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Aumento do número de favelas no Brasil é reflexo da desigualdade crescente, afirma Denise Morado

Pesquisa do IBGE revelou que número de favelas no país dobrou em dez anos e constatou um aumento da insegurança alimentar no país

Insegurança alimentar tem aumentado no país, que viu as favelas dobrarem em 10 anos, releva pesquisa do IBGE
Insegurança alimentar tem aumentado no país, que viu as favelas dobrarem em 10 anos, releva pesquisa do IBGE Foto: Roberto Parizotti / Fotos públicas / CC BY-NC 2.0

O número de favelas no Brasil dobrou nos últimos dez anos, de acordo com dados do IBGE. Entre 2010 e 2019, a quantidade de aglomerados subnormais, como favelas e palafitas, foi de 6.329 em 323 municípios para 13.151 em 743 cidades. Essas moradias são caracterizadas por um padrão urbanístico irregular e pela falta de saneamento básico. Apesar de o programa Minha Casa, Minha Vida ter construído cerca de cinco milhões de moradias entre 2009 e 2018, a favelização brasileira ganhou força com a pandemia e o aumento do desemprego. 

A pesquisa também observa um crescimento acentuado na insegurança alimentar no país: quase 20 milhões de brasileiros declaram passar 24 horas ou mais sem ter o que comer e outros 64 milhões vivem inseguros sobre a possibilidade de passar por isso. A pobreza extrema no Brasil atinge hoje 27,4 milhões de pessoas, com piora em todos os anos desde 2014. O último reajuste no valor médio dos benefícios do programa Bolsa Família ocorreu em julho de 2018, quando o valor da cesta básica em São Paulo equivalia a 71% do salário mínimo. No fim do último mês de agosto, tal equivalência chegou a 98%. Enquanto os produtos da cesta subiram 52% no período, o salário mínimo aumentou apenas 10,2%. 

Esse quadro e a relação entre esses números e o que eles representam para o Brasil foram tema de entrevista com a professora da Escola de Arquitetura da UFMG Denise Morado, coordenadora do grupo de pesquisa Praxis - Práticas Sociais no Espaço Urbano, no programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, desta segunda-feira, 18. Para a pesquisadora, não se deve pensar o aumento de favelas como um problema, “porque de alguma forma os moradores da cidade precisam morar em algum lugar”. O problema, segundo Morado, é anterior a essa forma de organização urbana. "A pandemia escancarou esse caos urbano, que é existente há décadas, em razão dessas desigualdades sociais, econômicas, territoriais, ambientais e políticas. E essas desigualdades são resultantes da forma que as cidades brasileiras são produzidas”, pontuou.

Morado destacou também o impacto da desigualdade social nesse cenário. “O que estamos vivendo há anos é o aumento da desigualdade no acesso aos direitos constitucionais, em razão da redução das políticas públicas sociais. E não há surpresa nisso. Mas essa condição estrutural de exclusão vai se agravar, se as políticas públicas não forem direcionadas para redução dessas desigualdades. E essa construção de políticas públicas deve se dar de forma efetiva, consistente e coletiva. O maior sintoma dessa exclusão estrutural é a fome, que vem como consequência naturalmente da redução da renda”, avaliou.

Ouça a entrevista conduzida pela jornalista Luíza Glória.

Produção: Enaile Almeida e Nicolle Teixeira, sob orientação de Hugo Rafael e Luíza Glória