Institucional

UFMG apresenta sua política de inovação no CNE

Universidade compartilhou com outras instituições o processo de amadurecimento de seu bem-sucedido ambiente de geração, proteção e licenciamento de tecnologias

Reitora Sandra Goulart Almeida apresentou números de produção da UFMG em reunião do CNE
Reitora Sandra Goulart Almeida apresentou números de produção da UFMG em reunião do CNE Tacyana Arce / UFMG

O processo que resultou no amadurecimento de um consistente ecossistema de inovação foi apresentado pela UFMG aos integrantes da Câmara de Ensino Superior do Conselho Nacional da Educação (CNE) nesta quarta-feira, 9. Convidada para apresentar a política institucional de inovação, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, apresentou as cifras, dados e casos que fazem da UFMG a instituição federal de ensino superior brasileira com maior número de depósito de patentes, a primeira universidade brasileira a regulamentar o Marco Legal da Inovação e ostentar uma produção científica com impacto acima da média mundial em 11 de 27 áreas do conhecimento. 

A exposição do panorama da ciência, tecnologia e inovação na UFMG, cuja excelência nem sempre é refletida nos indicadores da área, também motivou um debate sobre a necessidade de realinhamento de processos de medição da qualidade do impacto da pesquisa e da pós-graduação. Presidente da Câmara de Ensino Superior, Antônio Freitas Júnior afirmou que “indicadores devem refletir de fato a excelência das universidades, como a UFMG. A comunidade não pode ficar parada se há distorção”. O vice-presidente da Câmara de Ensino Superior, Joaquim Soares Neto, que presidiu o Inep (2009-2011) defendeu que as universidades tenham um órgão centralizador das informações para torná-las mais visíveis à sociedade, produzindo indicadores mais compatíveis com sua realidade.

Em 22 anos, a UFMG acumulou 1051 depósitos de pedido de patente, 670 notificações de invenção, 58 registros de software, 106 contratos de licenciamento e 113 acordos de parceria que geraram R$ 6,3 milhões em comercialização da propriedade intelectual. Nos últimos dez anos, 22.375 professores e pesquisadores da UFMG publicaram 31.927 artigos, que tiveram 338 mil citações. Quase um terço dessas produções (28%) foi fruto de colaboração internacional. Leia mais nesta reportagem do Boletim UFMG.

As cifras são tão expressivas quanto os dados. Com sete anos de operação, só o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC) registrou, em 2018, faturamento de R$ 170,3 milhões com suas empresas residentes e investimentos de R$ 32 milhões. A movimentação gerou impostos para município, estado e União da ordem de R$ 25,6 milhões. "Isso evidencia que investir em ciência e tecnologia é garantir retorno para a sociedade, não apenas com as novas descobertas e produtos desenvolvidos, mas também em retorno direto com a interação universidade-empresa. A cada R$ 100 que a UFMG movimenta com ciência e tecnologia, geramos R$ 30 para a sociedade, por meio de recolhimento de impostos", destacou a reitora Sandra Goulart Almeida.

O investimento da UFMG na consolidação de sua política de inovação retroage aos anos 90, quando se deu início a um processo contínuo e bem delineado, que demanda "recursos consistentes, constantes, que possibilitem à Universidade planejar suas prioridades, visando também o médio e longo prazo", destacou a reitora Sandra Goulart Almeida. Além disso, exige que a Universidade seja capaz de articular diferentes atores, conectando ciência e o chamado setor produtivo, oferecendo aos milhares de pesquisadores suporte de gestão para ações de empreendedorismo, aceleração de startups, proteção da produção científica e licenciamento de tecnologias.

