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Crise hídrica no Brasil: causas e efeitos são analisados no programa Conexões

Professor Leo Heller apontou que o atual cenário pode provocar racionamento e aumento da tarifa de energia, afetar o direito humano de acesso à água e trazer consequências econômicas

A baixa capacidade dos sistemas hídricos de contornar as reduções de vazão podem agravar as crises de abastecimento de água e energia
A baixa capacidade dos sistemas hídricos de contornar as reduções de vazão podem agravar as crises de abastecimento de água e energia Divulgação/Copasa

O Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu, no dia 28 de maio, um alerta de emergência hídrica para o período entre junho e setembro em cinco estados, entre eles Minas Gerais. O último período chuvoso, que acabou em abril deste ano, foi o mais seco das últimas décadas, fazendo com que as hidrelétricas recebessem o menor volume de águas em 91 anos. O Sudeste, onde a situação dos reservatórios é pior, é responsável por cerca de 70% da produção de energia hidrelétrica do país.

Com o nível baixo dos reservatórios, o governo precisa acionar mais usinas termelétricas, de produção mais cara e poluente, a fim de garantir o fornecimento de energia. Também estão em alerta os seguintes estados: Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Além da questão energética, a seca tem provocado quebra de safra de importantes regiões produtoras de alimentos e pode se tornar uma crise de abastecimento de água para a população.

A crise hídrica e o agravamento da seca foram os temas abordados pelo Conexões desta segunda, 7. O programa recebeu o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz em Minas Gerais e professor voluntário do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, Leo Heller. Durante a entrevista, ao explicar o que é uma crise hídrica, o professor fez uma diferenciação entre estiagem e escassez, caracterizando a primeira como um processo natural de vazão baixa nos mananciais aquosos e a segunda como um fenômeno social em que as pessoas perdem o acesso à água e à energia.

De acordo com o pesquisador, essa falha na distribuição de água tem raízes no planejamento e nas políticas públicas de abastecimento da população. “Nos últimos anos tem havido uma certa diversificação das fontes de energia, então tem se recorrido mais a termelétricas e energia eólica, mas tudo depende do planejamento. O que me parece imperdoável é não colocar na equação do planejamento seja da energia, da irrigação, mas principalmente da água para consumo humano, a variável das mudanças climáticas. Não é mais permitido que os planejadores sejam pegos de surpresa pelas mudanças climáticas” avaliou.

O pesquisador da Fiocruz ainda frisou a preocupação com a tendência atual de privatização dos sistemas de abastecimento hídrico e chamou a atenção para o alto gasto e desperdício de água no setor agrícola, o que, segundo Heller, não sustenta a abordagem de responsabilizar o consumo doméstico pela crise de abastecimento.

Produção: Alessandra Dantas e Laura Portugual, sob orientação de Luiza Glória
Publicação: Flora Quaresma, sob orientação de Alessandra Dantas