UFMG deposita patente para uso do tetraclorodecaoxido na produção de medicamentos para tratamento de pacientes com Covid-19

Primeira patente sobre o novo coronavírus depositada pela Universidade aguarda recursos para comprar a substância e iniciar os testes

A UFMG depositou, no dia 8 de abril, o primeiro pedido de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) que objetiva o reposicionamento  de um fármaco para a produção de medicamentos a serem usados no tratamento de pacientes infectados pelo coronavírus SARS-CoV-2, agente etiológico da Covid-19. Os pesquisadores Marcos Augusto dos Santos e 

Carmelina Figueiredo Vieira Leite, do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), são os responsáveis pela recuperação do tetraclorodecaoxido (TCDO), que pode ser utilizado como único princípio ativo ou pode estar associado a outros fármacos, preferencialmente antivirais.

A busca por medicamentos para tratar pacientes acometidos pela síndrome respiratória aguda severa (SARS) após infecção por SARS-CoV-2 tem se voltado para o reposicionamento de fármacos já aprovados para uso humano, tendo em vista a urgente necessidade de aplicação do tratamento. 

Segundo o professor Marcos dos Santos, quase todo medicamento já aprovado para tratar alguma doença tem algum tipo de efeito colateral, ou seja, aproveitar que essa droga já está aprovada para uma certa terapia e aproveita em outra doença. Assim, reposicionar um medicamento significa explorar esse efeito colateral. “Por exemplo, o viagra veio de uma droga que inicialmente agia em doenças cardíacas e foi reposicionado para disfunção erétil em função do efeito colateral observado”, explica.

Ainda de acordo o com o pesquisador, ganha-se muito tempo com o reposicionamento, pois a toxidade já foi estudada, assim como testes de tolerância e outros que já foram estabelecidos. 

A tecnologia propõe o reposicionamento do fármaco tetraclorodecaoxido, o qual foi selecionado após testes in silico, criada para esse fim. A análise in silico utiliza mecanismos para recuperar os resultados de uma pesquisa de consulta de palavras únicas ou múltiplas em um banco de dados de documentos. Nesse contexto, conceitos como indexação semântica latente (LSI) decomposição por valores singulares (SVD) e distância do cosseno/euclideana são introduzidos. 

Em outras palavras, a análise in silico é quando são feitos somente testes computacionais a partir de modelos matemáticos. Tais testes são feitos no Laboratório de Bioinformática e Sistemas (LBS), no ICEx da UFMG. Marcos dos Santos ressalta que, dada a urgência e por se tratar de reposicionamento, pode-se pensar em testes in vivo, que é a fase mais avançada, quando são utilizados sistemas vivos. “Em épocas normais, faríamos algo in vitro [testes de bancada para verificar se a substância reage realmente, ou seja, envolve reagentes e tubos de ensaio] antes de partirmos para essa abordagem”. 

Tetraclorodecaoxido 

De acordo com informações da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG, vários fármacos vêm sendo testados para o tratamento de pacientes infectados por SARS-CoV-2, como Pirfenidona; ASC-09/ritonavir; Darunavir; Cobicistat; Cloroquina; Hidroxicloroquina; Interferon beta; Remdesivir; Ritonavir; Lopinavir; Sarilumab; Oseltamivir; Arbidol (umifenovir); Losartana de potássio. Nenhum desses fármacos apresenta semelhança com o TCDO.

O fármaco tetraclorodecaoxido tem sido descrito para vários usos, mas nenhum deles relacionado ao tratamento de pacientes infectados por coronavírus, sendo proposto para o tratamento de feridas, tendo em vista sua atividade como bactericida.  O TCDO, também denominado WF10, foi proposto para tratamento de úlceras de pé diabético. Ainda segundo a CTIT, embora a tecnologia seja candidata ao tratamento proposto, necessita ainda passar por vários estágios, como a avaliação da eficácia "in vivo" e estudos preliminares de toxicidade e segurança, junto aos órgãos competentes, sendo perigoso o seu uso indiscriminado.

Sobre os próximos passos, o pesquisador ressalta que estão em busca de recursos para comprar o tetraclorodecaoxido. “De posse da substância, ela tem de ser manipulada para ser testada. Para início, temos que ter esse fármaco disponível”, enfatiza. No dia 12 de abril, foi submetido um projeto para uma entidade americana na tentativa de conseguir algum financiamento. 

“Não fosse essa emergência toda, o processo demoraria mais. Temos alguma indicação de que, em circunstâncias diferentes, essa nossa abordagem, de utilizar conceitos de máquinas de busca (Google, Yahoo etc.) funcionou”. Segundo o pesquisador, a abordagem é nova e bem diferente. “Em 2016, ganhamos o Google Awards for Latin America com o projeto Repurposing drugs as antibiotics using search engine idea, conta. “Agora, ao invés de buscarmos reposicionamento para antibióticos, fizemos um modelo para reposicionar antivirais”, explica.

Esse projeto de 2016 evoluiu com a pesquisadora Carmelina Leite, farmacêutica e aluna de doutorado no ICEx. “Patenteamos, no ano passado, uma metodologia nova para reposicionar. Em breve, estarão sendo feitos testes in vitro para testarmos reposicionamento para a zika. Estamos esperando as drogas chegarem” conta o professor.

Serviço: 

Título o pedido de patente: Uso do tetraclorodecaoxido para produzir medicamentos para tratar pacientes com Covid-19

Data do depósito: 8 de abril de 2020

Titularidade: UFMG

Inventores: Professor Marcos Augusto dos Santos

Carmelina Figueiredo Vieira Leite – farmacêutica e aluna de doutorado

Departamento: Instituto de Ciências Exatas/Departamento de Ciências da Computação/Programa Interunidades de Bioinformática.

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Assessoria de Imprensa UFMG