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Pesquisador avalia impactos da Revolução Russa, que completa 100 anos em 2017

Em entrevista ao Programa Conexões, professor da Unisinos falou sobre movimento que depôs estrutura monárquica russa, alçando partido operário ao poder

Há cem anos, a Rússia foi tomada por uma onda revolucionária que depôs sua estrutura monárquica e elevou o partido operário ao poder. O país vivia, então, sob a monarquia do czar Nicolau II e teve suas estruturas política e social radicalmente modificadas. Todo esse processo foi denominado Revolução Russa, que tornou-se fundamental para entender a história do mundo no século 20.

Soldados e civis se manifestando durante a Revolução, em 1917
Soldados e civis se manifestando durante a Revolução, em 1917 Domínio público

A Revolução Comunista de 1917 foi realizada em dois momentos: o primeiro foi em fevereiro, com a queda do poder monárquico e a ascensão dos mencheviques (um dos grupos que formavam o Partido Operário Social-Democrata Russo, ao lado dos bolcheviques); o segundo, com a Revolução de Outubro (que ocorreu em novembro, no calendário ocidental), liderada pelo grupo bolchevique formado por Vladimir Lenin e seus seguidores, entre os quais, Josef Stalin.

“A ruptura revolucionária que ocorreu na Rússia se deve a uma série de fatores, como as insatisfações com a própria guerra (Primeira Guerra Mundial, 1914-1918), combinadas com a incapacidade de essas estruturas políticas absolutistas se adaptarem à modernização econômica, dada a rápida expansão do capitalismo na Europa e na própria Rússia, sobretudo na parte européia”, contextualizou Diego Pautasso, professor de Relações Internacionais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e autor do livro China e Rússia no Pós-Guerra Fria.

Em entrevista ao Programa Conexões desta segunda-feira, 6 de novembro, Pautasso destacou o papel das contradições entre estruturas institucionais antiquadas e uma rápida transformação das cidades e do operariado na produção de demandas que os mecanismos políticos então existentes não eram capazes de resolver. “Ou eles se adaptam ou são substituídos de maneira bruta, que é o que ocorreu na Revolução Russa”, avaliou.

Segundo Pautasso, ao se expandir para a Europa Oriental, o capitalismo levou consigo a educação do proletariado, a formação política, a consciência e a demanda por direitos. “A obra de Marx e a fundação da Primeira Internacional (Associação Internacional dos Trabalhadores), em meados do século 19, produziram muita agitação na Europa, nos círculos operários, sobretudo de Paris, Londres. Esse operariado começou a absorver e a discutir as idéias sob influência anarquista e comunista”, afirmou.

A Revolução Russa de 1917 se dividiu em duas revoluções menores. “A primeira fragilizou o governo e depôs a estrutura monárquica, com a instauração de um governo de transição e a existência de um poder paralelo, liderado pelos operários, que governavam com suas bases políticas do operariado. O governo de transição ficou completamente imobilizado até que a Revolução se completou em outubro”, explicou Pautasso.

“Em um primeiro momento, há diversas forças políticas revolucionárias, como mencheviques, bolcheviques, sociais-revolucionários e anarquistas. E em um segundo momento, ao longo dos dois anos da guerra civil, a hegemonia dos bolcheviques vai se consolidando e vai havendo uma concentração de poder que leva à hegemonia do partido liderado por Lenin”, contextualizou o professor.

Para Pautasso, Lenin foi o maior teórico e prático do socialismo na virada do século 19 para o século 20. “Ele teve a maior capacidade de traduzir e interpretar a obra de Marx e também de transformar essas idéias e reflexões em uma adaptação à realidade da Rússia. Embora Marx imaginasse que a revolução iria estourar nos países mais desenvolvidos, como França, Inglaterra e Alemanha, Lenin percebeu que ela iria estourar no elo fraco do capitalismo, que era a periferia da Europa, onde se localizava a Rússia naquele contexto”, avaliou.

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Dicas para conhecer mais sobre a Revolução Russa:

- Encouraçado de Potemkin, filme de Sergei Eisenstein, que retrata um levante de marinheiros que antecedeu a Revolução de 1917;

- Dez dias que abalaram o mundo, livro escrito pelo jornalista norte-americano John Reed, que reporta acontecimentos na cidade de Petrogrado presenciados pelo repórter durante a Revolução Russa.

Série Revolução Russa, 100 Anos

A Rádio UFMG Educativa veicula, ao longo desta semana, uma série de entrevistas sobre as dimensões histórica, cultural e política do movimento bolchevique.