Pesquisa e Inovação

Artigo esclarece ação de saneantes indicados contra o coronavírus

Com participação de servidora do ICA, trabalho recomenda atenção aos rótulos dos produtos para evitar intoxicações

Apesar de bem embasados, rótulos de produtos de limpeza e desinfecção são escritos em linguagem de difícil compreensão
Apesar de bem embasados, rótulos de produtos de limpeza e desinfecção são escritos em linguagem de difícil compreensão Amanda Lelis / UFMG

Até que seja comprovada a eficácia de uma candidata à vacina contra o novo coronavírus, o isolamento social e hábitos de higiene e limpeza ainda são as únicas formas de prevenção. No artigo A química dos saneantes em tempos de covid-19: você sabe como isso funciona?, equipe de pesquisadores reuniu informações sobre os tipos de saneantes disponíveis no mercado, os modos de ação sobre o vírus e suas recomendações de uso.

Uma das autoras do estudo, a servidora Francine Fonseca, do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da UFMG, destaca que, desde o início da pandemia, foram divulgados dados sobre o aumento dos casos de intoxicação com produtos de limpeza e o registro da alta procura por álcool em gel no mercado, embora não seja o único produto eficaz contra o agente.

De acordo com Francine, o maior aliado do consumidor contra as intoxicações está no próprio produto, ou melhor, no seu rótulo, que reúne as principais informações sobre a composição e recomendações de uso. Mas a excessiva linguagem técnica expressa em textos de letra reduzida é um dos impedimentos para a compreensão das recomendações. “A indústria de saneantes tem muita preocupação em manter o controle de qualidade e o controle de processo, e os rótulos deixam essas informações disponíveis, mas temos muitas críticas em relação a eles. Talvez seja o momento de reivindicar que as empresas decodifiquem essa informação para alcançar o público”, ressaltou.

Em maio, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou nota técnica em que informa o crescimento dos casos de intoxicação com produtos de limpeza. Apesar da quantidade de informações confiáveis disponíveis, a pesquisadora chama atenção para a divulgação de notícias falsas pelas redes sociais. “Muitos procedimentos são condenados pela Anvisa. Mesmo assim, acabam difundidos pelos aplicativos de mensagens. Orientamos que os produtos sejam utilizados em concordância com as orientações do fabricante”, reforça Francine.

Francine:
Francine: aumento de casos de intoxicaçãoArquivo pessoal

A análise dos pesquisadores foi publicada no volume 43 da revista Química Nova. Na publicação, são expostos os principais saneantes de uso comum regularizados pela Anvisa. “A proposta foi explicar um pouco do mecanismo de ação e a concentração ideal, para que as pessoas entendam a motivação de utilizar o produto”, comenta a pesquisadora.

De olho nas indicações
O documento reúne detalhes sobre os álcoois, os sais quaternários de amônio, os fenóis e compostos fenólicos, o cloro e seus derivados e os peroxigênios. A pesquisadora chama atenção para as indicações de uso dos produtos. “O fenol, por exemplo, não é recomendado para ambientes com crianças, embora seja encontrado em produtos de limpeza muito conhecidos. É um saneante eficiente, com ação contra o coronavírus, mas é preciso cuidado com intoxicações”, destaca.

No caso da desinfecção de alimentos, Francine manifesta uma preocupação. “Não podem ser utilizados álcoois nem fenólicos. O hipoclorito de sódio é recomendado e apenas em concentração baixa” explicou. Além disso, não se deve usar vinagre ou bicarbonato de sódio contra o novo coronavírus, pois esses produtos não são efetivos. Já os sais quaternários de amônio são os mais indicados, de acordo com a pesquisadora, para desinfecção de pisos e banheiros. “Trata-se de moléculas encontradas em desinfetantes em geral."

Além de Francine, o artigo A química dos saneantes em tempos de covid-19: você sabe como isso funciona? é assinado pelos professores Maria Lair Sabóia, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Ramon Almeida, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, e Caroline Gonçalves, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).

Amanda Lelis / Cedecom Montes Claros