Pesquisa e Inovação

Tese premiada mergulha no universo dos vírus gigantes

Ainda desconhecidos, esses microrganismos podem abrigar chaves de novos medicamentos e soluções biotecnológicas

Imagem do tupanvírus, um dos microrganismos analisados
Imagem do tupanvírus, um dos microrganismos analisados Acervo da pesquisa

Consideradas as entidades biológicas mais abundantes e diversas do planeta, os vírus formam uma virosfera. Capazes de infectar todo ser vivo, eles têm como hospedeiros preferenciais os seres humanos, e o sistema nervoso central é um dos mais afetados. Fora dessa virosfera antropocêntrica, destacam-se os vírus gigantes, associados a amebas de vida livre, como o tupanvírus, cuja complexidade genômica e estrutural, analisada sob diferentes estratégias – sistemática, genômica e transcriptômica –, pode resultar na catalogação de uma nova espécie e até mesmo de um novo gênero, no Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV, na sigla em inglês).

As descobertas foram descritas no trabalho de Rodrigo Araújo Lima Rodrigues, vencedor do Grande Prêmio de Teses UFMG, na grande área de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e da Saúde. “Partimos da ideia clássica de que os vírus estão por toda parte e infectam todo ser vivo. Mas precisávamos entender melhor como essa interação ocorre. Ao analisar o banco do ICTV, que, em 2016, contava com cerca de quatro mil vírus catalogados, descobrimos que a grande maioria dos organismos é infectada por apenas um ou dois vírus conhecidos. E o mais surpreendente foi identificar, pela primeira vez, que os seres humanos são infectados por pelo menos 320 espécies virais, e o sistema nervoso central é um dos mais afetados”, revela o pesquisador.

Gigantes desconhecidos
Os vírus gigantes, como o tupanvírus, têm partículas de 1.200 nanômetros de tamanho (1 nanômetro corresponde a 1 bilionésimo do metro), frente aos 750 dos mimivírus ou 50 nanômetros do vírus da dengue, por exemplo. O genoma tem cerca de 1.300 genes e 1,5 milhão de nucleotídeos, frente aos dez genes e dez mil nucleotídeos encontrados no agente causador da dengue.

“Associados a amebas de vida livre, não transmitem doenças aos seres humanos, motivo pelo qual estão fora do grupo de maior interesse científico. Por isso, nossa surpresa e gratidão pela premiação”, afirma Rodrigues, que acredita na possibilidade da descoberta, nesse universo, de “chaves para novos medicamentos ou estruturas que poderão ser utilizadas pela biotecnologia”. Segundo o pesquisador, 70% dos 1.300 genes do tupanvírus ainda são desconhecidos.

Essa "viagem" pela viosfera é descrita em matéria publicada na edição 2.080 do Boletim UFMG, que circula nesta semana.