Saúde

Pandemia compromete saúde mental das mães

Acúmulo de tarefas e preocupação com o sustento e a saúde da família são fatores de estresse citados por mulheres ouvidas pelo programa 'Outra estação', da Rádio UFMG Educativa

Mãe solo, Verônica Vieira depende do pagamento do auxílio emergencial
Mãe solo, Verônica Vieira depende do pagamento do auxílio emergencial Foto: Arquivo pessoal

Vinte e oito de maio é o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres são o grupo mais vulnerável a problemas de saúde mental durante a pandemia da Covid-19. Nesse grupo delicado, concentram-se mães, gestantes e puérperas – as alterações hormonais da gravidez e do pós-parto as deixam ainda mais suscetíveis a quadros como ansiedade e depressão.

O episódio desta semana do programa Outra estação, da Rádio UFMG Educativa, reúne depoimentos de mulheres que esperam o nascimento de seus filhos isoladas dos familiares ou que perderam a rede de apoio em um momento decisivo. Mães que trabalham em home office falam sobre o desafio de conciliar cuidados com as crianças em tempo integral, enquanto as escolas permanecem com atividades suspensas. Há quem perdeu o emprego e, agora, conta apenas com os auxílios do governo para sustentar os filhos. E também mulheres que se dispõem a ajudar outras, em meio a tudo isso.

“Algumas crianças, por exemplo, têm aulas on-line, e a mãe tem de acompanhar esse processo. Ela exerce suas funções no trabalho, é a professora do filho, é a agente que vai higienizar, produzir, muitas vezes, a alimentação da casa, além de gerir todos esses sentimentos de mal-estar diante de um quadro de pandemia mundial”, alerta a psiquiatra Maila Castro, professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG e integrante da Comissão de Saúde da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria.

A professora de matemática Ana Luiza Rossi com o filho Rafael
A professora de matemática Ana Luiza Rossi com o filho Rafael Foto: acervo pessoal


Divisão sexual do trabalho

E qual o papel dos parceiros para minimizar a sobrecarga feminina, agravada pela pandemia? Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), enquanto 91% das mulheres afirmam fazer tarefas domésticas, apenas 55% dos homens dizem que cuidam do lar. São atividades como arrumar ou limpar a casa, cozinhar ou preparar alimentos, passar roupa, lavar roupa ou louça, cuidar de filhos ou pessoas idosas, entre outras. 

O desequilíbrio é resultado de um comportamento social resumido no conceito de divisão sexual do trabalho, como analisa a professora do Departamento de Ciência Política da UFMG Marlise Matos, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem).

“No capitalismo, uma grande massa de trabalho efetuada é considerada trabalho reprodutivo, não remunerado, gratuitamente realizado pelas mulheres. Recorrentemente, um trabalho que é invisível e cumprido em jornadas complementares dentro da casa. O que você tem como resultado disso é um segundo conceito muito importante, o de dupla jornada”.

Parto e amamentação

Ainda não há evidências científicas de que a infecção pelo novo coronavírus se dê de maneira diferente na gestação, mas grávidas e lactantes devem receber atenção especial. Especialistas dizem o que mudou no pré-natal, durante e após o parto para proteger as mães e também prevenir o contágio da nova doença para os recém-nascidos. Foram ouvidas a professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG Ana Luiza Lunardi Rocha e a coordenadora da Linha de Cuidado Maternoinfantil do Hospital Risoleta Neves, Patrícia Magalhães.

A amamentação continua sendo incentivada, ainda nas maternidades, que passaram a instruir as pacientes a usar máscaras e a redobrar o cuidado com a higienização das mãos. Segundo a OMS, as mães podem amamentar mesmo se estiverem com Covid-19. A mesma recomendação é feita em nota técnica do Ministério da Saúde, publicada em março. Entidades como a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia também recomendam o aleitamento, que pode inclusive proteger o bebê, por meio dos anticorpos presentes no leite materno.

Para saber mais

Protocolo de atendimento no parto, puerpério e abortamento durante a pandemia da Covid-19 - Febrasgo
Nota técnica do Ministério da Saúde sobre amamentação
O aleitamento materno nos tempos de Covid-19 - Sociedade Brasileira de Pediatria
OMS: O impacto da pandemia na saúde mental das pessoas já é extremamente preocupante
Gênero e número: Maioria entre informais, mulheres têm lugar central na inédita renda emergencial

Produção
O episódio 43 do programa Outra estação é apresentado por Alessandra Ribeiro e Alicianne Gonçalves, que também assinam a produção, com participação de Beatriz Kalil. A coordenação de jornalismo é de Paula Alkmim, e os trabalhos técnicos, de Breno Rodrigues. 

Outra estação aborda, semanalmente, um tema de interesse social. Na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM), vai ao ar às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h30. O conteúdo também está disponível nos aplicativos de podcast, como o Spotify.