

Relatório da Agência em Segurança de Saúde do Reino Unido sobre as variantes (em inglês)

Relatório técnico do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças sobre a vacinação de crianças de 5 a 11 anos (em inglês)

Página do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos que reúne mitos e verdades sobre a vacinação das crianças contra covid-19 (em inglês)

Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre mortalidade infantil no Brasil

Ouça o episódio 65 do Outra estação“Por que tomar a vacina?”

Produção
O episódio 84 do Outra estação, apresentado por Alicianne Gonçalves, teve produção de Paula Alkmim e trabalhos técnicos de Breno Rodrigues. A coordenação de jornalismo da Rádio UFMG Educativa é de Paula Alkmim. A coordenação de operações é de Judson Porto, e a de programação, de Luíza Glória.

Em sua segunda temporada, o programa vai ao ar quinzenalmente, às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h. Os episódios também podem ser ouvidos nos aplicativos de podcast, como o Spotify.