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Antropólogo indígena com mestrado pela UFMG vence prêmio nacional de fotografia

Obra retrata tradição do povo Karajá, do Mato Grosso

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'Iny: o brilho dos espíritos' foi escolhida entre as 607 imagens inscritasEdgar Kanaykõ Xakriabá / CNPq

Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia da UFMG, o pesquisador Edgar Kanaykõ foi contemplado no Prêmio de Fotografia Ciência & Arte, de iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A obra Iny: o brilho dos espíritos foi classificada em primeiro lugar entre 607 trabalhos, na categoria Imagens produzidas por câmeras fotográficas. Ele recebeu R$ 8 mil. “Fiz essa fotografia durante uma apresentação do ritual do povo Karajá, do Mato Grosso. Iny é como aquele povo se autodenomina”, esclarece o fotógrafo.

De acordo com Edgar Kanaykõ, a imagem integra uma pesquisa em etnofotografia empreendida durante seu curso de mestrado em Antropologia, concluído em 2019. “A obra alinha-se ao tema central do meu trabalho, que retrata diferentes percepções do mundo sob a perspectiva do olhar indígena, com foco na aproximação entre o mundo de dentro da aldeia e o de fora”, explica o fotógrafo. Sua dissertação, Etnovisão: o olhar indígena que atravessa a lente, foi tema de matéria veiculada no Boletim UFMG, em fevereiro de 2020.

O antropólogo é oriundo da terra indígena Xakriabá, no município de São João das Missões, no Norte de Minas. Ele conta que o interesse pelo audiovisual foi motivado pela demanda da própria comunidade. “A partir dos anos 2000, chegou a energia elétrica e, com ela, apareceram equipamentos como televisão, rádio e câmera fotográfica. Desde então, a fotografia que, durante algum tempo foi vista como um perigo, devido à desconhecida influência que poderia exercer sobre nossa cultura, passou, aos poucos, a ser conhecida e percebida também como instrumento de luta e resistência”, relata.

Kanaykõ afirma que a conquista transcende o reconhecimento "à potência da imagem" e reflete, sobretudo, as longas trajetórias de resistências coletivas dos povos indígenas para ocupar a universidade, um espaço que nem sempre foi diverso. "Isso só se tornou possível devido às ações afirmativas, que mobilizam os corpos discente e docente da universidade em prol de uma universidade efetivamente diversa", analisa. "É preciso indigenizar, colorir as universidades, as ciências e o saber", acrescenta o antropólogo. 

Recentemente, a UFMG regulamentou título de Notório Saber, que poderá ser outorgado a detentores de conhecimentos tradicionais sem trajetória acadêmica. 

Critérios
O Prêmio de Fotografia Ciência & Arte do CNPq é destinado a estudantes de graduação e pós-graduação, docentes e pesquisadores brasileiros.

Os critérios da premiação são impacto visual, originalidade, domínio da técnica e estética, relevância da imagem para a pesquisa e contribuição para a popularização e divulgação científica e tecnológica.

A comissão julgadora do 9º Prêmio de Fotografia – Ciência & Arte, que analisou 574 imagens, foi presidida por Neusa Hamanda, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) e formada por especialistas de todo o país.

Concebido em 2011, o Prêmio fomenta a produção de imagens com temática relacionada às áreas de ciência, tecnologia e inovação e contribui com a divulgação e a popularização da ciência e tecnologia.

Matheus Espíndola