Pesquisa e Inovação

Bioimpressão reduz uso de animais em pesquisas científicas

Trabalho realizado pelo professor Dawidson Assis Gomes, do ICB/UFMG, viabiliza métodos alternativos

Bioimpressão é alternativa em áreas diversas
Bioimpressão é alternativa em áreas diversas Foto: Acervo da pesquisa

                                                                                                    

No início de março, o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) publicou uma resolução no Diário Oficial da União que proíbe o uso de animais vertebrados, exceto seres humanos, em pesquisa científica, desenvolvimento e controle de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes que utilizem em suas formulações ingredientes ou compostos com segurança e eficácia já comprovadas cientificamente. Nesse contexto, métodos alternativos reconhecidos encontram um cenário de possibilidades. Esse é o caso do trabalho realizado pelo professor Dawidson Assis Gomes, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG.

O pesquisador integra a equipe do laboratório Biolink, que atua na área de engenharia de tecidos epiteliais. Dawidson Gomes conta que, há muitos anos, o laboratório trabalha com engenharia de tecidos para a criação de peles artificiais para o tratamento de queimaduras e testes de citotoxidade, cujo objetivo é avaliar se um composto é prejudicial às células.

A iniciativa é desenvolvida no contexto da Rede Mineira de Engenharia de Tecidos e Terapia Celular (Remettec), criada com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig). O Biolink adquiriu recentemente uma bioimpressora capaz de reproduzir tecidos orgânicos e mimetizar órgãos animais. “A ideia do projeto também era substituir testes em animais, já prevendo essa mudança na legislação brasileira”, afirma Dawidson.

Maior precisão
Antes da aquisição da impressora, os tecidos eram produzidos pela equipe de pesquisadores. Porém, quando isso é feito manualmente, pode haver problemas de reprodutibilidade. O equipamento garante a padronização, o que confere maior precisão aos resultados. “Então, o que esperamos resolver e desenvolver nos próximos anos é a reprodução do modelo manual, observando como ele se comportará sendo produzido em uma impressora 3D”, explica Gomes. 

O objetivo é criar uma forma de automatizar o processo para torná-lo reprodutível em três dimensões. A bioimpressão possibilita a redução do uso de animais na pesquisa com a síntese de organoides, pequenos órgãos capazes de mimetizar o órgão humano, ou até desenvolver o chamado organ-chip ou human-chip – técnica que possibilita simular a comunicação entre os órgãos. 

Doação de órgãos e terapias contra o câncer
Outra possibilidade é o avanço na área de doação de órgãos. "Esse tipo de tecnologia pressupõe que, no futuro, não será preciso o transplante de uma pessoa para outra. Talvez a gente consiga pegar células do próprio indivíduo e reconstruir um órgão sob demanda, totalmente compatível. Isso seria um sonho! Essa área tem se desenvolvido muito nesse sentido, e a impressão 3D ainda tem auxiliado muito nessa direção”, conta Gomes. Ele explica, ainda, que a bioimpressora tem capacidade de imprimir em resoluções muito precisas, com a organização mais próxima do real, o que aumenta as chances de compatibilidade. 

Atualmente, a Remettec também desenvolve pesquisas em terapias contra o câncer. O professor da UFMG explica que é possível desenvolver in vitro como “um câncer em escala reduzida”. Segundo ele, assim pode-se testar a efetividade das drogas utilizadas no tratamento com maior precisão e de forma mais condizente com o cenário real em três dimensões. "Muitas vezes, a droga utilizada nas células plaqueadas em duas dimensões pode ser muito eficaz, mas, quando testamos em células em três dimensões, não é”, detalha.

Com Assessoria de Comunicação da Fapemig