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'Armas de fogo geram falsa sensação de segurança e proteção', afirma especialista

Senado quer convocar plebiscito sobre revogação do Estatuto do Desarmamento

Armas apreendida em operação: Brasil tem cerca de 20 milhões de armas em circulação
Armas apreendidas em operação: Brasil tem cerca de 20 milhões de armas em circulação Diogo Moreira | Fotos Públicas

Projeto em tramitação no Senado pretende convocar um plebiscito sobre a revogação do Estatuto do Desarmamento e a sua substituição por uma norma que assegure o porte de armas aos cidadãos que preencherem requisitos estipulados em lei. Quem defende a revogação do Estatuto vê na flexibilização do porte de armas um direito à proteção para além da proteção oferecida pelo Estado.

Mas "numa sociedade violenta como a brasileira, a arma de fogo será um potencializador", avalia Luís Flávio Sapori, professor e coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública da PUC Minas, que exerceu os cargos de Secretário Adjunto de Segurança Pública do Estado de Minas Gerais e Secretário de Segurança Pública do Município de Betim. No Brasil, 1 milhão de pessoas morreram vítimas de armas de fogo entre homicídios, suicídios e acidentes de 1980 a 2014, segundo o Mapa da Violência 2016.

Para Sapori, o porte de armas de fogo gera uma falsa sensação de segurança e proteção. "O cidadão armado tenderá a reagir mais aos assaltos. Quando a vítima reage a um assalto, a chance dela ser assassinada é muito grande. As pessoas vão se sentir mais encorajadas a reagir a assaltantes. Se o Estatuto for revogado, os índices de homicídios e latrocínios vão crescer muito nos próximos anos", acredita.

Para o especialista, é preciso combater a violência com foco na retirada de armas ilegais das ruas brasileiras. "A solução passa pelo fortalecimento do Estatuto do Desarmamento e não pela sua negação. Precisamos aumentar a capacidade das polícias de deter pessoas que estão portando ilegalmente uma arma de fogo. Se a polícia prende alguém hoje na rua com uma arma não registrada, ele vai para a delegacia, paga uma fiança e vai para casa. Isso é muito ruim e gera impunidade. O principal desafio é aumentar o rigor do Estatuto", afirma ele.

Em entrevista do Programa Conexões desta terça-feira, 3, Luís Flávio Sapori também comentou o ataque a tiros que deixou mais de 58 mortos em um show em Las Vegas. "É um fenômeno recorrente ao longo do tempo nos Estados Unidos. No Canadá, a arma de fogo também é permitida e esse tipo de fenômeno não acontece. Mas tudo leva a crer que, mesmo com esses casos, os norte-americanos não vão revogar a liberação da arma de fogo, o lobby da indústria da arma é muito poderoso", explica.

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