Arte e Cultura

Contra a censura e pela diversidade, alunos da EBA expõem trabalhos na Escola de Arquitetura

'Arte Generada' ocupará saguão e jardins da Unidade até sábado

Diversidade de gênero, sexual e cultural é um dos motes de
Diversidade de gênero, sexual e cultural é um dos motes da exposição Arte GeneradaIeda Lagos

Em resistência à ofensiva de recente movimento de censura à criação artística, estudantes da Escola de Belas-Artes inauguram, nesta terça, 28, a partir das 18h, a exposição Arte generada, no saguão e jardins da Escola de Arquitetura da UFMG. A mostra, que pode ser visitada até sábado, 2 de dezembro, é um desdobramento do coletivo do mesmo nome lançado na EBA por professores e alunos. Depois da vernissage, será exibido o filme Arquitetura da destruição, de Peter Cohen.

Uma das idealizadoras, a professora Yacy-Ara Froner explica que o movimento surgiu após os recentes protestos organizados no país contra museus e instituições culturais, como na exposição Queermuseu, no Masp, após performance inspirada em La bête, de Lygia Clark, e na exposição do artista mineiro Pedro Moraleida, ex-aluno da EBA, no Palácio das Artes. O coletivo, que advoga pelo respeito à liberdade de expressão e em defesa da diversidade de gênero, sexual e cultural, participou na segunda quinzena deste mês do Ato Nacional Contra a Censura, realizado na entrada Palácio das Artes.

Para Yacy-Ara, em um contexto de ânimos exaltados entre defensores e inquisidores, a educação é antídoto para o embate improdutivo e para reafirmar o valor da arte. “Houve uma vigília organizada em frente à exposição de Moraleida. Como professora de história da arte, me propus a explicar às pessoas as obras na exposição. Em muitos casos, elas apenas reproduziam discursos contrários pré-concebidos. Argumentei que ninguém é obrigado a ir à exposição, as discussões que estão lá são de ordem artística e não religiosa. O campo da arte diz respeito ao político, ao filosófico, ao espiritual, mas não ao estritamente religioso", argumenta Yacy-Ara.

Está programada para hoje, até às 18h, a montagem aberta da exposição, seguida por roda de conversa com os artistas e a comissão organizadora. Na quinta-feira, 30, debate sobre a exposição Arte degenerada, realizada na Alemanha nazista, em 1937, e o movimento Arte Generada reunirão, às 18h, os professores Guilherme Bueno, Rita Lages, Marcos Hill, Carolina Ruoso, Adolfo Cifuentes e artistas-expositores. Todas as atividades ocorrem na Escola de Arquitetura, com participação gratuita.

Obra da aluna Débora Guedes
Obra da aluna Débora Guedes Débora Guedes

Flávia Ventura, Joice Saturnino, Carmem Lazari, Inaê Gouveia, Amanda Muiños, Marina Tasca, Rosilene de Souza, Ian Godoy, Junia Penido, Leiner Hoki, Matheus Barbosa, Gabriella Lemos, Maria Alice Palha, Alexandre Fonseca, Patricia Coelho, Wemerson Moreira, Ieda Lagos, Fausto Caiafa, Andre Ramanery, Murilo Rodrigues, Vitor Fernandes, José Lins Tânia Araújo, Gustavo Rodrigues, Lucas Resende, Ágata Marcques, Isma Costa, Alberto Gusmão, Débora Guedes, Raylander Mártis, Heffy-Farôl e Iuri Lis são os artistas expositores.

Arquitetura da Destruição
O documentário de 1989, que será exibido na abertura da exposição, do cineasta sueco Peter Cohen, trata do uso da arte e da estética pela Alemanha nazista. A obra mostra a trajetória de Hitler e seus colaboradores do meio artístico engajados em reproduzir ideais de beleza e a importância da arte na propaganda, que teve papel fundamental na consolidação do regime.

Fora dos padrões
O nome da exposição subverte o termo Arte degenerada, propagado pelos nazistas para designar as obras e movimentos que “insultam o espírito alemão, mutilam ou destroem as formas naturais ou apresentam de modo evidente 'falhas' de habilidade artístico-artesanal”. Em termos visuais, toda obra que foge aos padrões clássicos de beleza e representação naturalista, em que são valorizados a perfeição, a harmonia e o equilíbrio das figuras, é considerada degenerada.

A mostra internacional Arte degenerada, que marcou o ápice da campanha pública do regime nazista contra a arte moderna, foi aberta em Munique, em 1937. Organizada pelo presidente da câmara de artes plásticas do Reich, Adolf Ziegler, reuniu em torno de 650 obras – entre pinturas, esculturas, desenhos, gravuras e livros, provenientes de acervos de 32 museus alemães – consideradas artisticamente indesejáveis e moralmente prejudiciais ao povo pelo governo nacional-socialista alemão.

Ferdinando Marcos