Formas de Ingresso

Avaliação seriada para ingresso na graduação é adotada há mais de duas décadas na UnB e na UFJF

Dirigentes relataram experiências em encontro na UFMG, que inicia discussões com sua comunidade sobre formas alternativas de seleção

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Encontro na Reitoria integra processo de debate sobre formas de seleção de estudantes Foto: Raphaella Dias | UFMG

A valorização da natureza processual da aquisição de conhecimentos, da resolução de problemas de forma crítica e criativa e de habilidades como análise, síntese e inferência em contextos complexos e interdisciplinares são alguns dos princípios que norteiam o Programa de Avaliação Seriada (PAS), uma das formas de seleção para ingresso de estudantes na Universidade de Brasília (UnB). A informação foi dada pelo decano de Ensino de Graduação da instituição, Diego Madureira de Oliveira, que participou nesta segunda-feira (21 de agosto), no auditório da Reitoria, de mesa-redonda sobre experiências nesse campo.

A mesa deu início à série de encontros públicos em que serão discutidos processos seletivos para a graduação da UFMG. Estiveram presentes também Cassiano Caon Amorim, pró-reitor de Graduação, e Katiúscia Antunes Vargas, coordenadora-geral de Processos Seletivos, ambos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Na abertura da reunião, a reitora Sandra Goulart Almeida destacou que o objetivo desse debate na UFMG é promover melhor aproveitamento das vagas na Universidade pelos estudantes que saem da educação básica e outros interessados em fazer um curso superior. “Pretendemos adotar novas alternativas de ingresso, para, entre outras finalidades, reaproximar a UFMG da educação básica, por meio de diálogo e interação mais consistentes”, afirmou Sandra, que esteve acompanhada pelo vice-reitor Alessandro Moreira e pelo pró-reitor de Graduação, Bruno Teixeira.

No modelo de avaliação seriada, uma das possibilidades que a UFMG considera, os candidatos são testados ao fim de cada um dos três anos do ensino médio por meio de provas com questões discursivas e de múltipla escolha.

Madureira:
Madureira: isonomia e universalidadeFoto: Raphaella Dias | UFMG

Matriz atualizada
O decano de Ensino de Graduação (o cargo corresponde ao de pró-reitor) ressaltou que o PAS foi adotado pela UnB em 1996 e que o rendimento acadêmico dos estudantes que ingressam pelo programa é muito parecido com o daqueles que entram por meio do vestibular tradicional (a UnB deixou o Sisu há três anos). O PAS conta com um documento norteador e uma matriz que orienta os critérios de elaboração dos exames, considerando área, objeto de conhecimento, habilidades e competências que se pretende avaliar. Segundo Diego Madureira, a matriz foi atualizada em 2022 para atender às novas características do ensino médio.

“Fazemos ajustes regularmente, mas respeitando sempre os princípios fundamentais”, disse o professor. Uma mudança que já está decidida é a definição de mais de um tema para as redações nos exames: um deles tem relação maior com as ciências humanas, o outro, com exatas e tecnologias.

Quando abordou os desafios enfrentados na condução do PAS, Madureira citou a gestão concomitante de três processos de avaliação (para estudantes das três séries do ensino médio), a necessidade de garantir isonomia, impessoalidade e universalidade – desde 2020, qualquer pessoa pode se inscrever, independentemente de estar ou não matriculada em escola regular –, e a atração de maior número de candidatos. “A diversidade de modos de seleção ajuda a combater a redução, nos últimos anos, da procura por cursos de graduação”, afirmou.

Cassiano Amorim:
Amorim, da UFJF: exames em cinco cidadesFoto: Raphaella Dias | UFMG

Interesse crescente
Cassiano Amorim, da UFJF, também mencionou o esvaziamento de alguns cursos de graduação, em cenário diferente do que se via até pouco tempo atrás. Segundo ele, também por isso é importante debater formas de ingresso. “Precisamos fazer juntos, nas universidades públicas, uma reflexão sobre esse tema”, convocou o pró-reitor de Graduação.   

Cinquenta por cento dos novos alunos da UFJF entram pelo Programa de Ingresso Seletivo Misto (PISM), implementado em 1999, e a outra metade, pelo Enem/Sisu. A universidade aplica o exame também nas cidades de Governador Valadares, Muriaé, Volta Redonda e Petrópolis, as duas últimas no estado do Rio de Janeiro.

“O interesse pelo PISM tem crescido, e nós tentamos manter forte vínculo com as escolas, que participam das discussões sobre o modelo e de sua divulgação. As propostas de mudanças no programa são debatidas com professores, escolas e o poder público”, conta Amorim. Segundo ele, ainda há certa incompreensão, por parte sobretudo das famílias, acerca da natureza da avaliação seriada, cujas diretrizes não devem ser confundidas com os currículos escolares. O dirigente contou ainda que a evasão de estudantes é menor entre os que ingressam na UFJF por meio do Pism.

Em breve apresentação, a coordenadora de Processos Seletivos, Katiúscia Vargas, informou que, para participar da seleção pelo Pism, é obrigatório estar matriculado no ensino médio, que os estudantes podem pleitear uma vaga também pelo Enem, simultaneamente, e que alunos reprovados na 2ª ou na 3ª série são excluídos do processo de seleção.

Katiúscia:
Katiúscia: desafios pedagógicos e logísticosFoto: Raphaella Dias | UFMG

Segundo a professora da UFJF, as provas vão ganhando pesos diferentes ao longo do processo, e na última etapa as questões abertas são relacionadas às disciplinas que são mais valorizadas para o curso escolhido. Katiúscia destacou que as provas, ainda que menores que as do Enem, são também aplicadas em dois dias.

Ela relatou que o Pism impõe grandes desafios pedagógicos e logísticos e que a preparação para os exames, que são realizados em dezembro, tem início em março. A coordenação de processos seletivos trata como um caso especialmente bem-sucedido o atendimento especial para pessoas com deficiência.

Discussões em 2023
De 1970 até 2013, a UFMG preparava e aplicava seus próprios vestibulares. Em 2014, a Universidade aderiu ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), com exceção para os cursos que demandam processos específicos, como os do campo das artes e três cursos de licenciatura: Formação Intercultural de Educadores Indígenas (Fiei), Licenciatura em Educação no Campo (Lecampo) e Letras-Libras. 

A mesa-redonda realizada integra diretrizes aprovadas pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) em reunião realizada no dia 22 de junho deste ano, para avaliação e discussão sobre processos seletivos para a graduação na UFMG. 

A discussão sobre os processos seletivos para a graduação da UFMG ocorrerá até o fim de 2023. Serão criados grupos de trabalho sobre o tema, e a Universidade planeja promover encontros como o de hoje e audiências públicas. Além da comunidade universitária, representantes das redes de educação básica serão convidados a participar do processo.

Após as discussões, uma proposta de novas formas de ingressos será analisada pelo Cepe. Se ela for aprovada pelos conselhos superiores, os exames começariam a ser aplicados para alunos do primeiro ano do ensino médio não antes de dezembro de 2024. Assim, os primeiros estudantes selecionados por meio desse modelo seriado ingressariam no início do ano letivo de 2027.

"Nosso compromisso, caso a UFMG aprove a seleção por avaliação seriada, é o de promover ações orgânicas capazes de fortalecer nossa articulação com a educação básica", afirmou o pró-reitor de Graduação, Bruno Teixeira.  

Itamar Rigueira Jr.