Coberturas especiais

'As estatísticas da pandemia parecem pertencer a outro planeta', afirma professor da Fafich

Em entrevista à Rádio UFMG Educativa, Paulo Evangelista, do Departamento de Psicologia, analisou a aparente naturalização das mortes causadas pela covid-19

Homenagem às vítimas da covid-19 no Brasil, na Praia de Copacabana (RJ)
Homenagem, na Praia de Copacabana (RJ), às vítimas da covid-19 no BrasilFoto: Rio da Paz / Fotos publicas / CC BY-NC 2.0

Alexandra Popoff Nogueira, 91 anos: a imigrante russa que fazia a melhor bacalhoada do mundo. Antonio Carlos Durans Diniz, 36 anos: acordava às quatro horas da manhã para conversar com as plantas e esperava a esposa acordar para tomarem café juntos. Bianca Galvão de Oliveira, 18 anos: uma menina que ousou sonhar ilimitadamente. 

Esses são breves perfis de pessoas reais, que figuram entre as mais de 100 mil que morreram no Brasil em 2020, em decorrência da covid-19. As micro-histórias foram retiradas do site Inumeráveis, memorial colaborativo em homenagem às vítimas de coronavírus. 

Em entrevista ao Programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta quarta-feira, 12, o professor Paulo Evangelista, do Departamento de Psicologia da Fafich, disse que as estatísticas da atual pandemia parecem transformar vidas em números, anestesiando muitas pessoas, principalmente aquelas que minimizam a gravidade da nova doença, ainda sem vacina reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

"Quando a gente olha à nossa volta, pela janela de casa, a impressão é de que a vida já está voltando ao normal, apesar de [o mundo] não ter voltado ao normal. Dá a sensação de que as estatísticas que a gente acompanha na TV falam de outro planeta e não da nossa própria vida", avaliou.

Para o professor, a falta de familiaridade provocada pelos números contribuem para essa sensação de apatia que parece ter atingido grande parte das pessoas diante da pandemia. “Eu penso que uma coisa é a gente saber que é uma pessoa, que é alguém que morreu, outra coisa é ver números”, afirmou.

Ainda segundo Paulo Evangelista, "esses números geram impessoalização, a neutralização e a naturalização da morte. As estatísticas mantêm escondidas diferenças específicas, a singularidade da vida das pessoas que estão morrendo".

Ouça a conversa com Luíza Glória

Produção de Alessandra Ribeiro