Institucional

UFMG integra mesa sobre contribuição de povos originários e africanos na história de Minas

Iniciativa da Assembleia Legislativa, o evento terá a presença da reitora Sandra Goulart Almeida e da professora Vanicléia Silva Santos, do Departamento de História da Fafich

Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, criação de Aleijadinho: grandes mestres de origem africana, como Aleijadinho
Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto: criação de Aleijadinho, um dos grandes mestres brasileiros de origem africanaAlexandre Amorim / CC BY-SA 4.0

A contribuição dos povos originários e dos povos africanos para a formação da identidade e história de Minas Gerais e para o desenvolvimento econômico do estado será debatida, nesta sexta-feira, 16, em webinário promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e de instituições parceiras. Da UFMG, participarão a reitora Sandra Regina Goulart Almeida e a professora Vanicléia Santos, vinculada ao Departamento de História da Fafich.

A mesa-redonda, que terá início às 10h com transmissão pelo canal da Assembleia no YouTube, será aberta pelo presidente do Parlamento mineiro, deputado Agostinho Patrus (PV). O evento integra a programação que celebra os 300 anos Minas Gerais,

O webinário Formação do povo mineiro: as diversas faces de um mosaico em construção vai marcar também o lançamento de 1720-2020: livro-reportagem das comemorações do tricentenário de Minas Gerais, do jornalista Américo Antunes. A publicação registra a programação comemorativa dos 300 anos de Minas realizada pela ALMG e outras instituições públicas do estado.

Sandra Goulart Almeida:
Sandra Goulart: liberdade é 'valor inegociável' para o povo mineiroSarah Torres | ALMG

A reitora Sandra Regina Goulart Almeida ressalta que a UFMG participou ativamente, com ações de curadoria, publicações e presença em debates, da programação que comemora o tricentenário, coordenada pela ALMG. “A história de Minas é base para as reflexões sobre seu futuro, e a UFMG se orgulha de ser parte importante dessa trajetória. A Universidade sempre foi e continuará a ser um símbolo da soberania e da autonomia do povo mineiro, que pensa, muda quando é necessário e projeta, com coragem, os tempos que virão”, afirma.

Sandra exalta a iniciativa da mesa-redonda, que, “oportunamente, traz ao debate a participação fundamental dos indígenas e africanos na construção da grandeza de Minas, no passado e no presente”. A reitora acrescenta que o apreço do povo mineiro pela liberdade “como valor inegociável” reforça a vocação de Minas Gerais e de suas instituições para “a reflexão refinada sobre as culturas e os pensamentos, em toda a sua diversidade”.

Dezesseis de julho é o Dia de Minas Gerais, instituído em 1979, em referência ao início do povoamento da cidade de Mariana (Central), primeira capital do estado e considerada o berço da civilização mineira.

Contribuição civilizatória dos africanos
As apresentações sobre o tema do seminário estarão a cargo do jornalista e escritor Américo Antunes, idealizador do Festival de História (fHist), e da professora da UFMG Vanicléia Silva Santos, curadora associada da Coleção de Arte Africana do Penn Museum, nos Estados Unidos. Ela está licenciada da Universidade, onde leciona História da África Pré-colonial no Departamento de História da Fafich.

Vanicléia Santos:
Vanicléia Santos: "é preciso perguntar o que e por que comemoramos"Acervo pessoal

Vanicléia Santos sublinha que a proposta de comemorar 300 anos da história de Minas Gerais tem como marco o início da colonização, mas que é preciso incluir a presença anterior dos indígenas que habitavam o território e considerar os
africanos como fundadores e formadores de Minas Gerais. "A história é
feita por muitos povos, mas o que conhecemos foi distorcido pelos europeus
colonizadores. Negros e indígenas contribuíram tanto ou mais para a
formação de Minas Gerais do que os celebrados colonos europeus”, afirma a
professora. “As africanas, os africanos e seus descendentes eram muito mais que trabalhadores. Chegaram ao Brasil com conhecimentos sobre tecnologias e
ensinaram os portugueses, por exemplo, a minerar ouro e ferro. Também
ensinaram sobre a liberdade e outros valores relacionados à igualdade. Ao
resistir à escravidão, fugindo de condições de vida e de trabalho desumanas
para criar os quilombos, sociedades organizadas sem exploração, africanos e
seus descendentes exigiram ser tratados de forma humana.”      

A pesquisadora, que é especialista em História da África e das diásporas africanas, afirma que a forma escolhida para celebrar o passado diz muito sobre o nosso presente e sobre os esquecimentos dos indígenas e africanos. Um exemplo são grandes obras como as igrejas de Ouro Preto e outras cidades mineiras do período colonial, que, segundo Vanicléia, “não são devidamente valorizadas como criações intelectuais de mestres afrodescendentes”. Ela menciona também o fato de que o patrimônio histórico e cultural do estado não inclui referências à população negra e indígena – lembra que estátuas são erigidas para exaltar homens brancos. “É crucial que as ações celebratórias considerem sempre os indígenas e os africanos e seus descendentes como agentes e sujeitos históricos. É preciso retornar ao passado e entendê-lo para ressignificar o presente e construir o futuro”, afirma Vanicléia Santos.

O webinário integra extensa programação organizada pela ALMG, em parceria com instituições públicas, para celebrar os 300 anos de criação de Minas Gerais, completados oficialmente em 2 de dezembro de 2020. Nesse dia, há três séculos, a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro foi desmembrada pela Coroa Portuguesa, originando a Capitania de Minas, que se tornou conhecida como Minas Gerais. 

A ação de maior destaque da programação comemorativa foi a coleção 300 anos de Minas Gerais, composta de duas outras publicações, além do livro-reportagem que será lançado no evento: Nossa comida tem história, organizada pelo professor José Newton Coelho Meneses, e Minas Gerais. Visão de conjunto e perspectivas, de João Antonio de Paula. Ambos são professores da UFMG, vinculados, respectivamente, ao Departamento de História e à Faculdade de Ciências Econômicas. Os livros foram lançados no segundo semestre de 2020.

Itamar Rigueira Jr., com Assessoria de Imprensa da ALMG