Pesquisa e Inovação

Sair do isolamento social pode ser prejudicial para a economia mineira

Estudo do Cedeplar indica que a flexibilização prematura do distanciamento social em Minas Gerais elevaria a perda na economia do estado em cerca de R$ 50 bilhões de reais

O Produto Interno Bruto brasileiro deve sofrer uma queda de 5,12% em 2020, de acordo com balanço divulgado nesta segunda-feira pelo Banco Central. O PIB é a soma dos bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia. O percentual foi estimado pelo Banco Central por meio de consultas a economistas de mais de cem instituições financeiras. Ainda que essa e outras previsões sejam revistas, parece ser unânime entre os economistas a opinião de que a propagação do novo coronavírus fará o ano de 2020 terminar com uma queda profunda na economia mundial.

No Brasil, alguns empresários e políticos defendem que um relaxamento das medidas de distanciamento social diminuiria os prejuízos para a economia. Porém, um estudo realizado pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, o Cedeplar, mostra que a flexibilização dessas medidas em Minas Gerais poderia ter o efeito contrário, ou seja, causar mais perdas financeiras e mais desemprego.

Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG
Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG Joyce Fernandes de Freitas

O professor Edson Domingues, um dos autores da pesquisa, ressalta que o impacto econômico da crise no Brasil não é resultante apenas do isolamento social: “A crise da pandemia do coronavírus é determinada por diversos fatores, como o mercado externo, a economia nacional e a redução do consumo das famílias. Isso tem relação com o isolamento social, mas ele não é o causador desses impactos”. O professor ainda lembra que, em locais onde o isolamento foi flexibilizado, as lojas e centros comerciais registraram vendas muito menores do que o esperado. “A crise é muito mais ampla, não pode ser evitada meramente pela reabertura do comércio”, enfatiza.

O estudo do Cedeplar foi realizado por meio da comparação de um modelo epidemiológico, baseado em dados do impacto da pandemia em Minas Gerais, com um modelo econômico. De acordo com a análise, quanto mais pessoas infectadas, maior o número de fatalidades. Isso potencializa o impacto negativo na economia, porque se perdem horas e força de trabalho, afetando as empresas e a produção. Com uma estratégia de isolamento, esse impacto é amenizado.

Cenários analisados 
A pesquisa analisou os impactos de três diferentes estratégias de isolamento na economia de Minas Gerais. A primeira se baseia no modelo adotado no estado desde os primeiros casos: “Distanciamento estendido”. A segunda pressupõe um “isolamento parcial”, e a terceira adota a abolição total do isolamento, “Sem distanciamento”. De acordo com os resultados, o cenário de “Distanciamento estendido” implicaria uma queda de -1% no PIB de Minas Gerais. O cenário “Sem distanciamento” resultaria em uma queda total no PIB do estado da ordem de -4,0% em relação ao cenário de referência. Acabar com o isolamento eleva a perda na economia de Minas Gerais em cerca de R$ 50 bilhões de reais. O cenário de “Distanciamento estendido” equivaleria a uma perda de R$ 19 bilhões no PIB de Minas Gerais, enquanto que para o cenário “Sem distanciamento” essa perda seria de R$69 bilhões.

Em entrevista à Rádio UFMG Educativa, o professor Edson Domingues lembrou que a economia não é independente das pessoas e existe para prover recursos de forma a preservar as vidas, a renda e o emprego. “As medidas de isolamento que protegem vidas também protegem a economia a médio e longo prazo”, afirmou.

Ouça a conversa com Luíza Glória

Produção de Tiago de Holanda