Exige também gestão eficiente e responsável dos recursos, sobretudo em momentos de escassez, como o vivido atualmente. Um dos exemplos dessa gestão – que não apenas reduz gastos, mas produz resultados mais robustos para a pesquisa – é o programa de Infraestruturas Institucionais de Pesquisa (I2PQ), responsável por promover o compartilhamento de espaços e equipamentos de ponta, "com governança cuidadosamente estabelecida, de modo a propiciar o compartilhamento de ambientes de pesquisa não apenas para os pesquisadores da UFMG, mas também para usuários externos, até mesmo de outros países, por meio de técnicas de telepresença", explicou o pró-reitor de Pesquisa, Mario Montenegro Campos, que também participou da apresentação aos conselheiros. 

Construção histórica e política
Coube ao diretor da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), Gilberto Medeiros, apresentar a construção da política de inovação da UFMG que resultará, em breve, na criação do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), com personalidade jurídica própria, que possibilitará à universidade ampliar as parcerias com empresas e organizações sociais. "Existem características dessa forma privada de operação que conferem mais excelência à gestão sem que a Universidade pública abra mão da governança. O nosso horizonte é atuar em interesse da universidade que é a detentora desses ativos intangíveis que é a propriedade intelectual", explicou Gilberto Medeiros.

Questionada pelos conselheiros sobre como os órgãos de controle e transparência encaram essas negociações, Sandra Goulart Almeida destacou que a Controladoria Geral da União (CGU), o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Advocacia Geral da União (AGU), cada qual em sua respectiva área de competência, foram partícipes na construção da legislação sobre inovação. As resoluções da UFMG sobre o assunto, em especial a Resolução 04/18, que define os critérios para o compartilhamento e  permissão de uso da infraestrutura e de capital intelectual da UFMG foram construídas levando em consideração as reflexões desses órgãos. 

O professor Gilberto Medeiros também destacou que estruturas como o NIT/UFMG deve catalisar as iniciativas da universidade, oferecendo congruência para as operações com empresas. No entanto, essa aproximação só pode ocorrer se resultar em benefícios explícitos para a sociedade e para a Universidade, sem prejuízo das suas atividades de ensino, pesquisa e extensão e da sua finalidade precípua. 

"A utilização de laboratórios por empresas para pesquisa, por exemplo, não pode causar prejuízos ou constrangimentos às ações de ensino e extensão. Nem o objeto de pesquisa pode ser definido unicamente pelos interesses de determinados setores. Aqui em Brasília vocês estão às voltas com a recuperação de um viaduto que cedeu porque o tempo de vida do cimento é de 50 anos, e a cidade chegou a essa idade. Pois bem, agora pode-se optar por um cimento com nanotubos de carbono que aumenta o tempo de vida do material. Essa aplicação, nascida no nosso CTNano, só é possível porque há 30 anos a Universidade bancou pesquisa básica em nanotecnologia", exemplificou Medeiros.

Integrantes do CNE acompanharam a exposição feita pela reitora Sandra Goulart Almeida
Integrantes do CNE acompanharam a exposição feita pela reitora Sandra Goulart Almeida Tacyana Arce / UFMG

No ensino e na extensão
Outra curiosidade dos conselheiros da Câmara de Ensino Superior foi sobre os benefícios aportados às outras dimensões da universidade – sobretudo ensino e extensão – com as ações de inovação. “Na UFMG, a extensão também é importante vetor de inovação. São 3,1 milhões de atendimentos todos os anos, 65% deles em parceria com outros setores da sociedade. São 2,4 mil professores e sete mil estudantes diretamente envolvidos, de graduação e pós-graduação, numa clara inter-relação entre ensino, pesquisa e extensão”, explicou Sandra Goulart Almeida, aproveitando para parabenizar o conselho pela Resolução 07/2018, que estabelece as diretrizes para as Políticas de Extensão da Educação Brasileira, e permite, entre outros aspectos, que as ações de extensão sejam contabilizadas como créditos, a exemplo do que a UFMG já fazia.

