Pesquisa e Inovação

Se mantido, isolamento mitigará queda do PIB mineiro em médio prazo

Em nota técnica, pesquisadores da UFMG demonstram que a medida pode evitar perdas de R$ 50 bilhões nos próximos quatro anos

Estudo investiga impactos no uso da mão de obra em 21 setores da economia do estado de Minas Gerais
Estudo investiga impactos no uso da mão de obra em 21 setores da economia de Minas Gerais Imagem: Reprodução Google

Se encerrar prematuramente o seu isolamento social, antes do controle da pandemia, o estado de Minas Gerais deve sofrer queda acumulada no seu Produto Interno Bruto (PIB) de até 4% nos próximos quatro anos, em relação ao que seria a sua geração de riquezas em um cenário estimado sem a pandemia. Em termos monetários, essa queda significaria uma perda econômica de cerca de R$ 69 bilhões.

Caso mantenha o isolamento social pelo período que for necessário, como tem sido recomendado por todos os grandes organismos internacionais e pela comunidade científica mundial, a queda no PIB mineiro no próximo quadriênio, decorrente dos efeitos da doença na população, deve ficar na marca de 1%, o que seguraria as perdas na economia do estado na ordem de R$ 19 bilhões.

Essa conclusão é apresentada na nota técnica Cenários de isolamento social da Covid-19 e impactos econômicos em Minas Gerais, publicada, nesta semana, por pesquisadores do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea), vinculado ao Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG.

Isolamento social é solução não apenas para “achatamento da curva” no curto prazo, mas também para preservação da economia no médio prazo, afirmam os pesquisadores.

No estudo, dez pesquisadores de diferentes competências mobilizam metodologia que articula um modelo epidemiológico a um modelo econômico para analisar o impacto que cada uma das possíveis estratégias de isolamento disponíveis (manutenção do isolamento atual, afrouxamento do isolamento ou a sua suspensão) teria sobre a disponibilidade e o uso de mão de obra no estado de Minas Gerais e o impacto dessa disponibilidade e desse uso sobre a economia do estado.

Vista aérea da Refinaria Gabriel Passos, pertencente à Petrobras, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte
Vista aérea da Refinaria Gabriel Passos, pertencente à Petrobras, em BetimOswalney Costa Galvão / Wikipedia / CCBY-SA 3.0

Ao mobilizar variáveis como a relação entre demanda e oferta e avaliar “como diferentes estratégias de isolamento afetam o nível do uso da mão de obra e, consequentemente, os custos e o nível de atividade setorial”, os pesquisadores conseguiram projetar com rigor os efeitos que a pandemia deve gerar na economia de Minas Gerais em curto e em médio prazos. Em jogo, explicam, está o efeito que o índice de mortes e afastamentos gera na qualificação e disponibilidade da mão de obra.

“Cada estratégia de isolamento gera um diferente perfil/cenário de fatalidades e internações”, explicam os pesquisadores. “Associamos essas fatalidades e internações à perda de produtividade e à elevação de custos de produção, uma vez que o fator trabalho é perdido ou tem que ser substituído”, explicam. “Mesmo a substituição gera custos, já que se troca mão de obra treinada na referida função por mão de obra nova. Ainda que possa ter a mesma qualificação (ou não), a nova mão de obra desconhece os processos produtivos e gerenciais da empresa, o que afeta a produtividade”, detalham.

No gráfico, os pesquisadores apontam a perda de produtividade da mão de obra em Minas decorrente de cada um dos três cenários de isolamento.
No gráfico, os pesquisadores apontam a perda de produtividade da mão de obra em Minas decorrente de cada um dos três cenários de isolamento. "O cenário sem isolamento, dada a maior taxa de fatalidades e adoecimento, é o que promove a maior queda na produtividade"Imagem: reprodução

Preservar vidas é preservar a economia
No estudo, por meio de abordagem quantitativa, os pesquisadores reafirmam o que vem sendo defendido e demonstrado em diferentes trabalhos do Cedeplar desde o início da pandemia: diferentemente do que tem sido propagado por certos setores da sociedade, não há oposição entre salvar vidas e salvar a economia. Pelo contrário: a salvação da economia depende fundamentalmente da manutenção do isolamento e da preservação do maior número possível de vidas.

“A sociedade parece ter dificuldade em avaliar os benefícios que as estratégias de isolamento trazem, primeiramente em termos de fatalidade e infecção, e segundo, em termos econômicos”, anotam os pesquisadores. Contudo, a preservação de vidas é essencial, “tanto pela preservação da capacidade de trabalho e de consumo, como de conhecimentos e de redes de relacionamentos sociais", registram os autores.

“Mostramos neste trabalho para Minas Gerais que o isolamento social mais amplo mitiga a perda econômica em médio prazo, além de achatar a curva de infecção e trazer benefícios de saúde”, anotam os pesquisadores do Nemea. “Os resultados mostram que o maior isolamento social também tem benefícios econômicos. Poupar vidas e garantir a capacidade de atendimento do sistema de saúde para a maioria da população é um ganho econômico relevante”, afirmam. “A conclusão é de que isolamento mais forte tanto pode produzir um PIB maior como melhores condições de saúde.”

Em relação às perdas econômicas que, mesmo mitigando-se ao máximo os efeitos da pandemia na população, ainda ocorrerão em razão da crise global, os pesquisadores lembram que “cabe aos diferentes entes federativos (federal, estadual e municipal) a articulação de políticas governamentais para a manutenção e recuperação da renda e do emprego, de forma a amenizar os impactos na vida das pessoas, na economia e na saúde”.

Autores
A nota técnica Cenários de isolamento social da Covid-19 e impactos econômicos em Minas Gerais é assinada por Aline Souza Magalhães, Débora Freire Cardoso, Edson Paulo Domingues, Rafael Saulo Marques Ribeiro e Gilvan Guedes, professores da Face, Reinaldo Santos, doutor em Demografia pelo Cedeplar,  Diego Miyajima e Thiago Simonato, doutorandos em Economia no Cedeplar, e Monique Felix e Jeferson Andrade, pesquisadores do Departamento de Estatística do Instituto de Ciências Exatas (ICEx).

Ewerton Martins Ribeiro