Coberturas especiais

“Precisamos nos lembrar da posição que Marielle ocupava”, defende professora da UFMG

Pesquisadora do Crisp destacou que vereadora era uma voz contra as violações aos direitos humanos cometidas por organizações estatais

Marielle Franco: voz contra a violação dos direitos humanos
Marielle Franco: voz contra a violação dos direitos humanos Foto: Midia NINJA

As principais pautas da vereadora Marielle Franco (PSOL/RJ) eram o combate ao racismo e à violência policial contra moradores de vilas e comunidades. Na noite da última quarta-feira, 14, a vereadora do Rio de Janeiro foi morta a tiros na capital fluminense.

Marielle Franco voltava de um debate com jovens negras, quando um veículo se aproximou do carro em que ela estava e atirou várias vezes. Nenhum pertence foi levado. O motorista do carro, Anderson Pedro Gomes, também morreu. A principal hipótese é de que o crime tenha sido uma execução.

A professora Ludmila Ribeiro, do Departamento de Sociologia da UFMG e pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), falou sobre o assassinato de Marielle Franco e o que ele representa para a democracia brasileira em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta sexta-feira, 16.

“Mais do que uma mulher negra assassinada, precisamos nos lembrar da posição que Marielle ocupava: uma militante dos direitos humanos, que estava denunciando uma série de violações aos direitos humanos feitas por organizações estatais, como a Polícia Militar. Não é um homicídio comum, mas um homicídio por razões políticas”, explicou.

Para Ludmila Ribeiro, esse caso merece um tratamento distinto, pela repercussão que gerou em todo o país.

“Nós tivemos manifestações nas principais capitais brasileiras: no Rio de Janeiro, envolveu milhares de pessoas. É um fato importante e, por isso mesmo, merece ser tratado de uma forma distinta”, afirmou.

A pesquisadora acredita ainda que a motivação do crime foi silenciar a vereadora.

“Todos os indícios levam a crer que se trata de uma execução. Foram vários tiros, não foi levado nenhum pertence, ela havia acabado de sair de uma reunião na qual expunha, uma vez mais, como a PM estava atuando de forma ilegal em determinados espaços e como isso estava contribuindo para a elevadíssima mortalidade de jovens negros e de periferia no Rio de Janeiro”, contextualizou.

Outro fato que merece ser considerado nesse contexto e que, segundo a professora, é uma característica “muito peculiar” do Rio de Janeiro, é a elevada “letalidade policial” registrada no estado fluminense.

“Essas são as mortes decorrentes de ações policiais. Hoje, no estado do Rio de Janeiro, a polícia é responsável por 14,8% das mortes violentas, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2016. Isso significa que, se a polícia parasse de matar hoje, e nada mais mudasse no contexto da dinâmica de violência e criminalidade, a gente teria menos 14,8% de homicídios. Isso não é pouca coisa, é bastante problemático e sintomático”, explicou.

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Protestos

Em todo o Brasil, manifestações marcaram a tarde dessa quinta-feira, 15, em homenagem a Marielle Franco e Anderson Pedro Gomes. Nos protestos, os manifestantes também fizeram críticas ao governo Michel Temer e à violência sofrida por jovens negros e moradores de periferias.

Em Belo Horizonte, segundo a organização do ato, 30 mil pessoas participaram do protesto nas ruas do centro da capital. Também nessa quinta-feira, no Jornal UFMG, a professora Marlise Matos repercutiu, na coluna Gênero e Feminismo, a morte de Marielle Franco.

Nesta sexta-feira, 16, o Crisp inaugura uma série de encontros, às 14h, e o tema do primeiro é o encarceramento feminino. A atividade teve destaque na edição dessa quinta-feira, 15, do programa Conexões.