A ciência é um empreendimento internacional, defende criador do SciELO
Abel Packer abre ciclo de formação de editores, nesta quarta, com conferência no campus Pampulha
O aumento do percentual de artigos em língua inglesa, com cotas específicas para publicações de cada área do conhecimento, bem como a presença de editores e de autores estrangeiros, estão entre os critérios que a Scientific Electronic Library Online (SciELO) passa a adotar para entrada e permanência de periódicos em sua coleção. Diretor e um dos idealizadores do portal, Abel Packer afirma que uma das funções do SciELO é criar ambiente indutor da internacionalização, mesmo em áreas com forte interação local ou regional, como as ciências humanas.
“A pesquisa não deve isolar-se do mundo, principalmente porque o mundo também quer saber, a partir da pesquisa séria, o que está acontecendo aqui. Um olhar internacional sobre a pesquisa brasileira é fundamental”, enfatiza Packer, que também é coordenador de Projetos da Fundação de Apoio à Universidade Federal de São Paulo.
Em palestra nesta quarta-feira, 20, às 14h, no auditório da Reitoria, ele inaugura as atividades do 1º Ciclo de Formação de Editores da UFMG. Podem participar editores, equipes editoriais e demais interessados no tema, mediante inscrição na página do Portal de Periódicos da Universidade. A palestra será transmitida ao vivo pela internet.
Abel Packer vai abordar os novos “critérios SciELO”, alguns dos quais têm provocado discordâncias entre editores, que questionam a capacidade dos periódicos das áreas de ciências humanas e sociais de arcar com os custos de edição bilíngue. Leia mais sobre o assunto no Boletim UFMG.
Para o diretor da mais importante base de dados da América Latina, há estratégias que podem ser adotadas, como a redução de custos. Ele sugere, por exemplo, a supressão de versão impressa e mudanças no processo de editoração, tornando-o mais ágil e mais controlável do ponto de vista administrativo. “Também é fundamental tornar os periódios autossustentáveis, adotando política orçamentária por custo de artigo”, aponta. Na prática, isso significa negociar pré-financiamento com agências de fomento, por exemplo. Tal busca por recursos, contudo, pode ser feita pelos próprios autores. “No Brasil, ainda é uma cultura que precisa ser trabalhada, principalmente na área de ciências humanas”, pondera Abel Packer.
O diretor da SciELO também sugere que os autores entreguem manuscritos “compatíveis com a qualidade do periódico”, ou seja, na língua exigida e com revisão confiável. Segundo ele, devido à escassez de manuscritos, muitas vezes os editores brasileiros não rejeitam artigos, mas deveriam adotar os mesmos procedimentos dos periódicos internacionais, nos quais essa exigência é fundamental. “Precisamos ampliar nossa capacidade de fazer periódicos de acordo com o estado da arte internacional”, afirma.
Complexo global
Packer explica que a biblioteca digital é uma das ações do programa SciELO de promoção do avanço da pesquisa, orientado por três linhas de ação: internacionalização, profissionalização na gestão e operação editorial e sustentabilidade financeira dos periódicos. “Nosso conceito principal é o de que a ciência é um empreendimento que combina interesses local, nacional e internacional e, portanto, temos que interagir com o resto do mundo”, destaca.
Assim, pautas de pesquisa prioritárias para o Brasil também estão “ligadas ao complexo global da pesquisa”, com mão dupla entre o local e o global.
Para os critérios SciELO, a internacionalização tem três dimensões: política e gestão editorial, publicações em inglês, seja de brasileiros ou de autores de outras nacionalidades, e publicação de autores estrangeiros. No que se refere à gestão, Packer fala da importância de se ter “novos olhares”, com avaliação de manuscritos também por editores estrangeiros ou brasileiros que estejam em pesquisa no exterior.
O portal
A biblioteca virtual SciELO teve início no Brasil em 1998 e abriga atualmente periódicos científicos de 16 países – 13 na América Latina, além de Espanha, Portugal e África do Sul. Em livro organizado em comemoração aos 15 anos do portal, Abel Packer explica que o SciELO foi concebido como um projeto e uma estratégia para superar o fenômeno conhecido como ''ciência perdida'', caracterizado pela fraca presença de periódicos de países em desenvolvimento nos índices internacionais. O projeto foi adotado pelo Chile ainda em 1998, estimulando o desenvolvimento da Rede SciELO de coleções nacionais de periódicos.
Formação de editores
A palestra de Abel Packer abre o 1º Ciclo de formação de editores da UFMG, ação da Política de Periódicos da Universidade que tem o objetivo de capacitar os editores de periódicos científicos em temas como processos e ferramentas de editoração, critérios para entrada e permanência em base de dados, visibilidade e fator de impacto.
O Ciclo tem atividades previstas também para maio e junho, com especialistas da Universidade e de outras instituições brasileiras. A partir do próximo semestre, serão convidados editores de publicações da Europa e dos Estados Unidos, para tratar de temas como internacionalização e acesso aberto.