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Candidatos ao governo de Minas apresentam propostas para geração de emprego

10,8% dos mineiros estão desempregados, segundo IBGE

Carteira de Trabalho
Carteira de Trabalho Marcello Casal | Agência Brasil

A Rádio UFMG Educativa questionou os candidatos ao governo de Minas Gerais sobre suas posições em relação ao mercado de trabalho no estado e os desafios enfrentados para geração de emprego e renda, para entender quais são as propostas dos candidatos neste sentido. A solicitação foi feita a todos os candidatos ao governo estadual, sendo que Antônio Anastasia (PSDB), Dirlene Marques (PSOL) e Romeu Zema (NOVO), até a data de veiculação desta matéria, responderam aos questionamentos. Confira abaixo as respostas na íntegra: 

Cerca de um milhão e duzentos mil mineiros estão fora do mercado de trabalho, segundo a última pesquisa do IBGE que tem como base os meses de abril, maio e junho, o que representa uma taxa de desemprego de 10,8%. Neste sentido, quais são as propostas do candidato para reduzir o desemprego no estado e aumentar a geração de renda em Minas Gerais?

Antônio Anastasia (PSDB): De fato este dado é uma realidade. Nós temos hoje um governo estadual que é hostil à criação de empregos. Não há um ambiente favorável para atração de empresas para Minas Gerais ou mesmo para expansão das atuais empresas no estado. Ao contrário, o que se vê é a paulatina e gradual retirada de empresas que saem do nosso estado para estados vizinhos, a inação e incompetência completas do governo estadual para reter as empresas em Minas Gerais. Como sabemos que o emprego depende fundamentalmente da presença de empresas, fica muito difícil gerar empregos nesse ambiente. Por isso, é fundamental revertermos este quadro, criando um ambiente de confiança e credibilidade no estado, devolvendo ao estado um ambiente amigável para geração de empregos. No meu período de governo, de 2010 a 2014, nós criamos cerca de 550 mil empregos no estado, e no período atual foram extintos quase 300 mil empregos, então isso lamentavelmente é muito grave. Nós vamos trabalhar com inovação, com tecnologia e com aquelas áreas onde o emprego pode vir de maneira mais rápida, como o turismo onde o primeiro emprego é muito possível e onde a parceria com o setor privado é extremamente viável.

Dirlene Marques (PSOL): O desemprego e a situação do trabalhador são temas caros à nossa candidatura ao governo de Minas Gerais. Sabemos que o desemprego cresceu 77% em Minas Gerais, entre 2014 e 2018, também segundo dados do IBGE. Minas Gerais perdeu, nesse período, 265 mil empregos formais. É um cenário bastante significativo, que foi intensificado a partir de 2014, com o corte dos gastos públicos adotados no começo do segundo governo de Dilma Rousseff. Além disso, o governo também passou a dificultar o acesso ao seguro-desemprego, enquanto eram destruídas 1,5 milhão de vagas CLT em 2015 e outros 1,3 milhões de empregos formais em 2016, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE. Tivemos ainda o aumento das tarifas públicas, tornando a crise do emprego como a realidade que temos hoje. Para enfrentar esse cenário, de maneira planejada e efetiva, contaremos com políticas estaduais que garantam a geração de empregos, além de redirecionar alguns aspectos da economia regional para o real desenvolvimento de Minas Gerais, de acordo com os interesses da sociedade. Desse modo, implantaremos frentes de trabalho em obras de infraestrutura, recuperação de estradas e áreas urbanas, em edificações de interesse social e na recuperação do meio ambiente. Investiremos ainda em recuperação e valorização nos polos de trabalho, como os de calçados, confecções, malharia e moveleiro, situados em diferentes regiões de Minas Gerais. Nosso programa de governo também trabalhará a expansão do mercado de trabalho via programas de apoio à Economia Solidária, como alternativa de gestão e de geração de trabalho e renda. E como medidas de proteção aos desempregados, teremos parcelas maiores ou suplementares do seguro desemprego e vale-transporte, além de subsídios no consumo de energia elétrica das famílias.

Romeu Zema (NOVO): A melhor forma de combatermos o desemprego é trabalhar por um ambiente economicamente sadio que estimule o empreendedorismo e o investimento da iniciativa privada, seja através da manutenção e prosperidade das empresas já ativas ou proliferação de novos negócios. Minas tem hoje um dos maiores ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - de todo o Brasil, perde em competitividade para outros estados e afugenta empresas. É muita burocracia, muito imposto. Uma das minhas propostas, se eleito, é trabalhar a favor de um estado que seja parceiro e não hostil aos que querem produzir e trabalhar. Outra questão tem a ver com a qualificação profissional. Em vários setores, há vagas disponíveis, mas não há pessoas com qualificação para preenchê-las. Em uma visão de longo prazo, precisamos investir maciçamente na educação e ampliar a oferta de especializações para preparar essas pessoas para o mercado de trabalho. As parcerias com o setor privado, com organizações e instituições são sempre muito bem-vindas.

A maior taxa de desocupação foi registrada na população entre 18 e 24 anos. Os jovens se deparam com dificuldades de conseguir emprego em virtude de um mercado desaquecido e da falta de experiência. Quais medidas o candidato pretende tomar para reduzir esta taxa e melhorar o cenário para que estas pessoas consigam efetivamente se inserir no mercado de trabalho?