Reitor da UFMG na gestão 1998-2002, o conselheiro Francisco César Sá Barreto destacou a importância de a reitora da UFMG se referir à pesquisa de maneira indissociada das outras dimensões. “Pesquisamos porque nos preocupam as questões postas pela sociedade. Desta maneira, toda pesquisa é também extensão e toda extensão envolve pesquisa”, defendeu.

Sandra Goulart Almeida chamou a atenção também para dados que mostram que, à medida que ia intensificando sua relação com o empresariado e aumentando a participação dessas iniciativas no orçamento global da universidade (chegando a 12% em 2018), a UFMG também foi se democratizando ainda mais. Ela apresentou uma comparação entre os os indicadores socioeconômicos de 2008 e 2018 (veja imagem abaixo), evidenciando que, num período de 10 anos, subiu de 30% para 57% o número de ingressantes oriundos de famílias com renda familiar total de até 5 salários mínimos, enquanto a proporção dos que estudaram o ensino médio em escolas públicas subiu de 31% para 54%.

Indicadores socioeconômicos de ingressantes
Indicadores socioeconômicos de ingressantes Reitoria UFMG

O número de ingressantes originários de famílias com renda total superior a 10 salários mínimos caiu de 14% para 5%. “Isso evidencia que a cobrança de mensalidade não é uma solução, nem mesmo uma opção, pois o índice dos alunos que poderiam pagar é ínfimo”, destacou a reitora. 

O presidente do Conselho Nacional da Educação, Luiz Roberto Liza Curi, defendeu a importância de que dados como esses sejam mais publicizados para que o debate sobre o financiamento do ensino superior seja ancorado na realidade.

Pós-graduação mais robusta
A apresentação dos dados sobre a pós-graduação na UFMG levantou o debate sobre a produção de indicadores de qualidade e exigências para aprovação de programas em uma nova modalidade em estágio de franco crescimento: o mestrado profissional, que, na definição da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), visa “contribuir com o setor produtivo nacional no sentido de agregar um nível maior de competitividade e produtividade a empresas e organizações, sejam elas públicas ou privadas".

“As exigências para aprovação desses programas na Capes não podem ser as mesmas dos programas acadêmicos – na prática, é isso que tem acontecido. A UFMG está de parabéns por já ter conseguido aprovar 11 mestrados, mas certamente existem demanda e condição de oferta para muitos mais. É necessário discutir os critérios pouco compreensivos da Capes”, defendeu Luiz Roberto Liza Curi.

Outro ponto que demanda revisão, na avaliação dos conselheiros, é o conjunto de estatísticas utilizadas para analisar o impacto médio da produção científica brasileira sobre as demais. A medida clássica considera as publicações indexadas nas bases Web of Science, Scopus e SciVal, sendo a média internacional ponderada 1. Nos cálculos da Capes, a média brasileira seria 0,7. Na UFMG, entre 27 áreas do conhecimento, o impacto é maior que a média nacional em 25 casos, e em 11, igual ou superior à média mundial (veja abaixo). “O desempenho é muito bom, mas seguramente ainda não reflete a excelência da UFMG”, questionou Antônio Freitas Junior.

“Certamente não. Em minha área, letras e humanidades, livros têm maior peso que artigos. O mesmo acontece em parte das ciências sociais. Sem contar a grande área de artes, que se vale ainda de outros objetos informacionais”, explicou a reitora. Freitas Junior defendeu, então, a mobilização da comunidade universitária para o acerto dessas medidas. “É preciso uma aproximação com a Capes para a revisão desses dados que são apresentados publicamente, diante de plateia não especialista, e levam à compreensão de que há realmente pouco trabalho nas universidades”, finalizou.

Impacto da produção científica da UFMG medido em citações
Impacto da produção científica da UFMG medido em citações Reitoria UFMG

Também participaram da reunião os conselheiros Paulo Costa e Silva, secretário-executivo do CNE, Maurício Romão, Marília Ancona, Antônio Carbonari, Sérgio Bruni e Marco Antônio Marques.

Tacyana Arce