Coberturas especiais

Reitores brasileiros querem mais autonomia para gerir instituições

Dependência de Brasília e cortes no orçamento afetam universidades

Conferência segue até a próxima sexta, 15
Conferência segue até a próxima sexta, 15 de junhoComunicación CRES2018

Reunidos na III Conferência Regional de Educação Superior (Cres 2018), em Córdoba, na Argentina, dirigentes das universidades brasileiras têm uma queixa em comum: a falta de autonomia para gerir suas instituições. A autonomia está prevista na Reforma Universitária de Córdoba, de 1918, e na Constituição Brasileira de 1988. Para o reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rui Oppermann, a questão nunca saiu do papel. “Organismos de auditoria externa influenciam a gestão da universidade, as políticas das universidades.”

O vice-reitor de Universidade Federal de Pelotas, Luis Centeno do Amaral, afirma que o orçamento restringe a gestão das instituições. Isso porque os mecanismos de captação de recursos estão subordinados a Brasília, e autorizações são necessárias para geri-los. “Todo recurso que a gente capta de fonte própria acaba sendo retirado do nosso orçamento. Se nós captarmos R$50 milhões com a comunidade ou empresas da região, esses R$50 milhões são abatidos do valor que vem do governo federal", exemplifica Centeno do Amaral.

Excelência com relevância
Além do controle orçamentário, as universidades também sofrem com os cortes financeiros. Desde 2015, o governo federal reduziu em R$ 15 bilhões os repasses para a ciência brasileira, segundo levantamento da campanha Conhecimento sem Cortes. Para a reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, a discussão sobre o papel da universidade precisa ser feita logo, e a Cres 2018 é uma ótima oportunidade. “É o momento de nos unirmos para pensar o papel do Estado na manutenção de uma universidade que tem que ser de excelência, mas que precisa ser especialmente relevante.”

A situação complicada das universidades brasileiras influencia o cenário da educação superior na América Latina e Caribe, uma vez que a maior parte das matrículas da região está concentrada no Brasil. O diretor do Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior da América Latina e o Caribe, Pedro Henriquéz Guajardo, destaca que as mudanças políticas e a expansão do ensino superior privado tornam o cenário delicado. “O Brasil, neste momento, é uma incógnita. A situação era muito clara até alguns anos atrás, mas agora, com as mudanças políticas, existem diferentes abordagens para a situação", afirma.

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(*Com produção de Marcílio Lana)