Antônio Anastasia (PSDB): Esta é a realidade que temos hoje de fato, não só em Minas, mas no Brasil: a dificuldade do chamado primeiro emprego, onde o jovem, por não ter experiência, tem dificuldades de arrumar a sua colocação. Qual deve ser o papel do poder público: melhorar a qualificação desse jovem, possibilitar a intermediação, ou seja, a oferta de emprego onde existe e a necessidade desse jovem e, ao mesmo tempo, realizar um trabalho muito integrado para focalizar os cursos, principalmente os cursos técnicos de qualificação, nas regiões do estado onde haja demanda para aquelas necessidades. Exemplo: cursos voltados para agricultura nas regiões agrícolas, na área metalúrgica aonde existem as siderúrgicas, e assim por diante. O estado tem várias regiões específicas com atividades econômicas próprias e estes tem sempre uma situação melhor de emprego. Canalizar os jovens para essas regiões e ao mesmo tempo reforçar sua qualificação, combatendo a evasão do ensino médio, que é um dos grandes problemas que temos hoje em Minas Gerais. A parceria com o setor privado será muito importante, e essa parceria pode se dar em segmentos de criação de empregos mais rápidos, como na área do turismo.

Dirlene Marques (PSOL): A relação da força de trabalho jovem e o impacto da crise econômica que estamos vivendo é um ponto de especial atenção em nosso programa de governo. Entre nossas propostas, estão a revisão e adequação, para dar maior dinamismo e efetividade, a programas que capacitam e inserem jovens no mercado de trabalho, além de garantir acompanhamento adequado dessas ações. Em relação à profissionalização de nossos jovens, pensando em uma capacitação melhor estruturada e efetiva, nosso programa de governo prevê financiamento às prefeituras para criação de escolas municipais profissionalizantes. Também implantaremos programas direcionados aos jovens, em ensino médio e profissionalizante.

Romeu Zema (NOVO): Novamente, voltamos à questão do investimento prioritário na educação de base e de cursos de qualificação para preparar jovens para o mercado de trabalho. Sem priorizarmos esse pilar, não temos como avançar  no combate ao desemprego. E, é claro, as medidas para estimular a economia em contrapartida também serão cruciais para conseguirmos bons resultados. Agora, do ponto de vista dos setores de inovação e tecnologia, Minas é notadamente um celeiro de cérebros, e uma grande parte desses empreendedores é jovem, com muita motivação para trabalhar, o que tem atraído à vinda de grandes empresas para cá. A explosão das startups são um exemplo de como modelos de negócio de baixo custo podem fazer grande diferença na economia do estado. Iremos facilitar o ambiente para essas empresas e estimulá-lo para que novos postos de trabalho sejam gerados. Isso gera benefícios diretos e indiretos para o nosso estado.

Olhando os números do mercado de trabalho no estado, há uma diferença entre a empregabilidade de brancos e negros, e de homens e mulheres, diferença perceptível inclusive na remuneração. Enquanto o rendimento médio mensal dos homens é de 2.145 reais, a média das mulheres é de 1.593 reais. Além disso, a diferença de inserção de pretos e pardos em relação aos brancos ainda permanece. De que forma o candidato pode mudar esta situação? Quais são as propostas para reduzir a desigualdade de oportunidades e as diferenças salariais?

Antônio Anastasia (PSDB): Esta distorção de fato existe e ela é intolerável. Nós devemos combatê-la de todas as formas possíveis. E ela é combatida através da oferta de oportunidades. As oportunidades devem ser oferecidas de tal modo que estes segmentos da população que tem maior vulnerabilidade salarial tenham uma compensação. Então, programas especiais e destinados especificamente para os segmentos na área da qualificação técnica e profissional, oferta específica de empregos, tudo é possível fazer para nós reduzirmos estas diferenças que de fato não se coadunam com o século 21.

Dirlene Marques (PSOL): Sabemos que igualdade não é nossa atual realidade. Embora muitos tentem mascarar esse fato, principalmente nas relações de trabalho. É fato que as mulheres vivem uma dupla jornada de trabalho e, muitas vezes, ocupam postos mais baixos no quadro salarial. Também é visível o racismo institucional em nosso país, colocando pessoas de grupos raciais ou étnicos em situação de desvantagem no acesso a benefícios gerados pelo Estado e por demais instituições e organizações, conforme bem aponta e define o Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCR). Nosso governo será favorável a mecanismos que definam punição contra a desigualdade salarial entre homens e mulheres, além da desigualdade salarial provocada por preconceito racial. Defendemos ainda projetos que garantam a fiscalização, a cargo da Receita Federal do Brasil e do Ministério do Trabalho, dessas irregularidades. Somos ainda defensores da promoção do direito ao trabalho via concursos públicos com cotas para as mulheres, de modo a cada vez mais diminuir essa desigualdade brutal. Ainda com o propósito de reparar esse cenário equivocado, defendemos a inclusão do quesito igualdade de gênero para pontuação nos editais para os contratos públicos, consultorias e outras formas de convênio do estado.

Romeu Zema (NOVO): O preconceito possui origem sociocultural. Cabe ao estado assegurar o cumprimento da lei quando ela tiver que ser aplicada, nos casos em que for transgredida. Cabe ao estado dar sempre o bom exemplo, começando pelos seus servidores. Quanto às desigualdades salariais e de inserção no mercado entre sexos e raças, acredito que o papel do estado seja garantir as mesmas condições a todo cidadão. Só assim, com o tempo, iremos conseguir avançar nesta questão.

 

Confira também a reportagem de Gabriele Álvares sobre o cenário do desemprego em Minas. Especialistas apontam os desafios e as soluções para o problema.