Pesquisa e Inovação

Centro sediado na UFMG vai promover pesquisa sobre inteligência artificial aplicada à saúde

Nova estrutura, resultado de múltiplas parcerias, foi apresentada hoje na Faculdade de Medicina

Virgílio Almeida apresentou as linhas de pesquisa do CIIA-Saúde
Virgílio Almeida apresentou as linhas de pesquisa do CIIA-Saúde Raphaella Dias | UFMG

O enorme desafio de ampliar e aperfeiçoar o atendimento à saúde no Brasil é uma das motivações para a criação do Centro de Inovação em Inteligência Artificial em Saúde (CIIA-Saúde), que vai funcionar em cinco instituições de pesquisa brasileiras. A UFMG apresentou sua unidade em evento na tarde desta quarta, 9, na Faculdade de Medicina, que também marcou o início de suas atividades científicas.

Além de pesquisa e desenvolvimento para a criação de protótipos e start-ups, o Centro vai transferir tecnologia e conhecimento para o mercado e formar pessoas para atuação na integração entre áreas como ciência da computação, medicina, engenharia e ciências biológicas.

Fernando Reis
Fernando Reis: "mãos dadas"Raphaella Dias | UFMG

O CIIA-Saúde é fruto de uma Aliança Estratégica (modalidade de parceria que tem unido universidades e a iniciativa privada) com a Unimed-BH e conta com o apoio da Fapesp e do governo do estado, por meio da Fapemig. Integram também o projeto as empresas Intel, Splice e Kunuma. 

“Estamos trabalhando de mãos dadas com o setor privado, visando contribuir para melhorar o atendimento à saúde da população”, disse o pró-reitor de Pesquisa da UFMG, professor Fernando Reis. O diretor-presidente da Unimed, Frederico Peret, afirmou que aquele era um “momento histórico” e que o Centro é mais uma iniciativa de valorização, por parte da cooperativa, da “inovação que gera benefícios para todos”.

Frederico Peret:
Frederico Peret:  benefícios para todosRaphaella Dias | UFMG

Alamanda Kfoury, diretora da Faculdade de Medicina, ressaltou que o encontro expressava “o que é a UFMG, a relevância da Universidade para Minas Gerais e para o Brasil”. O subsecretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Felipe Atiê, destacou a pesquisa feita na UFMG nas áreas de ciência da computação e saúde e afirmou que o governo do estado confia no projeto para “ajudar a resolver o problema da saúde pública”. Camila Ribeiro, diretora de Planejamento e Finanças da Fapemig, classificou o CIIA-Saúde como um “arranjo inovador”, que envolve instituições e empresas de diversas partes do Brasil.

Qualidade de vida e medicina personalizada
A oportunidade de criação do CIIA-Saúde na UFMG foi gerada por edital lançado pela Fapesp. O trabalho é multidisciplinar e multi-institucional, como salientou o professor emérito da UFMG Virgílio Almeida, responsável pela vertente acadêmica no comitê executivo do Centro. Os eixos principais na busca por inovação são prevenção e qualidade de vida, diagnóstico e rastreamento, medicina terapêutica e personalizada, gestão de sistemas de saúde e epidemias e acidentes.

Virgílio:
Virgílio: tecnologia estratégicaRaphaella Dias | UFMG

“A Inteligência Artificial é uma tecnologia estratégica e está no centro das preocupações de todos os países. E temos que estar cientes de que nem sempre uma tecnologia desenvolvida fora do Brasil será capaz de funcionar para uma população de 220 milhões de pessoas”, enfatizou Virgílio, ao justificar a importância da pesquisa e do desenvolvimento em IA e saúde nas instituições brasileiras. O professor, que é vinculado ao Departamento de Ciência da Computação do ICEx, mencionou a participação do governo do estado, desde o início, e da Unimed – além dos recursos financeiros, segundo ele, a cooperativa dispõe de dados e conhecimento sobre os problemas de saúde que serão fundamentais para o CIAA. Chamada publicada em agosto deste ano atraiu 19 projetos candidatos ao apoio do Centro.

Foram apresentados dois empreendimentos de pesquisa na área da saúde que recorreram à inteligência artificial. A professora Gabriela Miana, da Faculdade de Medicina, fez exposição sobre estudo transdisciplinar em que a IA ajudou a identificar a idade eletrocardiográfica de pacientes, associada a maior ou menor risco de eventos e mortalidade. Pedro Alzamora, graduado em Ciência da Computação e doutorando na Faculdade de Letras, mostrou projeto que resultou numa plataforma de coleta, enriquecimento, modelagem e análise de dados sobre a covid-19 oriundos de fontes diversas.

Integrantes do Centro apresentaram brevemente a face educativa e de divulgação científica da iniciativa. O objetivo central é despertar em estudantes, pesquisadores e profissionais de saúde o interesse pela aplicação da IA, com ênfase na responsabilidade e na ética. O CIIA conta com uma plataforma de cursos e utiliza também as redes sociais para divulgar suas atividades e abordar temas relacionados ao objeto amplo da nova estrutura.

Confiança no agente artificial

"Dispositivos tecnológicos devem apoiar a relação de confiança que é crucial no cuidado de um enfermeiro ou médico com a saúde do paciente. A confiança se estende aos dispositivos e deve ser crítica, ou seja, o paciente deve considerar suas próprias vulnerabilidades e também as da tecnologia”, afirmou a professora italiana Laura Candiotto, da Universidade de Pardubice, na República Tcheca. Ela fez uma exposição sobre ética na utilização da tecnologia em saúde.

Laura
Laura Candiotto: dispositivos são veículos de cogniçãoRaphaella Dias | UFMG

Filósofa especializada em emoções e tecnologia, Laura pesquisa interações on-line e dispositivos tecnológicos assistivos que lançam mão da Inteligência Artificial. Ela usou o exemplo de pessoas com deficiências, tópico de algumas de suas pesquisas. “Essas pessoas têm uma relação estreita com seus dispositivos. Mais que algo instrumental, os agentes artificiais são veículos de cognição e ajudam a mente a alargar os limites do corpo, que passa a externalizar processos e conteúdos mentais”, afirmou a professora.

Laura Candiotto define os dispositivos como “tecnologias de acesso”, na medida em que criam possibilidades de as pessoas se abrirem para o mundo. Ela citou também a dimensão afetiva desse processo. “Não há dualismo entre a integração cognitiva e a dimensão afetiva. A integração é plena, o usuário experimenta o mundo através dela”, salientou.

A pesquisadora afirmou que a confiança da pessoa torna o dispositivo tecnológico torna o dispositivo transparente e que essa confiança não pode se apoiar apenas no que funcionou bem no passado. “A integração plena do usuário com a tecnologia assistiva depende de uma disposição orientada para o futuro”, concluiu Laura Candiotto.

Itamar Rigueira Jr.