Estudo UFMG: violência doméstica pode ter aumentado com o isolamento social
Em um universo de 2,5 mil entrevistados, mais de 6% relataram ter sofrido algum tipo de abuso, segundo pesquisa do Crisp
Pesquisa inédita da UFMG, realizada em parceria com o Instituto Olhar, revela que os casos de violência doméstica podem ter aumentado em todo o Brasil com o período de isolamento social. Quando os entrevistados foram perguntados se tinham sido vítimas de violência doméstica, menos de 1% das mulheres e 0,3% dos homens responderam que sim. No entanto, diante de questionamentos mais específicos, ou seja, se os entrevistados tinham sido vítimas de xingamentos, insultos, empurrões, agarrões, espancamento e ameaças com arma, os resultados foram mais expressivos: 6,7% das pessoas disseram que passaram, pela primeira vez, em seus lares, por alguma dessas situações.
O estudo é uma contribuição do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (Crisp) ao Termômetro da crise, projeto que entrevista semanalmente pessoas de todo o Brasil sobre impactos da Covid-19. A pesquisa foi realizada pelo Instituto Olhar, pela empresa NetQuest e pelo próprio Crisp. Na UFMG, os responsáveis pela parte da pesquisa sobre violência doméstica foram os professores Bráulio Alves da Silva e Ludmila Ribeiro, do Departamento de Sociologia.
O estudo procurou identificar ainda o que está associado a essa violência no lar durante o período de isolamento. As pessoas relataram que o ambiente doméstico ficou mais estressante e, portanto, mais propício a abusos. Estar desempregado ou ter perdido o emprego durante ou por causa da pandemia também influenciou bastante nas situações de violência doméstica. A idade dos entrevistados e a diminuição da renda foram outras variáveis associadas ao fenômeno.
As 2.531 entrevistas do projeto Termômetro da crise foram feitas de 16 a 21 de abril de 2020. Elas foram distribuídas proporcionalmente entre as regiões do Brasil. Para aplicação do questionário, foram utilizadas plataforma de painel on-line, redes sociais e ferramentas de mensagens. A margem de erro de referência da pesquisa foi estimada em dois pontos percentuais, e o intervalo de confiança, em 95,5%. As respostas foram ponderadas tomando como base proporções populacionais do IBGE. Os pesquisadores ressaltam que é preciso ter cautela na leitura dos resultados, já que eles refletem parcela restrita da população com acesso à internet.
O projeto Termômetro da crise também aborda outros temas, como o apoio e o comprometimento das pessoas com o isolamento social, a percepção de medo e presença do coronavírus, a atuação dos governos e a preocupação com a situação econômica. Mais informações estão disponíveis no site do Instituto Olhar.
Saiba mais em entrevista realizada pela Rádio UFMG Educativa.