Pesquisa e Inovação

Professores da UFMG integram equipe que contestou artigo da Science sobre mudanças climáticas

Fernando Augusto Silveira, do ICB, falou sobre pontos sensíveis de artigo, publicado na edição de julho da revista, que defendia reflorestamento e florestamento para conter alterações no clima

Fernando Silveira, professor do ICB
Fernando Silveira, professor do ICB Foto: Arquivo pessoal

Em julho de 2019, um grupo de cientistas estrangeiros publicou, na revista Science, um dos periódicos científicos mais respeitado do mundo, estudo que defendia florestamento e reflorestamento de 900 milhões de hectares de áreas no mundo, a fim de amenizar o processo de mudança climática que atinge o planeta. O estudo gerou grande polêmica no mundo científico, pois, se correto o artigo, o simples plantio maciço de árvores compensaria cerca de um terço de todo o carbono emitido pelo homem, especialmente a partir da Revolução Industrial, no século 18.       

No mês passado, um grupo de 46 cientistas de todo o mundo, entre eles os professores da UFMG Fernando Augusto Silveira e Geraldo Wilson Fernandes, publicou, na mesma revista, um duro comentário técnico contestando esse artigo. A crítica é baseada em erros metodológicos encontrados na pesquisa. Segundo os pesquisadores, o artigo original superestima o chamado “sequestro de carbono” decorrente do florestamento e do reflorestamento. Em certos casos, medidas propostas pelo estudo colaborariam não para a redução do aquecimento global, mas para acelerá-lo, de acordo com os pesquisadores.

“A verdade é que o artigo contém vários erros metodológicos, a começar por partir de um conceito errado de floresta”, explicou Fernando Augusto. “Seus autores consideram como floresta qualquer área que tenha mais de 10% do terreno preenchido por árvores: isso é falta de conhecimento ecológico, que revela um colonialismo científico muito torpe. Estamos falando de pessoas que, em sua maioria, não têm formação de ecologia de campo, mas, sim, no campo da engenharia florestal ou da modelagem matemática. Eles só trabalham com modelos matemáticos; ignoram como a natureza funciona efetivamente, a complexidade de seus ecossistemas. Falam em plantar árvores em lugares em que o clima não consegue suportar, em que a terra não consegue suportar. Para essas pessoas, tudo é árvore”, desabafou o professor em entrevista ao Boletim UFMG.

Nesta segunda-feira, 11, o professor Fernando Augusto Silveira, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, falou sobre as críticas ao artigo publicado na Science de julho.

Ouça a conversa com Hugo Rafael

Debate na UFMG

Na semana que vem, a UFMG promove o evento Impactos presentes e futuros das mudanças climáticas no Brasil, com a presença dos professores Raoni Rajão e Britaldo Soares Filho, da UFMG, Naomi Oreskes, da Universidade de Harvard, e do senador Fabiano Contarato, que preside a Comissão de Meio Ambiente do Senado. O evento é gratuito e ocorre na segunda-feira, 18, às 10h, no Auditório da Reitoria da UFMG. As vagas são limitadas e as inscrições devem ser feitas no site do Ieat.

Produção: Rodolfo Morais, Fred Gandra e Bruno Esteves, sob orientação de Luíza Glória e Hugo Rafael